Valorização das raízes negras é foco de convênio entre UFPel e Unesc
Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) irão se unir formalmente em prol da valorização e visibilidade da cultura negra. As instituições já colaboram mutuamente por meio das ações desenvolvidas pelo Museu Afro-Brasil-Sul (MABSul/UFPel) e Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi/Unesc) e agora passarão a construir caminhos e possibilidades em pesquisa e extensão para enaltecer e colocar em evidência as raízes negras. Além disso, a parceria irá possibilitar a troca de ideias e experiências em busca da promoção de políticas afirmativas.
Representantes de ambas as instituições estiveram reunidos na manhã desta segunda-feira (18), no gabinete da reitoria da UFPel, para tratar da cooperação mútua, cujo documento está em tramitação e será assinado em breve.
O encontro contou com a presença da reitora Isabela Andrade, da vice-reitora Ursula Silva, da coordenadora do MABSul, Rosemar Lemos, da coordenadora-adjunta do MABSul, Jocelem Fernandes, da coordenadora de Inclusão e Diversidade da UFPel, Airi Sacco, da chefe do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade, Ediane Acunha, da coordenadora de Arte, Cultura e Patrimônio da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Prec), Eleonora Santos, da coordenadora da Secretaria de Diversidades e Políticas de Ações Afirmativas da Unesc e membro do Neabi, Janaína Vitório, da coordenadora do Neabi, Normélia Lalau de Farias, do mestrando em Educação e pesquisador do Neabi e do MABSul, Douglas Franco, e dos estudantes Renan Lemos e Carine Jaques.
A coordenadora do MABSul, professora Rosemar Lemos, falou sobre a constituição do Museu enquanto espaço de valorização das raízes negras no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, locais em que o papel do negro na história não é de fato conhecido. Assim, o MABSul vem para apresentar outras formas de representação e contribuir na educação com novas referências que evidenciem a cultura negra, construindo um novo momento que reflita em políticas e ações possíveis.
A coordenadora do Neabi, professora Normélia de Farias, faz coro ao reforçar que a história dos negros do Sul é pouco conhecida. “Precisamos resgatar e mudar esse contexto histórico. Queremos oportunizar àqueles que estão em formação acadêmica esse conteúdo a mais” e, para isso, o MABSul faz diferença, aponta. “É um prazer estar junto a vocês buscando uma grande contribuição para negros e não-negros. A partir do momento em que se conhece a cultura do outro, se passa a respeitá-lo bem mais”, salientou.
A coordenadora da Secretaria de Diversidades e Políticas de Ações Afirmativas da Unesc, Janaína Vitório, destacou que o espaço que se forma entre as duas instituições é precioso, na medida em que é possível trocar ideias e articular ações, estendendo a relação para além do Museu. A gestora, que também é psicóloga, destacou a importância do resgate da cultura para a saúde mental dos estudantes negros, que é uma condição de permanência nos bancos acadêmicos.
O pesquisador Douglas Franco dedica-se ao estudo do racismo estrutural na educação, em especial na formação de professores. Ele ressalta que as referências padrão são repletas de branquitude e que o trabalho com educação, patrimônio, vivências, culturas e todas as experiências, sentidos e entendimentos devem passar por outras perspectivas e percepções de mundo que sempre estiveram presentes, mas foram apagadas. Isso passa por ferramentas antirracistas para o trabalho dos professores e a atuação do Museu dentro das comunidades.
A vice-reitora Ursula Silva destacou a potência do Museu enquanto espaço de reconhecimento de um trabalho e uma história, construído a muitas mãos. A aproximação das duas entidades, salienta, é um reconhecimento do projeto e mostra que as possibilidades podem ser ampliadas. “Precisamos mudar a epistemologia. Nosso olhar é viciado no eurocentrismo e autores da decolonização estão alijados”, pontuou, destacando que iniciativas que fomentem a questão dentro dos currículos, ampliação de cotas e outras ações precisam de força institucional. “Temos feito análises e estudos, mas é preciso outros lugares que pensem junto com a gente. Temos muito a fazer juntos”, disse. “Sabemos que são passos lentos, mas bem consolidados, para que construamos algo permanente”, reforçou a reitora Isabela Andrade.
A coordenadora de Inclusão e Diversidade da UFPel, Airi Sacco, explanou a respeito das ações já realizadas e perspectivas que a UFPel tem a respeito, em especial relacionadas a editais docentes. Apesar de a UFPel ser uma das universidades que mais aplica reserva de vagas para professores, busca ampliá-la para estimular, além do ingresso do estudante, a figura do negro em cargos de poder.
A coordenadora-adjunta do MABSul, Jocelem Fernandes, lembrou da necessidade respeito em sala de aula. “Somos pessoas intelectuais, mas essa intelectualidade não é aceita dentro de universidades. Essa mentalidade precisa ser criada, resultando em um espaço em que o estudante sinta que foi tratado com dignidade. Isso é muito sério e muito forte”, salientou.
Na ocasião, também foram discutidas a participação do MABSul na organização do Dia do Patrimônio, a necessidade de uma disciplina que aborde a temática da valorização negra e apoio às atividades do Museu, dentre outros pontos.