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Reitor avalia os três anos da gestão

Entrevista

Reitor avalia os três anos da gestão

A atual Reitoria da Universidade Federal de Pelotas completa três anos no início de janeiro. Liderada pelo reitor, Pedro Curi Hallal, e pelo vice-reitor, Luís Amaral, a chapa eleita em 2016 vem cumprindo um programa de gestão com 126 ações planejadas. Nesta entrevista, Pedro Hallal avalia que 75% do planejado já foi realizado. Mas também não foge da autocrítica quando fala das ações que sequer foram começadas e daquelas que, iniciadas, ainda não foram concluídas. O Reitor concedeu a entrevista nos últimos dias de dezembro à Coordenação de Comunicação Social (CCS) da Universidade.

CCS: O sr. está terminando o terceiro ano como Reitor da UFPel. O que tem guiado as ações da sua gestão?

Reitor: O nosso programa de gestão, que foi elaborado em um processo coletivo, com muita participação de todos os segmentos da comunidade acadêmica em plenárias e grupos de trabalho. Ali se definiram sete princípios que norteariam todas as nossas ações: aproximação, pertencimento, compartilhamento, equidade, transparência, gratuidade e descentralização. Dividimos nossas ações planejadas em três eixos: ações acadêmicas, ações institucionais e ações de gestão de pessoas. No total, planejamos implementar 126 ações ao longo desses quatro anos de gestão.

CCS: O quanto disso foi efetivamente implantado depois de três anos de gestão?

Reitor: Classificamos cada uma das 126 ações em uma de quatro categorias: não implantada, implantação iniciada, implantação avançada e totalmente implantada, num instrumento que chamamos de “programômetro”. Ao final do terceiro ano, 75% do programa está implementado.

CCS: O sr. pode dar exemplos de ações totalmente implantadas?

Reitor: Destaco a frota própria de ônibus para o transporte de nossos estudantes para o Campus Capão do Leão (que alguns consideravam uma proposta demagógica), a construção do restaurante universitário no Campus Anglo e a transferência da moradia estudantil, que hoje abriga 300 estudantes em ótimas condições. Pra 2020, as principais novidades serão a implantação do sistema de compartilhamento de bicicletas e a política de mães universitárias, além da aquisição de mais quatro ônibus para qualificar ainda mais o transporte de apoio.

CCS: E o que o sr. destaca na parte administrativa?

Reitor: Posso citar o fim do trâmite de processos em papel, com a implantação completa do Sistema Eletrônico de Informações (SEI), que faz com que os processos tramitem com muito mais agilidade e transparência na instituição. Acho importante destacar também a retirada dos assentos dos pró-reitores no Conselho Universitário, que deu maior peso para a voz da comunidade universitária e menos para a voz da gestão no principal colegiado da instituição. Essa conquista talvez represente o maior avanço democrático da UFPel nas últimas décadas.

CCS: E no âmbito acadêmico?

Reitor: Aqui é importante destacar a evolução das bibliotecas, especialmente com a aquisição de obras digitais, fazendo com que nossos estudantes tenham acesso irrestrito ao que há de mais atual em suas áreas do conhecimento. Sublinho também a Mostra de Cursos de Graduação, que apresenta aos alunos do ensino médio os cursos existentes na UFPel. A prova do sucesso dessa ação é que as inscrições para o Programa de Avaliação Escolar (PAVE) nunca foram tantas e não param de crescer na UFPel.

CCS: Como o sr. avalia a criação do Conselho de Planejamento (Coplan), ponto central do programa da sua gestão?

Reitor: Certamente é um dos destaques nesses três anos. É o primeiro conselho da UFPel com representação igual de professores, técnicos administrativos e estudantes. Com apenas um ano de vida, esse conselho já liderou o orçamento participativo 2020, que também é um dos compromissos de campanha que estão sendo colocados em prática. O Coplan também inovou ao adotar processos eletrônicos para eleição de seus membros, sinalizando para o futuro dos processos eleitorais na UFPel.

CCS: Vamos falar do Hospital Escola da UFPel, antes conhecido como Hospital da FAU…

Reitor: Talvez seja no Hospital Escola o maior exemplo de sucesso da atual administração da Universidade. Entre 40 hospitais universitários que compõem a rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), o nosso ficou entre o primeiro e o segundo lugar em pesquisa que avaliou a satisfação dos pacientes. Além disso, foi o primeiro hospital universitário da rede a atingir o equilíbrio financeiro, segundo a própria presidência da EBSERH. A gestão do Hospital agora também funciona em plantões noturnos, para acompanhar todos os trabalhadores que lá atuam, uma antiga reivindicação desses servidores. Mas a principal evolução do HE foi o fim da gestão pela Fundação de Apoio Universitário (FAU) o que faz com que o Hospital, além de ser 100% SUS, também seja 100% público.

CCS: Durante a gestão é inevitável que surjam outras demandas não previstas no programa. O sr. pode dar exemplos de ações implantadas com sucesso e que não faziam parte das ações inicialmente planejadas?

Reitor: Essa é uma das principais marcas da gestão pública: o dinamismo. Muitas ideias surgidas depois que nosso programa estava escrito foram implementadas. Por exemplo: a política de cotas na pós-graduação, a reserva de vagas para servidores nos programas de pós-graduação, a duplicação das vagas do PAVE e o aumento de vagas para estudantes de escolas públicas. Outro exemplo e que representa um dos maiores avanços pelos quais a UFPel passou nesses últimos anos é a implantação das formaturas institucionais.

CCS: Como o sr. avalia a interação da Universidade com a cidade?

Reitor: Logo no início da gestão, nossa incubadora de empresas migrou para o Pelotas Parque Tecnológico, mostrando nossa intenção de interagir cada vez mais com a comunidade. Participações tímidas ou inexistentes foram substituídas por um envolvimento pujante com a Fenadoce, com a Feira do Livro, com o Festival Internacional de Música do SESC e com a Expofeira, por exemplo. Organizamos em Pelotas duas edições de um evento internacional de grafitagem, o Meeting of Styles. Além disso, garantimos a representação com participação efetiva da Universidade em todos os conselhos e entidades locais em que a UFPel tem assento.

CCS: E com a região?

Reitor: Estreitamos os laços com a Azonasul, a Associação dos Municípios da Região Sul do estado. Ofertamos um edital de vagas remanescentes para moradores dessas cidades, fortalecendo o caráter regional da UFPel. Além disso, celebramos ou estamos em vias de celebrar, termos de cooperação com vários municípios da região nas áreas de saúde, educação, lazer, cultura, entre outras.

CCS: A UFPel ocupa parte do centro histórico de Pelotas. O que evoluiu nesse sentido?

Reitor: Conseguimos destravar o processo para a revitalização do Grande Hotel, que já está em obras, e, em breve, abrigará o Hotel Escola da UFPel. Os museus Leopoldo Gotuzzo e Carlos Ritter hoje ocupam prédios ao redor da praça central da cidade, facilitando sua interação com a comunidade. Recentemente, fechamos uma negociação que se arrastava há anos com a Prefeitura de Pelotas, para o uso definitivo de todo o prédio do Conservatório de Música. A próxima empreitada será a criação da Biblioteca Central da UFPel, para homenagear o eterno Aldyr Schlee.

CCS: Como o sr. avalia o sentimento da comunidade universitária em relação à UFPel?

Reitor: Um dos princípios mais importantes que defendemos na construção do programa foi o do pertencimento. Queríamos que a comunidade da UFPel tivesse orgulho da Universidade. Algumas ações implantadas, como a linha de produtos UFPel, a instalação de letreiros no Campus Anglo e no Capão do Leão, e a própria estratégia de comunicação, fizeram com que, na minha opinião, a comunidade tenha cada vez mais orgulho da UFPel.

CCS: Em que medida a sua defesa intransigente da UFPel, especialmente em relação ao Future-se, contribuiu para essa valorização da Universidade tanto no âmbito interno como na comunidade em geral?

Reitor: Vivemos um momento em que precisamos relembrar as pessoas do óbvio, pois há um discurso anti-conhecimento e anti-ciência sendo disseminado especialmente nas redes sociais. Nesse momento, é necessário que eu, como líder, relembre a todos do quanto a UFPel é importante para a comunidade. Em Pelotas, a saúde pública, a educação, a arte, o lazer, a cultura, o comércio, o esporte, a segurança, todos dependem muito da Universidade. Advogar contra a Universidade é advogar contra a comunidade. As Universidades Federais são patrimônios da sociedade brasileira, e devem ser tratadas como tal.

CCS: Quais foram as ações que avançaram pouco ou até mesmo não se realizaram?

Reitor: Podemos começar falando de ações que foram iniciadas, mas ainda não concluídas como esperávamos. A UFPel ainda carece de uma política institucional de ensino a distância. Outro ponto a ser criticado é que não conseguimos avançar o suficiente na criação de espaços de convivências nos ambientes da Universidade. Certamente, quanto mais atrativos forem os ambientes da UFPel, mais nossos servidores e estudantes aproveitarão seu tempo na instituição.

CCS: E os fracassos?

Reitor: Não sei se eu chamaria de fracassos, mas há algumas ações que não conseguimos sequer iniciar. O regimento e o estatuto da UFPel estão com décadas de desatualização, e não conseguimos evoluir nesse sentido. Pensávamos em criar um escritório de projetos, para ajudar servidores e estudantes em todos os passos de seus projetos de ensino, pesquisa e extensão. Precisamos também estreitar nosso vínculo com os ex-alunos da instituição, algo que é feito apenas em algumas faculdades isoladas.

CCS: Dentre as ações de sucesso e importantes para a instituição, mas que são desconhecidas do grande público, quais o sr. destacaria?

Reitor:  Chamo esses de os casos silenciosos de sucesso. A UFPel possuía um passivo de cerca de 300 processos administrativos disciplinares e 200 prestações de contas de convênios e contratos, muitos dos quais engavetados por anos. Hoje estamos totalmente em dia nesses dois setores. Recebemos a instituição com R$ 11 milhões de déficit, e hoje o déficit é zero. As Fundações de Apoio, historicamente envolvidas em escândalos, hoje são administradas com zelo e seguindo as normativas pertinentes.

CCS: A categoria dos técnicos administrativos foi “esquecida” pelo MEC quando apresentou o FUTURE-SE. E na UFPel, o que avançou para essa categoria?

Reitor: Quando assumimos a administração da UFPel, havia um conjunto de demandas da categoria que não haviam sido contempladas em gestões anteriores. Por exemplo, os técnicos administrativos não tinham sequer assento no Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão. Os técnicos também reivindicavam assento para os aposentados no Conselho Universitário. Isso tudo foi contemplado já no início da gestão. O desequilíbrio era tão grosseiro, que até nos títulos honoríficos os técnicos administrativos eram excluídos. Criamos então o título de técnico administrativo em educação emérito, que aliás já foi concedido a vários servidores nas comemorações dos 50 anos da UFPel. Havia também uma demanda por incentivos à qualificação – implantamos uma política de reserva de vagas em todos os programas de pós-graduação e criamos um edital interno para atividades de capacitação. Por fim, o próprio processo de avaliação de desempenho dos técnicos administrativos, que tramitava morosamente há uma década, foi aprovado no Conselho Universitário.

CCS: E quais as perspectivas para 2020, o último ano de gestão?

Reitor: Inicialmente, queremos seguir avançando no cumprimento do programa eleito, implantando as ações que não conseguimos nesses três primeiros anos. Depois, a prioridade é que a UFPel consolide um processo democrático para a eleger a sua próxima administração, o que passa necessariamente pela escolha da comunidade acadêmica, de preferência com votação universal, no qual o voto de cada pessoa tem o mesmo valor.