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Projeto Novos Caminhos completa dez anos de atividades

Neste ano, o projeto de extensão Novos Caminhos, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), completou dez anos de atividades. O Projeto funciona desde abril de 2007 e oferece atividades pedagógicas e físicas para jovens e adultos diagnosticados com Síndrome de Down e outras deficiências intelectuais.

Trata-se de uma proposta de inclusão que começou com a iniciativa da professora Gilsenira de Alcino Rangel, coordenadora do projeto, com o apoio da psicopedagoga Helena Rodrigues. O programa conta também com dois bolsistas e outros professores aprendizes voluntários que permitem que o projeto siga em atividades atendendo à comunidade.

O projeto trabalha com jovens e adultos a partir de 17 anos, porque não substitui a educação formal. Atualmente, o aluno mais jovem tem 17 anos, e o mais velho, 37.

O Novos Caminhos é composto por duas turmas, sendo uma de alfabetização, atualmente com oito alunos, e outra, do nível avançado, com quatro estudantes. As aulas ocorrem três vezes na semana: segundas, quartas e sextas, entre as 8h30min e 11h30min. São ofertadas duas bolsas, uma para o nível avançado e outra para a alfabetização, mas há demanda de mais professores aprendizes.

Uma das inspirações iniciais para o Novos Caminhos foi o Projeto Carinho, já com 20 anos de atividades e que atende crianças com diagnóstico de Síndrome de Down com a intenção de melhorar a capacidade funcional dessas crianças em suas atividades cotidianas, com mais eficiência, autonomia e independência. Nesse sentido, os projetos caminham juntos, pelo mesmo objetivo. O projeto Novos Caminhos busca melhorar a vida desses jovens e adultos a partir da pedagogia e das atividades físicas, também com o objetivo de eles possam, cada vez mais, serem mais autônomos e independentes em suas vidas.

A coordenadora e principal pesquisadora do projeto, Gilsenira Rangel, afirma que entre os objetivos está a intenção de contribuir de alguma forma na vida desses jovens. “O projeto como um todo tem o objetivo de oferecer melhor qualidade de vida aos estudantes. Não em termos de saúde, porque não é a nossa área, mas nós acreditamos muito que a educação fornece subsídios para uma melhor qualidade de vida. Nosso foco principal é a inserção desse aluno na cultura letrada e numérica, que são fatores que ajudam a desenvolver a cidadania”, explica.

O foco é, principalmente, nos conteúdos matemáticos e linguísticos, mas inclui outros como a geografia, para a orientação espacial, por exemplo. É uma forma de estimular as já mencionadas independência e autonomia desses estudantes.

A professora destaca ainda que existem diversos exemplos de como o projeto já conseguiu influenciar na vida desses jovens de forma positiva. Relatos dos próprios estudantes e de pais que mencionam, com muita gratidão, seus avanços em diversas atividades do cotidiano. Ações do dia a dia – que podem parecer simples para algumas pessoas, como aprender a ler, escrever e poder ir sozinho para aula com mais segurança e confiança – que significam também mais liberdade para eles.

No entanto, sobre isso, a pesquisadora relata que o ideal seria que o projeto, um dia, não precisasse existir mais: que a escola, que é para todos, conforme a Constituição, fosse inclusiva. “Todo aluno tem direito de avançar, em qualquer nível, e ter acesso e permanência na escola. Não precisaríamos ter a palavra ‘inclusão’ agregada, porque a escola é de todos. E nosso projeto não teria gente que a escola não quis, porque na verdade esse é o nosso público: quem a escola não quis”.

A professora explica ainda que o objetivo é que os alunos que já atingiram o nível necessário sigam para a escola regular, pois o projeto não pode certificar a conclusão dos níveis escolares. Recentemente, uma aluna da etapa avançada fez esse percurso e nos primeiros quatro meses conquistou o diploma do Ensino Fundamental. Por isso, com os alunos já alfabetizados os professores trabalham com o objetivo de prepará-los para a prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (ENCCEJA), para certificar o Ensino Fundamental.

Uma grande inspiração para os participantes do projeto é Gabriel Almeida Nogueira, formado em Teatro pela UFPel, já antigo amigo dos estudantes, a partir do Projeto Carinho. Quando acadêmico da Universidade, ele se ofereceu, em dupla com outra estudante, para fazer no projeto o estágio do curso de licenciatura em Teatro. A proposta deu tão certo que, depois de formado, Nogueira foi convidado para ser professor colaborador. Todas as sextas-feiras, Gabriel dá aula de Teatro no projeto. “É uma forma de mostrar que é possível”, declara Gilsenira.

Envolvimento
Outro lado vantajoso é fato de o projeto agregar não só na vida dos estudantes para os quais é destinado, mas também para os acadêmicos e acadêmicas da Universidade, professores aprendizes. Conforme afirma a coordenadora, trata-se de um projeto que contempla o tripé da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. De ensino para os estudantes da Universidade que aprendem com as práticas; de extensão, por atender à comunidade; e de pesquisa porque todos os dados obtidos servem de base para estudos das professoras envolvidas.

A coordenadora lembra ainda a importância da participação dos acadêmicos para as suas formações profissionais, já que a cada ano aumenta o número de pessoas com deficiência em salas de aulas comuns: entre 2005 e 2015, o salto foi equivalente a 6,5 vezes, segundo o Censo Escolar, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Conforme a docente, se os estudantes saem da Universidade com essa experiência, estarão mais qualificados e terão uma maior sensibilidade para poder estimular todos os seus alunos a desenvolver suas capacidades.

Entendimento da sociedade
A pesquisadora ressalta o fato de a deficiência ser também uma formação social. E relata que sem o olhar na deficiência – com a criação mais próxima da igualdade possível, com o respeito às diferenças, sem os preconceitos e estereótipos sociais geralmente impostos – o impacto positivo seria maior na criação dessas crianças. O ponto é, como lembra, não partir do pressuposto de que eles não conseguirão alcançar algum objetivo pelo fato de serem “deficientes”. Conselho esse que vale também para os familiares.

No entanto, Gilsenira afirma que compreende a visão e as possíveis dificuldades da família. Mãe de uma menina diagnosticada com Síndrome de Down, que foi a principal inspiração para que embarcasse nesse projeto, ela reconhece que a reação da família pode ser de não saber como lidar com a situação, justamente pelo fato de, como sociedade, estar despreparada. Entretanto, ela ressalta que a superproteção pode prejudicar muito no desenvolvimento pessoal dessas crianças. Por isso, relembra a importância de uma criação mais igualitária e consciente possível, fatores a serem levados em consideração na criação familiar, mas também na sociedade em geral e dentro das escolas.

Sobre a qualidade da formação dos profissionais, externamente ao projeto, como professora da Universidade, a coordenadora reconhece que ainda há um longo caminho a ser trilhado até uma educação ideal. O ideal, segundo ela, seria que o assunto atravessasse todas as disciplinas, para preparar os estudantes para adaptar todos os conteúdos para as diferentes possibilidades de alunos que eles possam ter. Por isso, o projeto em questão, Novos Caminhos, se faz tão importante na formação desses estudantes.

Os alunos que tenham interesse em saber mais sobre o projeto Novos Caminhos ou até mesmo em se candidatar como voluntários podem ver mais informações no blog do projeto.

Publicado em 28/08/2017, nas categorias Destaque, Notícias.