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UFPel integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Olivicultura e do Azeite Brasileiros

Emanuel da Costa (E), mestrando, e prof. Vagner Costa (D) desenvolvem trabalhos no INCT – OABras

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) é a líder do Componente Sul – que engloba Rio Grande do Sul e Santa Catarina – no recém-criado Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Olivicultura e do Azeite Brasileiros (INCT – OABras). A instituição esteve envolvida na criação da proposta, aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e que investirá, em cinco anos, aproximadamente R$ 7 milhões para solucionar gargalos tecnológicos e impulsionar a cadeia da olivicultura nacional.

Os Institutos Nacionais são estruturas de pesquisa que desenvolvem articuladamente propostas em rede, de caráter interdisciplinar, e com objetivos e metas claramente definidos e mensuráveis, com foco nas áreas estratégicas para o país e em pesquisas na fronteira do conhecimento.

O INCT – OABras reunirá um total de 35 integrantes de seis Unidades Descentralizadas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (UDs/Embrapa) e de outras 11 instituições de pesquisa nacionais e internacionais.

O programa de trabalho do novo Instituto é composto por seis áreas de pesquisa e desenvolvimento: sistema de produção, fitopatologia, química e metabolômica, agroindustrialização e produção de azeite de oliva; análise sensorial e estudos do consumidor; coprodutos do aproveitamento do bagaço de oliva e de folhas provenientes da poda.

Dentro de sua expertise, a UFPel irá atuar em pesquisa e desenvolvimento em manejo e tratos culturais da olivicultura. No projeto, estarão abarcados aspectos como fenologia (que estuda o desenvolvimento da planta em relação ao ambiente), adaptação climática das cultivares, uso de fitorreguladores de crescimento, ponto de colheita das cultivares, poda e uso de coprodutos (como bagaço para alimentação animal). O trabalho é encabeçado pelo Programa de Pós-Graduação em Agronomia – área de concentração Fruticultura de Clima Temperado, sob a coordenação do professor Vagner Brasil Costa, com a participação dos cursos de Zootecnia e Medicina Veterinária.

Na UFPel, onde está sediado o único PPG do país com uma disciplina exclusiva para olivicultura, estudantes de mestrado e doutorado já alinhavam trabalhos como fenologia, biologia floral e uso de produtos fitorreguladores visando principalmente a alternância de produção; polinização e frutificação e a influência do clima nesses aspectos. Intensidade de poda, nutrição e adubação também estão sendo pesquisados.

Potencial de crescimento
A oliveira é uma cultura em expansão, destaca o professor da UFPel, coordenador do componente Sul do INCT – OABras. De acordo com Costa, o Rio Grande do Sul possui seis mil hectares dedicados à olivicultura, principalmente na metade Sul, nos municípios de Encruzilhada, Canguçu e Pinheiro Machado. A expectativa é de que neste ano o estado produza 500 mil litros de azeite.

O azeite nacional tem qualidade reconhecida por prêmios internacionais conquistados nos últimos anos, mas a produção local ainda é incipiente. Segundo o pesquisador, a produção nacional representa apenas 0,24% do azeite consumido no país. O Brasil é o segundo maior importador mundial tanto de azeite quanto de azeitona de mesa. “Nosso consumo é o azeite importado, que muitas vezes está fora do padrão. Há um mercado muito amplo para crescimento”, projeta.

Desenvolvimento
Originária do Mediterrâneo, de um clima com 450mm de chuva, a oliveira no Brasil passa por adaptações. Nesse cenário, a expectativa do INCT é desenvolver o setor produtivo com adaptação de cultivares ao clima local e que consigam se polinizar entre si, diminuir a alternância de produção e aumentar a produtividade. Pelas suas características fisiológicas, as oliveiras alternam-se em períodos de alta e baixa produção. A intenção dos pesquisadores é buscar um equilíbrio e uma média de produção maior. O intuito é desenvolver a cadeia produtiva, diversificar para os produtores e ampliar a produção de azeite extravirgem de qualidade.

Dentro do projeto, um dos objetivos é a criação de um software CND (Compositional Nutrient Diagnosis) para diagnose e composição nutricional, com a proposta de auxiliar o produtor a alcançar os objetivos de produção, qualidade e adubação. Ao se inserir os dados, a tecnologia apontará como deve ser a adubação para que a produção chegue ao ponto pretendido com a qualidade necessária. A tecnologia será desenvolvida em parceria entre UFPel, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Embrapa e a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).

Estudos em expansão
A proposta é ampliar os trabalhos de pesquisa que já vêm sendo feitos pelas instituições, que, a partir da participação no Instituto, podem ser qualificados com os recursos para equipamentos, reagentes e outros insumos necessários para o desenvolvimento dos estudos. O Instituto Nacional também deve ser um agregador dos esforços realizados em todo o país, tendo em vista que as instituições trabalharão integradas.

Na área Sul, junto à UFPel atuarão a Embrapa Clima Temperado – na área de análise físico-química e qualidade do azeite -, com coordenação de Rogério Jorge; a UFSM – que irá trabalhar no segmento de nutrição de solos e adubação -, sob a liderança de Gustavo Brunetto; e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no auxílio à questão de campo e manejo da oliveira e coleta de materiais de azeite para análise em Pelotas, sob responsabilidade de Alberto Brighentti.

Para Costa, além da formação de mão de obra qualificada, o trabalho do INCT – OABras também é significativo pela transferência de tecnologia. “Repassamos aos produtores de uma cultura ainda incipiente para buscar maior rentabilidade e sustentabilidade da agricultura, com diversificação de matriz produtiva”, destacou.

O Instituto
O INCT – OABras integra o Programa dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, caracterizado pela excelência de sua produção científica e tecnológica, e atuação na fronteira do conhecimento com alto impacto em áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional.

A iniciativa favorece os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) nas áreas de Saúde e Bem-Estar (ODS 3), Trabalho Decente e Crescimento Econômico (ODS 8), Indústria, Inovação e Infraestrutura (ODS 9) e Consumo e Produção Responsáveis (ODS 12).

Instituições participantes: Embrapa Agroindústria de Alimentos, Embrapa Florestas, Embrapa Pecuária Sudeste, Embrapa Clima Temperado, Embrapa Acre, Embrapa Agricultura Digital, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação (ICEPi), Universidad de la Republica (UDELAR), do Uruguai, Universidade de Estudos de Turim (UNITO), da Itália, e Instituto Nacional de Investigação e Tecnologia Agrária e Alimentar (INIA), da Espanha, com apoio do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive) e outros produtores de azeite.

 

*Com informações da Embrapa Agroindústria de Alimentos