Prédio do Conservatório de Música será integralmente da UFPel
O Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) vai, enfim, ter casa própria. A Prefeitura de Pelotas e a Universidade chegaram a um acordo e todo o prédio da rua Félix da Cunha será integralmente da UFPel. Em contrapartida, o Sanep, que atualmente ocupa o andar térreo do imóvel, ganhará o espaço da antiga Justiça do Trabalho, na rua Lobo da Costa, entre Barroso e Alberto Rosa. A troca deve ocorrer já no começo do ano.
O anúncio foi feito em Coletiva à Imprensa, concedida pelo reitor Pedro Curi Hallal e pela prefeita Paula Mascarenhas, no começo da tarde desta quarta-feira (4), no Salão Milton de Lemos, do Conservatório de Música.
O prédio do Conservatório de Música foi construído entre 1880 e 1881 e é um ícone no município. Possui área total de 1.163m2, sendo 581,8m2 por pavimento. A reivindicação de que o prédio fosse doado à Universidade é uma pauta antiga. “Essa é uma imensa conquista, que valoriza a cultura e as artes na cidade de Pelotas”, comemorou o reitor.
Desde 1983 o Conservatório foi incorporado à UFPel – porém, a transferência da entidade à UFPel até então não havia contemplado o imóvel. “O Conservatório é aquele prédio. Na ocasião, se doou a imaterialidade, mas a materialidade nunca havia sido transferida”, observou o pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Otávio Peres.
De acordo com o reitor, trata-se de mais um compromisso concretizado pela gestão da Instituição, que iniciou o processo de negociação assim que assumiu mandato. A articulação envolveu direção do Centro de Artes, coordenação do Conservatório, Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e Sanep. “Nada mais simbólico do que fazer esse anúncio aqui no Salão Milton de Lemos, que estava interditado quando assumimos a Universidade. Ele foi revitalizado para os cem anos do Conservatório e agora chega o grande presente de aniversário”, destaca.
A primeira ação no local será dotar o prédio acessibilidade vertical – ou seja, um elevador deverá ser instalado para permitir acesso principalmente ao Salão Milton de Lemos, espaço tradicional de concertos e recitais. A plena utilização do pavimento térreo ainda será detalhada. No entanto, o fato é que a conquista permitirá intervenções de forma mais tranquila. “Como havia o impasse sobre o prédio, até manutenções corriqueiras eram dificultosas”, assinala o pró-reitor.
Em sua fala na coletiva à imprensa, a prefeita de Pelotas disse sempre ter reconhecido o mérito da demanda da Universidade, de ter o prédio inteiro, mas frisou o fato de, ao mesmo tempo, ter de atender à necessidade do Sanep, de ter um prédio adequado e central. Ela fez um histórico das negociações e ressaltou a cessão recíproca de uso por tempo determinado, o que depois será transformado em cedência. “Foi uma luta pela mesma causa e agora Pelotas ganha um presente, o Conservatório com todo o prédio e o Sanep bem acolhido”, observou. O atendimento ao público do Sanep continuará no endereço atual, saindo do prédio a parte administrativa da autarquia.
O aumento da capacidade da oferta de vagas nos cursos de extensão do Conservatório foi destacado pela diretora da unidade, Leonora Oxley Rodrigues, na coletiva à imprensa. Ela frisou ainda a possibilidade de oferecer, a partir de agora, acessibilidade ao prédio, e sublinhou também a instalação de um Memorial e a criação de espaço para os corais da Universidade.
Presentes também na mesa de autoridades da coletiva a diretora-adjunta do Centro de Artes, Nádia Senna, o diretor-presidente do Sanep, Alexandre Garcia, e a presidente da Associação dos Amigos do Conservatório, Regina Fiss.
Novo local para o Sanep
O prédio da antiga Justiça do Trabalho, na rua Lobo da Costa, 585, é cedido à UFPel pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU), que fará a doação do imóvel à Prefeitura. A Coordenação de Desenvolvimento de Concursos (Coodec) e o programa Idiomas sem Fronteiras (IsF), que atualmente ocupam o local, serão transferidos para o Campus Anglo.
Prédio do Conservatório de Música
Ano de Construção: entre 1880 e 1881
Uso anterior: residência
Localização: Rua Félix da Cunha, 651
Espaço total: 1.163m2
História: o local foi residência do Visconde de Jaguari, Domingos de Castro Antiqueira. O Conservatório foi fundado em 1918 e, em 1961, recebe autorização federal para funcionamento dos seus Cursos Superiores de Música. Em 1969, foi figura determinante para criação da UFPel. A entidade foi definitivamente incorporada à Universidade em 1983, quando a Prefeitura concedeu o uso do prédio. Em agosto de 2012, o Salão Milton de Lemos foi interditado por questões estruturais no entrepiso de madeira. Em 2018, foi reformado e retomou suas atividades integralmente.
Uma história rica
O Conservatório foi fundado em 4 de junho de 1918, por Alcides Costa e Francisco Simões, e inaugurado em 18 de setembro do mesmo ano, em uma época em que Pelotas era a segunda mais importante cidade do Estado e já possuía uma sólida tradição cultural, tendo sido no século 19 o maior polo cultural do Rio Grande do Sul.
O início de suas atividades se deu com o ensino do piano, violino, canto, teoria e solfejo, sendo a primeira instituição oficial fundada especialmente para o ensino da música na cidade; a segunda entidade no gênero a ser fundada no Rio Grande do Sul, e a quinta no Brasil.
O compromisso do Conservatório de Música com a promoção da cultura e a construção da cidadania permeia suas atividades desde a fundação. Como tomou para si a tarefa de promoção e organização dos concertos que se realizavam na cidade, tanto dos alunos da escola como de artistas convidados, a trajetória do Conservatório de Música é parte indissociável da própria história da música na cidade.
Desde sua criação, o Conservatório de Pelotas foi a única instituição para o ensino musical com atividade ininterrupta na cidade. Seu salão de concertos é um dos mais antigos no Brasil em atividade.
Desde então, o trabalho de diretores, professores, funcionários e comunidade em geral tem sido no sentido de manter a instituição em pleno funcionamento, prestando serviços e oferecendo música à comunidade.
Entre os artistas que se apresentaram em concertos organizados pelo Conservatório estão Bidu Sayão, Conchita Badía, Eudóxia de Barros, Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Zola Amaro, Claudio Arrau, Wilhelm Backhaus, Arthur Rubinstein, Francisco Mignone, Hans-Joachim Koellreuter, Sebastian Benda, Nathan Schwartzman, Jean Jacques Pagnot, Bagumil Sykora, Gaspar Cassadó, Jacques Thibaud, Nelson Freire, Miguel Proença, Roberto Szidon, Mariana Mihai, Marlos Nobre e Olinda Allessandrini.
Em 1982, foi tombado municipalmente. Em 2004, foi promulgada a Lei nº 12.133, que o declarou integrante do Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul.