Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial: Luta e resistência
Nesta sexta-feira (21), o mundo celebra o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966 em memória ao Massacre de Sharpeville, na África do Sul, quando manifestantes negros foram mortos durante um protesto pacífico contra as leis do Apartheid.
Essa data é um marco fundamental para refletir sobre a persistência do racismo e discutir formas eficazes de combate à discriminação racial, visando a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Em diversos países, são promovidas ações educativas, eventos culturais e campanhas de conscientização para engajar a sociedade na luta contra o racismo. No Brasil, onde o debate tem ganhado força, a data impulsiona reflexões sobre inclusão, direitos humanos e políticas públicas.
Mais do que celebrar avanços, o dia também evidencia desafios persistentes, como o racismo estrutural e institucional. Valorizar as culturas negras, indígenas e de outros grupos historicamente marginalizados é essencial para garantir igualdade de oportunidades e combater práticas discriminatórias em todas as esferas sociais.
Proafe: Compromisso com a equidade na UFPel

Maiara Rodrigues, indígena Guarani da Tekoá Pinhalzinho (Planalto/RS), e Eliana Duarte da Rocha, da Comunidade Quilombola Santa Clara (Canguçu/RS), celebram sua formatura em Enfermagem e Psicologia pela UFPel.
Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o Conselho Universitário aprovou recentemente a criação da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe), uma das poucas iniciativas desse tipo no Brasil, especialmente entre as universidades do Sul do país.
A nova estrutura, proposta pela gestão recém-empossada, fortalece o compromisso da UFPel com a inclusão, a equidade e o combate a preconceitos e violências no ambiente acadêmico. Para a pró-reitora Daiane Molet, a criação da Proafe representa um marco histórico para a instituição. “Muito nos orgulha que, neste 21 de março, tenhamos a nossa Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade aprovada. Nosso objetivo é construir coletivamente políticas e práticas antirracistas, garantindo que indígenas, negros e quilombolas não apenas ingressem, mas se sintam acolhidos e pertencentes a esse espaço”, afirma Daiane.
Entre as iniciativas da Proafe, destacam-se ações voltadas à permanência de estudantes indígenas e quilombolas, incluindo uma resolução específica para esse público, além de apoio interdisciplinar e acompanhamento psicológico e social.
A UFPel também realizou, no início do mês, a 10ª edição do Processo Especial de Ingresso para esses grupos, reforçando o compromisso com a diversidade acadêmica. Além disso, foi promovido o primeiro Ciclo de Educação Antirracista, que ofereceu formações contínuas sobre o tema.
Outra medida importante foi o encontro aberto para a criação de um protocolo de prevenção e combate a todas as formas de violência na UFPel, reunindo diversos setores da comunidade acadêmica. A iniciativa resultará na estruturação de políticas e protocolos eficazes contra racismo, capacitismo, etarismo, LGBTQIA+fobia e violências de gênero.
Pesquisas e projetos: Conhecimento como ferramenta de transformação
Além disso, o tema é amplamente estudado em diversas áreas do conhecimento na UFPel, uma vez que permeia todos os pilares da sociedade de forma estrutural. No entanto, apesar dos avanços nas discussões e pesquisas, a comunidade acadêmica ainda enfrenta diversas manifestações de racismo dentro de seus corredores e salas de aula. Essa realidade reforça a necessidade de projetos e ações promovidas pela Universidade, que buscam combater a discriminação racial e fomentar a equidade dentro do ambiente acadêmico. Conheças alguns dos projetos e pesquisas que a comunidade acadêmica desenvolve:
Histórias pouco contadas
O Núcleo de Documentação Histórica (NDH), vinculado ao Instituto de Ciências Humanas (ICH), coordena o projeto “Histórias Pouco Contadas”, em parceria com a UFRGS e a Unipampa. A iniciativa busca produzir verbetes sobre homens e mulheres negros e pardos que viveram e atuaram em Pelotas, mas cujas trajetórias permanecem pouco conhecidas.
De acordo com a coordenadora Lorena Almeida Gill, o material será disponibilizado à comunidade e abordará desde figuras históricas, como os irmãos Antônio Baobá e Rodolpho Xavier, até professores e técnicos da UFPel, como Hildete Bahia da Luz e Eunice Xavier de Lima, possivelmente as primeiras professoras negras da instituição. “A ideia do projeto surgiu para evidenciar o protagonismo negro na cidade de Pelotas em diversas áreas, inspirando-se nos estudos iniciados pela professora Beatriz Loner na década de 1990”, explicou.
Coorte 1982
Desde 1982, o Centro de Pesquisas Epidemiologicas da UFPel conduz a Coorte de 1982, estudo que inicialmente investigava os impactos da desnutrição e mortalidade infantil, mas que ao longo das décadas passou a analisar aspectos como desenvolvimento psicomotor, saúde mental e condições socioeconômicas.
Atualmente, a pesquisa serve de base para a formulação de políticas públicas voltadas à promoção da igualdade racial em Pelotas. De acordo com o professor Inacio Crochemore, um convênio em discussão com a Prefeitura de Pelotas permitirá que os dados coletados ao longo dos anos auxiliem na implementação de serviços de saúde mais equitativos e inclusivos, alinhados aos princípios da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. “Em todos os nossos inquéritos o quesito raça/cor vem sendo coletado, nesse momento a intenção é tornar esses dados mais potentes para tomada de decisão em nível local”, explicou.
Museu Afro-Brasil-Sul (MABSul)
O Museu Afro-Brasil-Sul (MABSul), vinculado ao Centro de Artes, tem como objetivo identificar, preservar e difundir o patrimônio cultural afro-brasileiro da região Sul do Brasil. A iniciativa reúne mais de 50 pesquisadores e pesquisadoras de diferentes instituições de ensino, incluindo IFSul, IFRS, UFSC, UNESC e UFPI.
Segundo a coordenadora Rosemar Lemos, o MABSul desempenha um papel crucial no combate ao racismo por meio da educação, divulgação de oportunidades e promoção de debates fundamentais para a equidade racial. “O conhecimento das leis, a valorização das histórias do povo negro sulino e a presença de personalidades negras nos mais diversos campos do saber promovem mudanças essenciais para reduzir os impactos do racismo na sociedade”, afirmou.
Acesso à Justiça na Rua
O projeto Assessoria Jurídica Itinerante (AJI), coordenado pela professora Karinne Emanoela Goettems dos Santos, atua na regularização fundiária da comunidade do Passo dos Negros, garantindo o direito à moradia.
Vinculado ao programa “Acesso à Justiça na Rua”, a iniciativa oferece assistência jurídica gratuita à população vulnerável e conduz pesquisas sobre representatividade e letramento racial. “O acesso à justiça exige que o Estado garanta condições radicalmente igualitárias para a reivindicação de direitos, sem uma justiça seletiva que ignore diversidade e vulnerabilidades sociais”, destaca Karinne.
Segregation Wiki
O Segregation Wiki é um projeto desenvolvido em parceria com a Universidade do Porto, Universidade Federal Fluminense (UFF), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o University College London (UCL). Com a participação do professor Otávio Peres, da UFPel, a plataforma analisa mais de 10 mil documentos acadêmicos e mapeia mais de 800 formas de segregação que permeiam a sociedade ao longo de um século de pesquisa.
“A segregação é um fenômeno da contemporaneidade, que se evidencia no espaço urbano como um mecanismo social em que múltiplos aspectos da discriminação se sobrepõem – racial, econômico, de gênero, etário, étnico e outros. Cabe à pesquisa acadêmica, como a Segregation Wiki, revelar esses aspectos e comportamentos sociais, além de criar alternativas para integração e equidade socioespacial”, destaca Peres.