Data Inova aponta que a comunidade acadêmica deseja ver a inovação como prioridade
Grande parte da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) ainda não possui muito conhecimento sobre inovação. Inversamente proporcional está o desejo em saber mais. Esse é um dos destaques do levantamento obtido pela pesquisa Data Inova, realizado na UFPel para obter um diagnóstico sobre a temática na instituição – e, a partir dela, traçar estratégias e ações. O relatório apontou que para 88% das pessoas – cerca de nove a cada dez – a inovação deve ser uma prioridade na Universidade. O conteúdo pode ser acessado em português e inglês.
Liderado pela Superintendência de Inovação de Desenvolvimento Interinstitucional (Inova), o Data Inova foi realizado de julho a outubro de 2023 e reuniu quase três mil respostas – um cálculo amostral robusto, conforme a organização da pesquisa. Os dados obtidos foram apresentados à comunidade nesta quinta-feira (15), no Pelotas Parque Tecnológico.
O levantamento apontou que os estudantes – a maior parte dos respondentes da pesquisa, com 1.971 participações – demonstraram baixa familiaridade com inovação, apesar de serem público-chave.
Foram identificadas desigualdades no acesso e conhecimento sobre inovação. Mais de 70% dos participantes da pesquisa ainda não sabe onde procurar informações sobre a temática na universidade. O conhecimento é maior entre docentes (49,5%), servidores do Hospital Escola (37,5%) e TAEs (36%). Apenas 19,8% dos estudantes disse saber onde procurar.
O acesso à informação relacionada à inovação não varia significativamente de acordo com a raça ou cor, mas o gênero influencia. 30% dos homens e 38,7% que preferiram não informar o gênero sabem onde obter informação, contra apenas 25% das mulheres e 19% outros.
A maior parte (76,5%) desconhece a Política de Inovação da UFPel e 72,7% não sabe o que é um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT). O conhecimento dos servidores sobre o NIT é diferente em cada Unidade Acadêmica.
Mais de 60% dos participantes não sabe que a UFPel tem uma incubadora de base tecnológica (Conectar) e o vínculo institucional influencia esse conhecimento. Docentes (65,7%) e TAEs (55,9%) são os públicos que mais conhecem a Conectar, ao mesmo tempo em que apenas 29,2% dos estudantes e 24% dos terceirizados tem esse conhecimento. Há cursos de graduação, mestrado e doutorado que não sabem da existência da incubadora.
Ao mesmo tempo 71,8% não sabe a diferença entre uma empresa incubada e uma Empresa Júnior. Dois em cada três respondentes não sabem que a UFPel é líder em depósito de patentes no Rio Grande do Sul. O conhecimento sobre esse aspecto ainda é limitado, mesmo entre unidades estratégicas da administração superior.
Metade da comunidade acadêmica (53,2%) ainda não sabe o que é uma transferência de tecnologia. Metade (50,5%) desconhece que é possível desenvolver projetos em parceria com empresas ou órgãos públicos e receber recursos financeiros por esses projetos. Entre docentes e técnicos das unidades acadêmicas, essa percepção varia amplamente.
Projetos de economia solidária e tecnologias sociais da UFPel ainda são pouco conhecidos pela comunidade (apenas 24%). Por outro lado, mais de 72% sabe que Pelotas possui um Parque Tecnológico.
Para o superintendente de Inovação, Vinícius Campos, os dados são desconfortáveis e mostram que a comunidade acadêmica ainda está longe do tema, especialmente quando se trata dos estudantes. “É um problema grave que teremos que enfrentar”, disse, pontuando que será preciso estabelecer ações que aproximem as pessoas dos espaços e práticas de inovação. Atuar para equiparar o conhecimento da temática entre as unidades acadêmicas e trabalhar questões de gênero também foram aspectos destacados pelo superintendente.
Experiência das pessoas com inovação
Um dos dados expressivos do levantamento foi a respeito do oferecimento de alguma disciplina sobre inovação, propriedade intelectual ou empreendedorismo: ao mesmo tempo em que 81% disse que seu curso não possui, 80,1% respondeu que gostaria que houvesse. A mesma inversão se dá em relação a cursos e treinamentos na temática: 76,6% disse que nunca realizou e 79,6% gostaria de realizar.
A inovação como prioridade institucional foi amplo consenso entre os respondentes: 88% considera importante. “Não há o que se discutir, independentemente do vínculo e do nível de formação, especialmente entre os estudantes. Mesmo nos cursos voltados às humanidades, e também entre graduação e pós-graduação”, comemorou o gestor. Segundo ele, todos os espaços da UFPel têm capacidade de desenvolver esse aspecto. “Há uma demanda por isso”, avalia.
Ações
A partir do diagnóstico, a UFPel assume o compromisso de transformar dados em ações concretas e inclusivas. Dentre as propostas estão a ampliação da oferta acadêmica sobre inovação, cursos para democratização e ampliação do conhecimento, ações específicas por gênero, parcerias interinstitucionais, ampliação das estruturas administrativas, comunicação estratégica e aperfeiçoamento da governança.
Na ocasião, foi anunciado lançamento da disciplina “Inovação: a universidade na sociedade”, para graduação e pós-graduação, com inscrições previstas para o segundo semestre de 2025. Também serão oferecidos os cursos “Propriedade Industrial e Redação de Patentes”, “Redação e Tramitação de Pedidos de Patentes na UFPel” e “Contratos e Convênios”, além de eventos da Inova em unidades da UFPel. As inscrições também devem ser no segundo semestre. O superintendente anunciou ainda a elaboração de um edital de composição do Comitê Institucional de Propriedade Intelectual da UFPel prevendo 80% de mulheres e pessoas de gêneros e grupos socialmente subrepresentados.
Inspiração e desafios
Na ocasião, a pró-reitora de Planejamento e Administração da UFPel, Aline Paliga, disse esperar que os dados inspirem a Universidade a novas ações que fortaleçam o planejamento institucional e a cultura da inovação.
O diretor de Novos Ambientes de Inovação da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), Artur Gibbon, destacou que muitas vezes as comunidades acadêmicas não têm conhecimento das ações realizadas no segmento. “Precisamos ser assertivos. Acreditamos muito no empreendedorismo que vem das universidades”, afirmou.
A criação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) há pouco mais de 20 anos e a trajetória da UFPel na área, com perspectivas que hoje são realidade, foi lembrada pelo diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin. O gestor destacou a boa posição da UFPel em vários indicadores em relação a outras instituições de ensino superior do país, resultado de um esforço coletivo que envolve a comunidade acadêmica. O diretor ressaltou que hoje a Fapergs investe cerca de 30% do orçamento em inovação. “Continuamos em recursos humanos e pesquisa básica, mas também na inovação, para transformar esse transbordamento de conhecimento em riqueza para a sociedade. E a universidade tem um papel importantíssimo nisso”, sublinhou.
A reitora da UFPel, Ursula Silva recordou que, ao discutir o tema na gestão passada, surgiu o desafio de definir o que é inovação. “Uma pergunta básica, mas um conceito desafiador, tanto quanto o racismo e a inclusão”, observou. De acordo com ela, o tema passa não só por uma gestão com propósito inovador, mas pela sintonia com a comunidade, que vai se envolvendo com as proposições do setor que lidera a inovação. “Hoje, falarmos de inovação junto a ensino, pesquisa e extensão já é algo dado. Que possamos pensar em um trabalho em rede. Nos vemos como o Sul do Sul, mas também como Brasil inteiro na disseminação do conhecimento e da inovação”, disse.
A coordenadora-geral de Planejamento Acadêmico, Pesquisa e Inovação do Ministério da Educação, Mariana Ramos Reis Gaete disse, no evento, que o Data Inova carrega uma intenção poderosa, que é a de orientar as ações da Universidade. “As boas decisões vêm de bons diagnósticos”, afirmou, destacando que o MEC tem buscado fortalecer os NITs e, nesse processo, se perguntado se as comunidades acadêmicas têm o conhecimento desses Núcleos. “Nós do MEC parabenizamos a iniciativa. Que sirva de inspiração a outras universidades”.
Destaque
O Data Inova é o primeiro e maior levantamento institucional sobre inovação em universidades brasileiras. A pesquisa foi destaque no Ranking das Universidades Empreendedoras de 2023 pela Brasil Júnior – Confederação Brasileira de Empresas Juniores, sendo reconhecida como uma “Boa Prática de Inovação”.
Novos arranjos
Precedendo a apresentação do Data Inova, a vice-presidente do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec), Juliana Crepalde, conduziu uma palestra que abordou as oportunidades para novos arranjos de inovação em universidades. A partir da experiência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ela falou sobre o papel dos Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) para que a inovação aconteça, a necessidade de colaboração em rede – setor privado, academia, sistema de investimento – para um sistema nacional de inovação forte e verticais da gestão da inovação em universidades: capital intelectual, tecnologia, capital estrutural, infraestrutura e capital relacional.
A palestra ainda abordou o Marco Legal de CT&I, política de inovação dos ICT, visão estratégica para os NITs, alianças estratégicas e a política de inovação da UFMG. “Tecnologias com robustez científica, como as produzidas nas universidades, exigem capacidade de fazer gestão e um sistema nacional forte para diminuir o risco da tecnologia gerada”, pontuou. Juliana também destacou a necessidade de conhecer o DNA da instituição para fortalecer arranjos de inovação mais aderentes e precisos.
Assista
Tanto a palestra quanto a apresentação do relatório do Data Inova podem ser assistidos no canal da UFPel no YouTube.
Fotos: Kátia Helena Dias/CCS UFPel