Gestão da UFPel submete ao Consun criação de três novos cursos
A gestão da Universidade Federal de Pelotas apresentará ao Conselho Universitário, na reunião da próxima terça-feira (5), proposta para criação de três novos cursos de graduação. Design de Jogos, Letras – Libras e Literatura Surda e Tecnologia em Comércio Exterior poderão se juntar, caso aprovados, aos outros 100 cursos já ofertados pela UFPel para a formação de cidadãos à sociedade brasileira.
As novas propostas de cursos, entretanto, trazem consigo, de acordo com a vice-reitora Ursula Silva, a tônica da responsabilidade social da universidade pública, por meio da acessibilidade, da inclusão e da democratização do acesso e permanência dos estudantes. Todos eles foram pensados para terem sua oferta noturna, de forma a atenderem uma parcela da população que muitas vezes se vê distanciada das atividades da universidade: os trabalhadores.
O movimento para a criação dos novos cursos vem sendo realizado desde o ano de 2021, quando a Administração Central da UFPel passou a realizar um profundo diagnóstico, junto às unidades acadêmicas, da oferta de graduação proporcionada pela instituição, com especial atenção a dados como a ocupação de vagas ofertadas e evasão, retenção e diplomação.
O cenário encontrado, segundo a pró-reitora de Ensino, Fátima Cóssio, é o de grande dificuldade na permanência dos estudantes no decorrer do curso, especialmente agravada pela crise social e econômica trazida pela pandemia de Covid-19. Fator importante nesse processo, que já era conhecido e discutido, é o fato de que a UFPel tem uma maciça oferta de cursos diurnos e integrais: apenas 20% das vagas da Universidade se encontram em atividades noturnas. “Somos a universidade federal brasileira com maior número de cursos integrais e o menor número de cursos noturnos”, pontua a pró-reitora.
Tal concentração de atividades no período diurno tornou-se um empecilho para que estudantes que precisaram voltar-se ao trabalho para complementar ou até mesmo manter a renda da família, um fenômeno bastante acentuado pela crise atual. “É impressionante a quantidade de estudantes que pedem para trocar para o noturno atualmente”, contextualiza a diretora do Centro de Ciências Sócio-Organizacionais, Isabel Rasia, unidade proponente do curso de Tecnologia em Comércio Exterior.
Além disso, outro dado vislumbrado na análise promovida é o de redução de pessoas interessadas nos cursos da UFPel. Fátima lembra que o número de candidatos concorrendo às vagas oferecidas pela Universidade está diminuindo, especialmente em cursos cuja inserção no mundo do trabalho é mais difícil. “Claro que devemos pensar uma formação ampla e integral, mas também temos que levar em consideração a ocupação pós-curso”, afirma.
“Nesse momento de crise, a Universidade precisa se repensar, se ressignificar, se reinventar”, diz a vice-reitora Ursula. Um movimento necessário, segundo a pró-reitora Fátima, é o de entrar em sintonia com as necessidades da sociedade, não como uma submissão ao mercado, mas mantendo-se como um espaço atrativo e indispensável ao desenvolvimento social.
“Ao não proporcionarmos espaços e possibilidades para essas pessoas estarem, acabamos as tornando invisíveis”, destaca a reitora da UFPel, Isabela Andrade. Criando essas novas alternativas de formação, a Universidade amplia a democratização do acesso ao ensino superior, alcançando dessa vez a classe trabalhadora, que acaba tendo que procurar na rede privada a formação desejada pois não encontra nas instituições públicas tal possibilidade. “Cursos integrais não permitem a presença de quem trabalha”, lembra Fátima.
Compartilhar novas possibilidades
Não foi apenas a oferta noturna o critério colocado para as propostas. Outro ponto importante levantado pelo chamado às unidades foi o de aproveitamento de infraestrutura existente, especialmente pelo não uso durante o período da noite, e o de readequação da força de trabalho entre os servidores já lotados na unidade: os novos cursos poderiam solicitar apenas dois novos docentes cada. Também foi pedido um estudo de campo, analisando o contexto profissional que o egresso virá a encontrar. “São cursos que não envolvem muitos custos”, explica a reitora.
A provocação às unidades acadêmicas iniciou em agosto de 2021, em reunião do Fórum de Diretores, oportunidade em que todos esses pontos – oferta de cursos noturnos, com possibilidade de migração de cursos de turno ou a criação de novos, acessibilidade e inclusão social e formação de trabalhadores – foram levantados pela gestão da UFPel.
Das discussões fomentadas, foram encaminhadas essas três propostas. Os méritos acadêmicos dos projetos pedagógicos foram aprovados pelo Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão (COCEPE) na última quinta-feira (30). O passo faltante, agora, para a criação dos cursos é sua aprovação no Conselho Universitário da UFPel, grande instância de decisão da instituição. A pauta será submetida ao grupo na próxima reunião, que ocorrerá na próxima terça-feira (5), às 9h, no Salão Nobre da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM).
Design de Jogos
Unir arte e tecnologia: com essa premissa, a proposta de novo curso trazida pelo Centro de Artes mira nos jogos a partir de um projeto instigante e inovador. O bacharelado em Design de Jogos optará não apenas pela programação dos jogos, mas sim em todo o desenvolvimento e processo de criação, unindo áreas como roteiro, narrativa, regras, estética, animação e trilha sonora.
“O mercado de jogos tem muito programador, mas pouca gente da área de design e gestão de projetos”, explica a professora Mônica Faria, uma das integrantes da comissão que elaborou o projeto pedagógico. Focando em uma área com grande potencial de expansão, o Design de Jogos aposta em multidisciplinariedade para oportunizar muitas trocas com outros cursos da área das artes e da tecnologia: o curso também contará com docentes do Centro de Desenvolvimento Tecnológico.
A ideia é que não apenas jogos digitais sejam desenvolvidos. O curso também contemplará jogos analógicos e também “jogos sérios”, voltados para atividades pedagógicas e terapêuticas. “Esperamos uma expansão, a formação de novas conexões”, diz o diretor do Centro de Artes, Carlos Walter Soares.
Com uma duração mínima de oito semestres, terá oferta de 25 vagas. Os estudantes serão selecionados por meio do Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE) e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Letras – Libras e Literatura Surda
Se o grande conceito nos novos cursos é acessibilidade e inclusão, um dos que mais o traduzem é a nova licenciatura em Letras com habilitação em Libras e Literatura Surda. De relevância social evidente e proposto a partir de um projeto altamente inclusivo, caso aprovado, será a primeira licenciatura em Libras do Rio Grande do Sul e o primeiro curso que inclui a formação em Literatura Surda no Brasil.
“Ele traz um impacto social muito grande, pois pensa na formação de pessoas que formam outras tantas para a inclusão”, salienta a pró-reitora de Ensino. A criação desse curso é uma demanda histórica na UFPel, remontado ao início da década de 2010, e foi uma meta proposta no programa de gestão escolhido pela comunidade na última consulta informal, em 2020.
O curso de graduação em Libras é o único dos propostos que precisará de nova infraestrutura, além de ter mais vagas docentes reservadas. No entanto, é considerado estratégico pela administração da Universidade. “Iremos atender uma demanda da comunidade”, explica Isabela, ao contextualizar que cerca de 25% da população brasileira tem algum tipo de deficiência, segundo dados do Censo de 2010.
O curso terá a duração mínima de nove semestres. Serão ofertadas 30 vagas anuais. Além do ingresso pelo Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE), com nove vagas, e do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com cinco, o projeto pedagógico prevê que 16 estudantes sejam selecionados por meio de processo seletivo específico.
Tecnologia em Comércio Exterior
A localização da Universidade Federal de Pelotas há poucos quilômetros da fronteira com o Uruguai e nas adjacências de portos, aeroportos e rodovias foi o motivador para a proposta do Centro de Ciências Sócio-Organizacionais, o curso de Tecnologia em Comércio Exterior. É uma região que pode, segundo a diretora do CCSO, se aproveitar muito de mão-de-obra qualificada para as transações comerciais internacionais.
Caso aprovado, será o primeiro tecnólogo na área em universidades federais brasileiras. A formação tecnológica, de acordo com Isabel, também é uma forma de proporcionar uma formação de nível superior rápida, trazendo uma capacitação aos trabalhadores, mais uma vez democratizando o acesso ao ensino superior. O curso também será uma oportunidade para uma segunda graduação para profissionais da Administração ou das Relações Internacionais, por exemplo.
O curso terá a duração mínima de quatro semestres. Serão oferecidas 40 vagas, que terão como métodos de seleção o Programa de Avaliação da Vida Escolar (PAVE) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu).