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Processo Seletivo Especial para Quilombolas e Indígenas chega à décima edição

Na busca por promover a inclusão social, a diversidade e a equidade, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) completa dez anos de Processo Seletivo Especial (PSE) para comunidades quilombolas e indígenas para ingresso em cursos de graduação. Atualmente, a UFPel tem mais de cem estudantes que ingressaram no ensino superior nessa modalidade.

Na noite do dia 14 e manhã do dia 15, 52 pessoas candidatas realizaram as provas de redação e entrevistas que selecionarão para dez vagas destinadas a quilombolas e dez para indígenas em 60 cursos. O resultado deverá sair na próxima semana.

Com uma edição anual, o processo tem vagas para ingresso no primeiro e no segundo semestres. A oferta é definida pela Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) a partir da demanda das comunidades. A UFPel está entre as primeiras instituições a propor um processo específico do tipo.

“O PSE é uma ação concreta e fundamental para a universidade inclusiva que defendemos”, destaca o pró-reitor de Ensino da UFPel, Antônio Maurício Alves. De acordo com o gestor, esse processo não se resume à reserva de vagas, pois em seu planejamento está prevista, por exemplo, a acolhida aos estudantes. O processo também é acompanhado de ações afirmativas que contribuem para a permanência. “A passagem de dez anos desse processo, além de um marco importante, é motivo de orgulho para a comunidade acadêmica da UFPel”, comemora.

Pró-reitora (E) recebe candidata indígena Tupinambá, que veio do Pará tentar uma vaga para Comércio Exterior

A pró-reitora de Ações Afirmativas e Equidade, Cláudia Daiane Molet, salienta a importância do PSE, fruto dos movimentos sociais indígenas e quilombolas, para a Universidade. “Possibilita que a UFPel tenha o privilégio de contar com essa população, com todas as sabedorias que esses povos trazem para dentro da instituição, oportunizando que possamos formar nossos estudantes também a partir dessa perspectiva”, destaca. Ao mesmo tempo, a gestora aponta que muitos avanços ainda precisam ocorrer. “Estamos conscientes disso e vamos trabalhar para que essas mudanças ocorram de fato e que essa presença indígena e quilombola dentro da UFPel seja percebida no nosso dia a dia, dentro da sala de aula, a partir, por exemplo, dos currículos”, pontua.

Segundo ela, a décima edição do processo, além de representativa da manutenção de uma política pública, é histórica. Nos próximos meses, haverá reunião de avaliação com as comunidades, visando a elaboração do próximo processo com ainda mais antecedência, de modo que as pessoas candidatas possam conhecer a cidade, a Universidade, os coletivos estudantis e a Casa do Estudante Indígena e Quilombola. A Proafe pretende ampliar o número de vagas do PSE, que começou com cinco e atualmente é de dez, para 20 dedicadas a indígenas e 20 para quilombolas. “É uma luta também conquistarmos a possibilidade de ter docentes indígenas e quilombolas para que possamos trazer os saberes, fazeres, essas epistemologias, para que possamos ter uma Universidade de fato democrática, cidadã e que dialogue com todos os povos”, salienta.

Shirawanã Alves, estudante de Medicina

Para Shirawanã Alves, de 28 anos, estudante do 12º semestre de Medicina, entrar pelo processo específico é uma conquista de grande relevância tanto para sua formação pessoal quanto para sua comunidade. “Através desse acesso, não só estou obtendo uma educação de qualidade, mas também tenho a oportunidade de trazer saberes e práticas de saúde que podem transformar a realidade da minha aldeia”, observa. Representante do povo Pataxó de Minas Gerais, aldeia Imbiruçu, salienta que o conhecimento adquirido ao longo do curso permitirá que contribua diretamente para a melhoria do atendimento médico, respeitando e valorizando as tradições e necessidades culturais de seu povo, além de servir como inspiração para outras gerações de indígenas a buscarem seus objetivos acadêmicos e profissionais.

Doutoranda do segundo ano em Sociologia, Nara Beatriz Matias Soares, 33 anos, ingressou na UFPel no segundo processo seletivo específico, no ano de 2016, no curso de Direito. “Com os conhecimentos adquiridos lá pude orientar muitos quilombolas a lutarem por seus direitos e terem acesso às informações”, conta. Oriunda da Comunidade Quilombola Manoel do Rego, em Canguçu, ela finalizou o mestrado em março de 2024 e nesse mesmo mês ingressou no doutorado, obtendo o primeiro lugar na seleção. “O processo seletivo especial me possibilitou realizar o sonho de cursar uma graduação e as demais etapas de uma vida acadêmica”, destaca.

Nara Beatriz Matias Soares, doutoranda em Sociologia

Durante a graduação, desenvolveu, sempre que possível, trabalhos sobre quilombolas, pois queria que todos conhecessem as comunidades, mesmo que fosse através de trabalhos acadêmicos. “Além disso, sei que me tornei inspiração para os demais quilombolas do meu município para quererem cursar uma graduação”, avalia. Segundo ela, o processo seletivo específico foi transformador, já que os quilombolas passaram a ter profissionais de todas as áreas ingressando e se formando, tendo a oportunidade de dar o retorno às suas comunidades. “Hoje temos profissionais nas áreas da saúde, ciências agrárias e exatas, entre outras, formados exercendo suas profissões, sendo frutos dessas ações afirmativas. Torço para que este número aumente cada vez mais e que haja políticas efetivas de ingresso e permanência nas instituições”.

Representatividade
Atualmente, estudam na UFPel pessoas oriundas de 12 etnias indígenas e 22 comunidades quilombolas, de várias partes do país.

São os povos Kaingang, Mbya Guarani, Omágua-Kambeba, Kokama, Baré, Tauriana, Nukini, Tuxá, Xacriabá, Kumauara, Pataxó e Apurinã.

Também fazem parte da UFPel as comunidades remanescentes de quilombos Passo do Lourenço; Quilombo dos Teixeiras; Quilombo Vó Ernestina; Quilombo Vó Elvira; Fazenda Gameleirinha – Quilombo Lagoa dos Anjos; Quilombo Casca; Quilombo Manoel do Rego; Quilombo do Serrote; Quilombo Santa Clara; Quilombo Boqueirão; Quilombo Sítio Veiga; Quilombo Kalunga; Comunidade Rincão do Quilombo; Quilombo Estância da Figueira; Quilombo Julio Borges; Quilombo Rincão do Couro; Comunidade Quilombola Coxilha dos Negros; Comunidade Quilombola Morada da Paz; Quilombo Vó Marinha; Quilombo Potreiro Grande; Comunidade Quilombola Ilha São José do Norte e Madureira; Comunidade Quilombola São Lourenço do Sul.

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