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Dia Internacional contra a LGBTfobia: UFPel evidencia ações de acolhimento e resistência

No dia 17 de maio, celebra-se o Dia Internacional contra a LGBTFobia que engloba, além da homofobia, a transfobia e a bifobia. A data marca a exclusão da homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID) pela Organização Mundial da Saúde, em 1990. Mais do que um marco histórico, o dia se tornou símbolo da luta por direitos, dignidade e respeito à população LGBTQIAPN+ em todo o mundo.

No ambiente universitário, onde o pensamento crítico e a produção de conhecimento devem caminhar lado a lado com o respeito à diversidade, essa data ganha uma relevância especial. A universidade não é apenas espaço de formação acadêmica, mas também de transformação social. Por isso, o combate à LGBTfobia constitui parte central desse compromisso.

Na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), esse posicionamento se traduz em ações concretas. Por meio de projetos de extensão, linhas de pesquisa e ações afirmativas, diferentes unidades e coletivos têm atuado na promoção da inclusão e do acolhimento da comunidade LGBTQIAPN+.

Entre essas ações, destaca-se o reconhecimento do direito ao uso do nome social, vigente desde 2013 em todas as instâncias da UFPel. Em 2022, a Universidade também implementou a reserva de 5% das vagas na pós-graduação, com proposta em tramitação para estender a medida à graduação. No campo da saúde, destaca-se o Ambulatório T, instalado no Hospital Escola da UFPel, com atendimento especializado e multiprofissional. Essas iniciativas são acompanhadas pela atuação do Grupo de Trabalho LGBTQIA+, que articula ações de enfrentamento à violência e à LGBTfobia e está construindo um protocolo institucional de acolhimento e combate à discriminação. Essas medidas reforçam o papel da UFPel como um espaço de equidade, escuta e transformação social.

Núcleo de Estudos Feministas e de Gênero (D’Generus)

Entre os grupos da UFPel que promovem pesquisas e ações voltadas para o enfrentamento das discriminações de gênero e sexualidade está o Núcleo de Estudos Feministas e de Gênero (D’Generus), coordenado pela professora Márcia Alves. O grupo reúne pesquisadores de diversas áreas da Universidade e de outras instituições, promovendo uma abordagem interdisciplinar que articula ensino, pesquisa e extensão. De acordo com Marcia, infelizmente o Brasil possui altos índices de violências que possuem como causas questões relativas à gênero e sexualidades. “Precisamos formar pessoas comprometidas com o enfrentamento de todos os tipos de discriminação, especialmente aquelas relacionadas ao gênero. O D’Generus atua na graduação e na pós-graduação promovendo uma formação acadêmica e humana sensível a essas questões. Acreditamos que esses temas devem estar presentes tanto na formação estudantil quanto nas pesquisas e nas ações junto à comunidade”, destaca a professora.

Entre as atividades promovidas pelo D’Generus, destaca-se o coletivo positHIVes: coletivo artHIVista antissorofóbico, coordenado pelo professor Hudson Carvalho, em parceria com o professor Roberto Heiden. Criado em 2020, o grupo utiliza a pandemia de HIV/AIDS como ponto de partida para repensar as estruturas sociais relacionadas à sexualidade, ao afeto e ao vínculo humano. Por meio de ações interdisciplinares que integram arte, pesquisa e extensão, o positHIVes promoveu oficinas, exposições e performances, como a criação dos “museus pessoais do HIV/AIDS”, uma metodologia inovadora em que estudantes e docentes narraram suas vivências em torno do tema a partir de objetos significativos. O projeto culminou em um manifesto ético-estético, apresentado durante a Semana dos Museus da UFPel, reafirmando a potência da arte como linguagem de resistência e reflexão.

Outro desdobramento importante do coletivo foi a iniciativa PrEP Itinerante, que levou ações de saúde sexual para fora dos muros da Universidade. Em parceria com a Secretaria de Saúde de Pelotas, o projeto promove testagens de ISTs, orientação e acesso à Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), aproximando a prevenção da população e promovendo o diálogo sobre diversidade sexual e direitos humanos. “Ao articular arte, saúde pública e ativismo, o coletivo positHIVes contribui para uma formação acadêmica politizada e para a valorização da diversidade como elemento essencial da vida social”, destaca Hudson.

Grupo de Pesquisa Políticas dos Corpos, Cotidianos e Currículos

Outro espaço fundamental para a memória e a valorização da luta LGBTQIAPN+ na UFPel é o Museu João Antônio Mascarenhas, coordenado pelo professor Marcio Caetano, do Grupo de Pesquisa Políticas dos Corpos, Cotidianos e Currículos. O Museu, em parceria com instituições como a Universidade Federal do Espírito Santo, a Brown University e o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT, abriga mais de 300 horas de entrevistas com ativistas LGBTQIAPN+ desde os anos 1970, disponíveis ao público no YouTube e nas redes sociais do projeto. Em 2022, o grupo lançou o documentário “Quando Ousamos Existir”, uma produção universitária que revisita a trajetória histórica do movimento no Brasil, desde a ditadura até os debates da Constituinte de 1988, recebendo premiações e reconhecimento nacional.

Além do trabalho de memória, o grupo coordena o projeto de pesquisa “Escolas e redes discursivas: qualidade de vida de jovens LGBT+“, que investiga as experiências e discursos sobre gênero e sexualidade nas escolas públicas de Pelotas. A pesquisa busca compreender como marcadores como gênero, raça, classe, territorialidade e juventude produzem e seguem produzindo tensões e acordos nos currículos escolares e nas formas como os/as jovens se percebem diante das “verdades” disseminadas nas escolas sobre suas identidades.

Em 2024, uma das ações mais recentes foi a criação do clube de leitura “Conectades”, em parceria com a Bibliotheca Pública Pelotense. Com foco em literatura infantojuvenil com temática LGBTI+, o projeto oferece um espaço seguro e acolhedor para adolescentes e jovens discutirem livros, identidades e vivências que raramente chegam às escolas por vias formais. “Nosso objetivo é oferecer espaços acolhedores, onde as pessoas possam viver sua verdade sem julgamentos e debater temas que os atravessam, por meio da literatura e do encontro com outras vivências”, afirmou Marcio Caetano.

PET – Fronteiras – Saberes e Práticas Populares

O Programa de Educação Tutorial (PET) reúne grupos de estudantes, sob orientação docente, para desenvolver atividades integradas de ensino, pesquisa e extensão com foco na formação cidadã, crítica e transformadora. Na UFPel, o PET Fronteiras – Saberes e Práticas Populares atua há mais de uma década promovendo ações voltadas aos direitos humanos, à diversidade e à inclusão. Entre essas iniciativas, destacam-se publicações como Leituras em Dramaturgia Teatral para a Diversidade I e II, produzidas por seus estudantes, que demonstram como a arte e a educação podem transformar o debate sobre diversidade em ação cultural concreta.

Neste 17 de maio, o grupo lança a campanha Pelotas Cidade da Diversidade, Sem Preconceito”, que propõe a criação da Praça Pelotas Diversa, um museu a céu aberto voltado à memória, arte e educação sobre a diversidade sexual e de gênero. Para apoiar basta assinar a petição aqui. Inspirado na Plaza de la Diversidad Sexual de Montevidéu, o projeto prevê a instalação de monumentos interativos, jardins e uma programação contínua de oficinas e exposições. “Há doze anos, quando o PET Fronteiras nasceu, assumimos que enfrentar a homofobia não seria um tópico periférico, mas um eixo central de formação cidadã”, explicou a professora Denise Bussoletti, coordenadora do grupo.

Para o professor Felipe Martins, também coordenador da proposta, a iniciativa extrapola os limites do espaço universitário. “A Praça Pelotas Diversa ampliará o alcance do que cultivamos no Centro de Artes e na Universidade: será um palco urbano onde as linguagens artísticas dialogam com as lutas sociais, convertendo a cidade inteira em cenário de respeito, educação e criação coletiva”, finalizou. A iniciativa pode ser acompanhada nas redes sociais do PET Fronteiras.

Publicado em 17/05/2025, na categoria Notícias.
Marcado com as tags Discriminação, diversidade, LGBTQIAPN+.