Projeto “Um museu para todos” realiza cerimônia de entrega dos Programas de Acessibilidade
Com o objetivo de elaborar Programas de Acessibilidade para seus museus institucionais – Museu do Doce, Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter (MCNCR) e Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG) –, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PREC) e a Rede de Museus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em outubro de 2019, deram início ao projeto “Um museu para todos: Programas de Acessibilidade”. Nesta quinta (10), às 9h, após mais de um ano de trabalho, os documentos foram entregues às instituições participantes em uma cerimônia on-line.
Além dos três museus institucionais, participaram do projeto o Memorial do Anglo, localizado no Campus Porto da UFPel, e o Museu da Baronesa, pertencente à Secretaria da Cultura da Prefeitura de Pelotas.
A equipe do projeto, coordenado pela professora Desirée Nobre, é formada por estudantes dos cursos de Terapia Ocupacional, História, Conservação e Restauro, Pedagogia, Ciências Biológicas e Artes Visuais da UFPel. Leandro Pereira, pessoa cega, aluno da Museologia e mestrando em Memória Social e Patrimônio Cultural, atuou como consultor. Todos os integrantes participaram de forma voluntária.
Sobre essa interdisciplinaridade, a coordenadora comenta que a “acessibilidade é uma área interdisciplinar e sendo os museus instituições que englobam, também, muitas áreas do conhecimento, é fundamental que estas áreas conversem entre si, dentro de suas especificidades, para que juntas consigam trabalhar de forma mais efetiva para alcançar a universalidade do acesso”.
Com o trabalho realizado pelo projeto “Um museu para todos”, os museus da UFPel se tornaram referência para outras instituições museológicas universitárias no que se refere a implementação de políticas institucionais de acessibilidade.
Etapas do projeto
A primeira etapa do projeto foi realizada em novembro do ano passado, quando integrantes do projeto visitaram os museus com o objetivo de realizar o diagnóstico das condições de acessibilidade para pessoas com deficiência. Os resultados das análises foram apresentados às equipes dos museus entre os meses de julho e agosto de 2020.
Devido a pandemia do novo coronavírus e a necessidade de distanciamento social, a apresentação dos resultados dos diagnósticos e as etapas posteriores do projeto foram realizadas on-line, por meio de webconferência.
Com os diagnósticos feitos e as potencialidades e fragilidades identificadas, a próxima etapa do projeto se constituiu na realização de oficinas de capacitação em acessibilidade cultural, que tiveram como público-alvo as equipes dos museus (outros servidores e estudantes também puderam se inscrever). Foram sete no total, que abordaram temas levantados pelos próprios servidores das instituições. Entre os assuntos tratados estavam o uso de linguagem simples, a descrição de imagens e a acessibilidade nos museus no pós-pandemia.
No fim de setembro começou o desenvolvimento dos Programas de Acessibilidade, a última etapa do projeto, que foi dividida em duas partes. Na primeira, foram realizados encontros entre a equipe do projeto e os servidores dos museus, nos quais discutiram temas referentes à acessibilidade e às instituições.
Para as reuniões, os integrantes do “Um museu para todos” se dividiram em duplas interdisciplinares. Cada par ficou responsável por um museu.
Na segunda parte, os Programas de Acessibilidade foram produzidos pela equipe do projeto a partir dos resultados dos diagnósticos e das reuniões. A entrega dos programas para os museus ocorre nesta quinta-feira, 10 de dezembro, em uma cerimônia on-line.
Plano Museológico e Programa de acessibilidade: o que são?
Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), um Plano Museológico é o documento que “define conceitualmente a missão, a visão, os valores e os objetivos da instituição, e alinha, por meio de um planejamento estruturado e coerente, seus programas, seus projetos e suas ações”.
Com a sanção da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), em julho de 2015, foi incluída no Estatuto dos Museus (Lei nº 11.904/09) a obrigatoriedade para os Planos Museológicos dos museus de todo o país apresentarem um Programa de Acessibilidade, que consiste em um conjunto de políticas que buscam promover o acesso universal às instituições.
Embora se tenha um programa específico para a acessibilidade, algumas ações são transversais ao Plano Museológico.
Nada sobre nós sem nós
No final do século 20, nos Estados Unidos, surgiu o lema “Nada sobre nós sem nós” (“Nothing about us without us”, em inglês), que se tornou um símbolo da luta pela inclusão e dos direitos da pessoa com deficiência.
A frase, que também representa a luta de outras minorias, significa que todas as decisões que dizem respeito às pessoas com deficiência devem ser tomadas com a participação das próprias pessoas com deficiência.
Para que um Programa de Acessibilidade seja realmente efetivo, é necessário a participação de uma pessoa com deficiência em sua elaboração, pois serão pessoas como ela que realmente utilizarão os recursos disponibilizados. “Por mais que uma pessoa sem deficiência tenha experiência [na área de acessibilidade], ela jamais saberá qual será a verdadeira necessidade da pessoa que tem algum tipo de deficiência”, conta Leandro Pereira, consultor do projeto “Um museu para todos”.
A acessibilidade cultural em pauta na UFPel
A acessibilidade cultural começou a ser pauta na UFPel entre os anos de 2011 e 2012, com o projeto de extensão “O Museu do conhecimento para todos: inclusão cultural para pessoas com deficiência em museus universitários”, coordenado pela professora Francisca Michelon, atual pró-reitora de Extensão e Cultura da Universidade.
Em 2018, a Comissão de Apoio ao Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (CONAI) solicitou às Pró-Reitorias da UFPel que desenvolvessem planos de acessibilidade. Em julho de 2019, foi publicado o plano da PREC.
O documento, elaborado pela professora Desirée Nobre, prevê uma série de ações a serem realizadas até o segundo semestre de 2021. Entre elas está o desenvolvimento de Programas de Acessibilidade para os museus institucionais da UFPel.
No fim do ano passado, foi lançado o e-book “Um museu para todos: manual para programas de acessibilidade”, também de autoria de Desirée Nobre. A possibilidade de pôr em prática o conteúdo do manual e de cumprir uma das metas do plano de acessibilidade da PREC foram os motivadores para a criação do projeto de extensão “Um museu para todos” através da Rede de Museus da UFPel.