Festival do Livro encerra com “Oráculo Literário”
“Escolha uma carta e ela te trará um poema”. Essa era a premissa do Oráculo Literário, uma das atrações do Marca Página – Festival Nelu do Livro, promovido pelo Núcleo de Editora e Livraria da Universidade Federal de Pelotas (Nelu/UFPel). Oferecida ao público no último dia do evento, que ocorreu de 19 a 23 de junho, no espaço da Livraria e Editora UFPel (Rua Benjamin Constant, 1.071 – antiga Brahma), a atividade emocionou quem teve a oportunidade de deixar o destino escolher as palavras que ouviria em forma de poema.
Olhando o consulente direto nos olhos, Beatriz Helena da Rosa Pereira, mestre em Literatura Brasileira e mediadora de clubes de leitura, interpretava o poema selecionado. Para começar, o participante apontava o naipe, indicando o tema – paus (natureza), ouros (cotidiano), copas (sentimentos) e espadas (tempo). Depois, escolhia uma carta que correspondia a um poema. Wisława Szymborska, Adélia Prado, Fernando Pessoa, Eduardo Galeano e Ana Martins Marques foram alguns dos que tiveram palavras endereçadas a quem abriu os ouvidos.
A estudante de Design Gráfico Carolina Abukawa, 22 anos, revela que veio participar motivada pela curiosidade com o título da atividade e saiu surpresa com a reflexão que lhe proporcionou. “Foi acolhedor o jeito como ela [Beatriz] conversa com a gente e o cuidado que teve em escolher os poemas. Foi uma atividade muito calorosa”, disse. Para a estudante, o poema que ouviu reverberou ao abordar as perdas que ocorrem ao longo da vida. Segundo Carolina, justamente ouvir esse poema significou tirar um tempo para parar e pensar. “Às vezes o dia a dia está muito corrido. Não conseguimos refletir. No final do dia, o que sobrou da gente, da nossa essência?”, questiona.
Definindo-se como uma “leitora apaixonada”, Beatriz criou a brincadeira pensando em uma aproximação com o que as obras literárias têm a dizer. “Espero compartilhar com vocês o que os livros falam para mim”, disse, no início da atividade, garantindo que não havia nenhuma ligação com o tarô tradicional, mas uma mera conexão entre cada carta do baralho e um poema.
A programação do último dia prosseguiu com um bate-papo com o professor da Faculdade de Direito da UFPel, Bruno Rotta, que falou sobre “Transformar Tese/Dissertação em Livro”. Ele contou sobre a experiência de adaptar o conteúdo de suas produções acadêmicas para o formato de livro com a obra “Castigar e Corrigir no Rio Grande do Sul: histórias de crime, lei e prisões”, que será lançado em breve. O encerramento teve apresentação do projeto Agimos, coordenado pelo professor Leandro Maia, e do Coral da UFPel, e ainda a colagem, na fachada do prédio, de lambe-lambes produzidos por pessoas de todo o país tendo o livro como temática.
Múltiplas atrações
O Festival Nelu teve a proposta de oferecer atividades das mais diferentes naturezas em torno da mesma tônica: o livro. Falas, mesas-redondas, apresentações culturais, feira gráfica, intervenção artística, gastronomia e troca-troca de obras foram algumas das ações realizadas na semana do evento. Dentre os enfoques, estavam autores que publicam na Editora da UFPel – com maior número de downloads, publicações ou áreas mais recorrentes – e também livros infantis, a nova linha editorial do Nelu, inaugurada em 2022.
De acordo com a chefe do Núcleo, Ana Bandeira, a ideia era dar a conhecer o que o Nelu faz abordando o livro, atividade-fim de uma Editora e Livraria. A programação, disse, repercutiu e pessoas de vários cursos da Universidade e também da comunidade vieram conhecer o espaço, o que refletiu também no aumento da venda de obras. “Buscamos trazer o nosso entorno para dentro do Nelu. A casa ficou cheia ao longo da semana, então atingimos nosso objetivo”, avalia. Segundo ela, foi um momento de celebração, que contou inclusive com a presença de profissionais ex-bolsistas do Núcleo, discotecagem, atuação de projetos parceiros, exposição e comercialização de produtos ligados ao universo editorial, como cadernos, pôsteres e adesivos. A ideia é que mais edições do evento sejam realizadas futuramente. “Também há os momentos acadêmicos, mas queremos democratizar o acesso ao nosso ambiente e também convidar as pessoas para nos proporem coisas”, disse, adiantando que o próximo foco do Nelu é trabalhar em recursos de acessibilidade dos livros.