Epidemiologistas da UFPel estão entre os 1% mais citados na literatura científica mundial
Três epidemiologistas da Universidade Federal de Pelotas estão entre os cientistas mais influentes da ciência mundial, segundo o ranking Highly Cited Researchers 2020. Cesar Victora, Fernando Barros e Pedro Halall, do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, integram a lista divulgada nesta quarta-feira (18) pela Clarivate Analytics, empresa de consultoria especializada em análise de dados de produção científica.
Publicado anualmente desde 2014, o ranking internacional leva em consideração os artigos publicados e a quantidade de citações por pares na última década, tendo por base as publicações indexadas na plataforma Web of Science. Os autores são selecionados por sua influência e desempenho excepcionais em um ou mais dos 21 campos de conhecimento listados na base de dados do Web of Science, a partir de trabalhos publicados no período de 2009 a 2019. Na edição deste ano, são 6389 cientistas de mais de 60 países – 19 brasileiros.
A relevância dos selecionados da Highly Cited Researchers se traduz pelo número de vezes que são citados por outros autores – estar na lista significa estar no grupo de 1% de pesquisadores que mantiveram as mais altas médias de citações durante o período. Na prática, é um indicador de que os trabalhos realizados por esses cientistas se tornaram referência para outros estudiosos e são também ponto de partida para o desenvolvimento de novas pesquisas.
Pesquisas que mudaram políticas de saúde em todo mundo
Este é o terceiro ano consecutivo que o Centro de Pesquisas Epidemiológicas tem representantes incluídos no ranking, o que reflete a consolidação dessa unidade de pesquisa entre os protagonistas do avanço do conhecimento nas áreas de epidemiologia e saúde coletiva no cenário internacional.
Com 597 publicações na Web of Science, o professor emérito da UFPel Cesar Victora teve seus artigos citados 41.588 vezes. Victora é um dos epidemiologistas mais premiados no Brasil e no exterior por suas contribuições nas áreas de saúde e nutrição materno-infantil, com destaque para a construção de curvas de crescimento infantil, hoje usadas para avaliar o desenvolvimento de crianças em mais de 140 países, e a documentação, ao longo das últimas quatro décadas, da importância do aleitamento materno exclusivo na prevenção da mortalidade infantil. O impacto de seu trabalho é tamanho que deu origem à política de governo pró-aleitamento no Brasil e em cinco continentes, além de definir as políticas globais de amamentação da Organização Mundial de Saúde e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
O epidemiologista Fernando Barros, autor de 298 publicações na Web of Science, teve seus artigos citados 10.138 vezes. O pesquisador, filiado também à Universidade Católica de Pelotas, onde coordena o Mestrado Profissional do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento, deu início em Pelotas à Coorte de Nascimentos de 1982, que contribuiu para projetar a ciência brasileira no contexto mundial, em uma época em que a epidemiologia era um campo do conhecimento ainda incipiente no país. Entre 2007 e 2018, Barros foi o coordenador no Brasil do Projeto Intergrowth 21st, que desenvolveu as primeiras curvas de crescimento internacionais para avaliação tanto do crescimento do bebê durante a gestação como das medidas do recém-nascido. Sem precedentes na história da pesquisa epidemiológica, as novas curvas fornecem um parâmetro para detectar desvios precoces do crescimento e diagnosticar situações de risco nutricional à saúde de bebês ainda no útero, independentemente de origem étnica ou geográfica.
Com 313 publicações na Web of Science, o atual reitor da UFPel e epidemiologista Pedro Hallal teve seus trabalhos citados 17.509 vezes por seus pares. Hallal é hoje um dos pesquisadores centrais no esforço coletivo de compreensão do comportamento da pandemia do novo coronavírus no Brasil e no Rio Grande do Sul. Ao lado dos colegas Victora e Barros, Hallal coordena o maior estudo populacional sobre o coronavírus do país. O Estudo de Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid19-BR) realiza uma pesquisa populacional em seis etapas, para estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 a cada estágio, por idade, sexo, condição socioeconômica e região geográfica em 133 cidades brasileiras, fornecendo subsídios para políticas públicas e medidas de isolamento social.
O estudo pioneiro apontou o impacto das desigualdades sociais sobre as taxas de infecção – com proporção de casos duas vezes maior entre os mais pobres em relação aos mais ricos – e demonstrou, ao contrário de projeções iniciais sobre a doença, que a maior parte dos casos – 88% – apresentam sintomas, sendo os mais frequentes dor de cabeça (58%) e mudanças no olfato ou paladar (56,5%).