UFPel assina seu primeiro acordo de cooperação com empresa estrangeira
Um novo acordo de cooperação técnica assinado pela Universidade Federal de Pelotas promete encurtar distâncias; mesmo que essa nova parceria seja com o outro lado do mundo, na Austrália. No final do primeiro semestre de 2019, a UFPel assinou um documento inédito, com o qual estabelece laços de cooperação técnica com uma empresa estrangeira pela primeira vez.
O acordo une forças do Laboratório de Pesquisa em Farmacologia Bioquímica (Lafarbio), do Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos, com a empresa australiana Seleno Therapeutics, especializada em desenvolver e produzir fármacos que envolvam o elemento selênio.
Apesar de ter sido trazida para o plano formal há poucas semanas, o acordo é a tradução de cerca de três anos de atividades já compartilhadas entre pesquisadores de ambas as instituições. Os contatos começaram após apresentações de trabalhos em eventos científicos, quando tanto o laboratório quanto a empresa perceberam áreas de atuação afins.
Desde então, membros da equipe da Seleno Therapeutics, que tem sedes na Austrália e na Dinamarca, já estiveram na Universidade Federal de Pelotas para terem contato com a estrutura e as pessoas envolvidas na pesquisa. Além disso, já foram realizados trabalhos em conjunto, que fortaleceram o vínculo entre os grupos e despertaram o desejo em formalizar essa parceria por meio de um acordo de cooperação técnica. “É uma forma de trazer mais impacto para a UFPel, para o programa de pós-graduação [em Bioquímica e Bioprospecção] e aos pesquisadores”, pontua a professora Ethel Wilhelm, uma das responsáveis pela pesquisa, que trabalha no projeto conjuntamente com a professora Cristiane Luchese.
A partir da assinatura, a empresa australiana ficará responsável por fornecer novas moléculas de selênio, que serão encaminhadas para a UFPel, local onde, a partir dessas estruturas, serão desenvolvidas as formulações para, posteriormente, serem testados em animais. “Dependendo do sucesso, aí podemos começar a pensar em testes em pessoas”, explica Ethel.
Iniciativa inédita
No entanto, a consolidação do acordo de cooperação demandou um trabalho intenso e articulado entre diversos setores da Universidade, afinal este seria o primeiro do gênero envolvendo a UFPel e uma empresa estrangeira. “Tínhamos que entender, inclusive, como funciona o registro de empresas na Austrália”, conta Glênio Couto, servidor do Núcleo de Proteção Intelectual e Patentes, estrutura ligada à Coordenação de Inovação Tecnológica da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação.
As negociações começaram em fevereiro deste ano, para que a assinatura fosse realizada apenas em junho. Nesse meio tempo, foram diversos feitos contatos e um grande esforço de pesquisa na área do direito internacional. Além disso, foi fundamental a colaboração das Coordenações de Relações Internacionais (CRInter) e de Convênios e Contratos, ligadas à Agência de Desenvolvimento Interinstitucional, que, entre outras coisas, possibilitou a tradução das documentações necessárias.
A formalização, por meio do documento, protege tanto a Seleno Therapeutics, que traz para a pesquisa conjunta uma patente já registrada, quanto a UFPel, que poderá ser cotitular em qualquer depósito de patente realizado a partir do desenvolvimento do trabalho. E, caso chegue ao mercado, a Universidade receberá também os royalties advindos do uso.
“Estamos muito felizes com o acordo”, diz Cristiane. De acordo com as líderes do projeto na UFPel, esse acordo trará uma grande troca de conhecimento, visto que a empresa também é formada por pesquisadores. O intercâmbio também será de pessoas, visto que estão previstas ações de mobilidade para ambos os países – Brasil e Austrália.
Há a perspectiva, além disso, de que, como desenvolvimento do trabalho, sejam gerados produtos finais e medicamentos baseados em selênio para o tratamento de problemas de pele. “Não teríamos como chegar ao mercado tão facilmente se não fosse por meio de acordo como esse”, explica o coordenador de Inovação Tecnológica, Vinícius Campos.
Compostos de selênio para tratamento de dermatites
As pesquisas que serão desenvolvidas têm por finalidade o desenvolvimento de novas formulações farmacêuticas para o tratamento da dermatite atópica, processo alérgico de pele que atinge muito a população infantil. A dermatite atópica, segundo as docentes, não possui um tratamento de grande eficácia, pois tem muitos efeitos colaterais e não atinge a causa da doença. Por isso, só pode ser usado por um tempo limitado.
Novos compostos de selênio têm sido promissores em testes para o tratamento desse quadro, tratando os sintomas sem muitos efeitos adversos e trazendo até mesmo panoramas de cura. O acordo prevê que sejam preparadas novas fórmulas envolvendo o selênio, que serão testadas em animais, para revelar sua eficiência, eficácia e segurança, a partir de uma expertise já garantida pelo grupo da UFPel.