Gestão da UFPel recebe estudantes indígenas e quilombolas manifestantes
A gestão da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) recebeu no Gabinete da Reitoria, na manhã desta quarta-feira (16), um coletivo de estudantes quilombolas e indígenas, bem como representantes do Diretório Central de Estudantes (DCE), que realizaram manifestação a respeito da Bolsa Permanência.
O Programa Bolsa Permanência, gerido pelo Ministério da Educação (MEC), oferece bolsas no valor de R$ 900 mensais para estudantes indígenas e quilombolas. No entanto, o MEC não abre inscrições para o Programa Bolsa Permanência desde 2019. Para suprir essa lacuna, a UFPel concede, a partir de recursos próprios, bolsas no valor de R$ 500 para os estudantes que ingressam na Universidade via processo seletivo especial para estudantes indígenas e quilombolas. Independentemente da Bolsa Permanência, todos os estudantes quilombolas e indígenas têm direito a vagas na Casa do Estudante Indígena e Quilombola – ou auxílio moradia de R$ 400 -, auxílio alimentação, rancho mensal, transporte e auxílio creche para quem tem filhos. Além disso, a UFPel custeia um ano de bolsa de R$ 900 para conclusão de curso de quem recebe a Bolsa Permanência do MEC, para aqueles que precisam estender seu tempo de formação (a bolsa do MEC inclui apenas o tempo exato do curso, mais um ano; a UFPel oferece um ano adicional além desse).
Em janeiro de 2021, após muita pressão dos movimentos sociais, o Ministério da Educação (MEC) reabriu inscrições no Programa Bolsa Permanência, mas liberou apenas cinco bolsas para estudantes indígenas e quilombolas da UFPel, no valor de R$ 900 cada. Contudo, a Universidade precisaria de 26 bolsas para atender a toda a demanda. Os manifestantes reivindicam o aumento de R$ 400 nas bolsas ofertadas pela UFPel para que se equiparem ao valor da Bolsa Permanência. No entanto, a UFPel passa por uma situação de dificuldades financeiras sem precedentes, tendo tido 20% do orçamento de 2021 cortado – acumulando dívidas de R$ 5 milhões – e um orçamento de 2022 igual ao de 2019. Ao mesmo tempo em que reconhece e valoriza a demanda, a UFPel enfrenta um cenário financeiro difícil. A gestão terá uma nova reunião durante a tarde, quando discutirá a demanda trazida pelos estudantes e avaliará, caso ela seja acatada, onde fará – ainda mais – cortes para que isso ocorra.
Permanência
Um dos integrantes do grupo, o estudante de Medicina Wellington Silva, destacou que os indígenas e quilombolas deveriam ter prioridade. “Estou lutando pelo meu povo, pela minha etnia, pela minha existência. Mais importante do que entrar na Universidade é o aluno sair formado. Se estamos aqui hoje é em nome da justiça reparatória. Este é um primeiro ato em defesa da permanência e não vamos parar por aqui”, pontuou. Na ocasião, os estudantes destacaram também pontos como ampliação de vagas, monitorias anteriores ao início do semestre e espaço para a criação de um Diretório Acadêmico (DA) Indígena e Quilombola, além de um serviço de Disque Denúncia voltado a questões de racismo.
O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Paulo Ferreira Júnior, destacou no encontro que a Universidade tem feito um enorme esforço para manter a assistência estudantil. Ao explanar sobre o cenário que a UFPel enfrenta, o gestor explicou que, em situações anteriores, havia bloqueio orçamentário, mas os valores, aos poucos, chegavam. No ano passado, porém, o que houve foi um corte. “A UFPel sofreu um ataque sem precedentes. E isso ocorre em todas as instituições de ensino superior públicas”, afirmou. Mesmo com a situação desalentadora, o auxílio estudantil sempre foi um compromisso. “Temos tentado manter com todo o esforço possível. Esse é um ano de sobrevivência”, disse, reafirmando que as demandas da Universidade não encontram eco em Brasília.
A coordenadora de Diversidade e Inclusão da UFPel, Airi Sacco, destacou que a instituição concorda com as reivindicações dos estudantes. “A questão é ‘como’. Precisamos necessariamente pensar sobre isso. É o nosso papel”, disse, salientando que muitas das demandas apresentadas têm sido objeto de trabalho incansável da gestão, mas que precisam ser melhoradas.
Participaram do encontro, ainda, a vice-reitora Ursula Silva, no exercício da reitoria, e o pró-reitor de Extensão e Cultura, Eraldo Pinheiro. Um novo encontro com os estudantes está agendado para as 19h desta quarta.