NAI realiza formação sobre acessibilidade e inclusão para motoristas da UFPel
O Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da Universidade Federal de Pelotas (NAI/UFPel) promoveu uma formação para os motoristas dos ônibus do Transporte de Apoio da UFPel. Ministrada pelo servidor técnico-administrativo terapeuta ocupacional do NAI, Rodrigo Vital, a palestra teve o objetivo de instruir os motoristas sobre os diferentes tipos de deficiência, e sobre como garantir a acessibilidade e os direitos de estudantes com deficiência e\ou com autismo nos ônibus, considerando cada condição específica.
A formação, realizada em abril, abordou a definição legal do que é uma pessoa com deficiência, as diferenças entre as deficiências física, visual, auditiva, intelectual e o autismo, também os desafios e as possibilidades que cada condição da pessoa com deficiência pode trazer para o espaço dos transportes coletivos.
De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão à Pessoa com Deficiência – LBI 13.146\2015 – considera-se pessoa com deficiência aquela que possui impedimento de longo prazo, seja de natureza física, mental, intelectual ou sensorial e que, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir a sua participação plena e efetiva na sociedade. Essa definição auxilia na compreensão dos tipos de deficiência, como por exemplo, quando as deficiências físicas, auditivas e visuais podem ser percebidas pelo uso de instrumentos de apoio (cadeira de rodas, muletas, bengalas, próteses, comunicação por gestos e etc.), elas são mais fáceis de identificar, até porque costumam ser mais visíveis no dia a dia, e mais evidentes na mídia.
De outra forma, o transtorno do espectro autista, a deficiência intelectual, algumas deficiências físicas, e, em certa medida, também a deficiência visual, as quais nem sempre são aparentes, constituem-se de difícil percepção, e isso pode gerar constrangimentos, ou até mesmo dificultar que a população reconheça a sua necessidade de usar o assento preferencial no ônibus, por exemplo.
Quando se fala de deficiência intelectual (DI) ou de Transtorno do Espectro Autista (TEA), fala-se sobre como o cérebro funciona de uma forma diferente do que a maioria das pessoas costuma pensar, o que não justifica conceber que venha a ser falta de habilidades para aprender. As pessoas com DI ou com TEA só possuem um jeito diferente de aprender e de se comunicar. As variações são muitas e Dilza, estudante da UFPel e diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista, compartilha que, devido a sua sensibilidade aguçada a cheiros e a sons, não raramente se sente enjoada em viagens no ônibus de apoio. Essa afirmação revela um obstáculo para ofertar uma acessibilidade plena a passageiros. Se por um lado, para pessoas com deficiências físicas as soluções são, por vezes, mais objetivas, como a presença de rampas, elevadores e assentos preferenciais, por outro as pessoas com DI ou com TEA podem mostrar a necessidade de pensar alternativas para cada especificidade.
A partir dessa formação, os três motoristas da UFPel entrevistados se sentiram melhor preparados para atuarem com as diversas condições, trazidas pelas pessoas com deficiência ou com TEA. A acadêmica Dilza, propriamente, elogiou a forma com que fora recepcionada no ônibus, e pela paciência demonstrada pelo motorista. Contudo, tanto a estudante quanto os motoristas apontaram a necessidade de uma identificação física para o ingresso no ônibus, não só aos estudantes com deficiência, mas para todos e todas. Porém, com uma sinalização aos que possuem alguma necessidade específica. Dilza diz ainda que, devido aos seus enjoos anteriormente citados, diversas vezes possui vontade de descer no meio do trajeto. No entanto, as pessoas não permitem que ela faça isso. A acadêmica propõe que, com a identificação que aponte sua condição, os motoristas atentem ao seu pedido, para que assim ela possa usar esse recurso para administrar sua própria situação.
A fala da estudante condiz com o que Gláucio Fernando Gonçalves, chefe do Núcleo de Transporte da UFPel, afirma: “a iniciativa da formação já era necessária, mas salienta a importância de constantes atualizações com os motoristas, além de uma campanha de conscientização por parte da Universidade para com servidores, servidoras e estudantes”. Por mais que haja um projeto com os condutores, os outros passageiros que não têm deficiência ou autismo também protagonizam os desconfortos, e até mesmo os desrespeitos que estudantes com deficiência vivem no ônibus, o que, por vezes, necessita da intervenção dos motoristas.
Mobilizar a Universidade em torno de projetos que sensibilizem e formem servidoras e servidores para o atendimento das pessoas com deficiência ou com TEA é uma tarefa pungente. De igual forma, é fundamental que estudantes e servidores\as da Universidade repensem o seu comportamento, revendo o tipo de convivência e os preconceitos que ainda carregam, como é o caso do capacitismo e da discriminação de quem é diferente. Medidas simples como respeitar o direito de passar na frente da fila, ou de respeitar o assento preferencial nos ônibus já fazem valer os direitos de quem tem deficiência ou autismo. É necessário seguir, portanto, cada vez mais proporcionando espaços para ouvir e aprender com as pessoas com deficiência ou com autismo, garantindo a acessibilidade e a inclusão de todas e todos os estudantes.