UFPel lança documentário sobre restauração de obras vandalizadas no 8 de janeiro
Foi lançado na noite desta quarta-feira (8), no Cine UFPel, o documentário “8 de Janeiro: Memória, Restauração e Democracia”, produção que registra o trabalho de conservação e restauração de 20 obras de arte vandalizadas durante os ataques de 8 de janeiro de 2023, no Palácio do Planalto. A produção é fruto do projeto coordenado pelo Laboratório Aberto de Conservação e Restauração de Pintura (Lacorpi-UFPel), em parceria com o IPHAN e a Diretoria Curatorial dos Palácios Presidenciais e foi desenvolvido pela Coordenação de Comunicação Social da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).
A exibição marcou o início da série de sessões públicas do filme e foi seguida por um debate com o diretor do documentário, Michael Kerr, o diretor assistente, André Barcellos. O momento foi de reflexão sobre o papel da arte e do patrimônio cultural na promoção da democracia e na preservação da memória. Além da estreia, outras sessões estão previstas para os dias 14, 21 e 28 de maio, também às 19h, no Cine UFPel (Rua Lobo da Costa, 447), com entrada gratuita.
Para a construção do documentário, foram gravadas cerca de 8 horas de entrevistas e mais de 24 horas de imagens ao longo do processo de restauração. A montagem final, com duração de 50 minutos, buscou retratar não apenas os aspectos técnicos da conservação, mas também as emoções e percepções de profissionais que estiveram diretamente envolvidos no 8 de janeiro.
Michael Kerr destacou a complexidade do trabalho e a simbologia do lançamento na UFPel. “Hoje é o lançamento oficial aqui na UFPel, mas nós passamos o documentário em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2025, dois anos depois do acontecimento. Extremamente simbólico foi aquele dia”, disse. Para Kerr, o processo de fazer o documentário foi marcado pela abertura à escuta. “Não estamos aqui para dizer uma verdade absoluta e sim oferecer uma visão sobre o tema. Queríamos ouvir pessoas de diferentes perfis e funções, inclusive o pessoal da limpeza do palácio, para entender como cada um viveu aquele dia”, afirmou.
Já André Barcellos trouxe à tona a emoção e a complexidade envolvidas na gênese do projeto. “A grande contradição disso tudo é que essa ideia não partiu de uma situação boa. Eu me lembro bem onde eu estava e o que fazia no dia 8, lembro de todos os sentimentos e sensações, a raiva, a indignação. Depois, quando chegamos lá, impactados com as obras naquele estado, foi muito estranho”, destacou. Segundo ele, o sentimento evoluiu com o tempo, à medida que as peças foram sendo recuperadas e o documentário foi sendo construído. “A gente passa de algo muito complicado para esse momento de felicidade com esse resultado bacana, que envolveu o trabalho coletivo em uma universidade pública. Eu me sinto feliz, apesar de tudo, e que não volte a se repetir, nunca mais”, finalizou.
A exibição contou com a presença das coordenadoras do projeto “8 de Janeiro: Restauração e Democracia, professoras Andréa Lacerda de Bachettini e Karen Velleda Caldas, além de servidores e estudantes da UFPel que integraram a equipe responsável pela restauração das obras e nas outras ações do projeto.
O documentário reúne depoimentos de especialistas, estudantes e servidores envolvidos diretamente no processo de recuperação das obras, revelando os bastidores do trabalho técnico e o simbolismo da reconstrução institucional. Com imagens marcantes e entrevistas emocionantes, a produção reafirma a importância do cuidado com o patrimônio público em tempos de ameaça à democracia.
O lançamento integra a programação do projeto “8 de janeiro – Restauração e Democracia”, que inclui exposição fotográfica, lançamento de livro e aula inaugural. A iniciativa é conduzida pelo curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel e reafirma o protagonismo da Universidade na valorização do patrimônio histórico brasileiro.