Projeto da Laneira é entregue oficialmente à reitoria da UFPel
Os últimos raios de sol de terça-feira (11) pareciam dar vida às paredes de tijolo à vista da antiga Laneira Brasileira, edificação atualmente sob guarda da Universidade Federal de Pelotas, quando, em sua frente, era entregue oficialmente ao reitor Mauro Del Pino o projeto que pode revitalizar de forma concreta e definitiva o local.
Construído na década de 1950 para abrigar a empresa beneficiadora de lã, cujas atividades foram encerradas em 2003, o prédio pertence ao patrimônio da UFPel desde 2010. Definido recentemente por um arquiteto espanhol como um “fóssil urbano”, a edificação está destinada a partir de agora a abrigar espaços voltados para a cultura e a sua própria conservação: ali serão instalados um centro de eventos para a universidade, cursos da área do patrimônio e a Casa dos Museus.
“Essa é uma importante obra para a universidade, para o bairro, a cidade, as pessoas”, enumera uma das arquitetas responsáveis pelo projeto, a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFPel Celina Corrêa. A reciclagem da Laneira promete trazer àquela região do bairro Fragata mais vida, afinal é intenso o uso previsto para o espaço.
Estão projetados um auditório para cerca de 700 pessoas, que será o maior da UFPel quando concluído, um cinema-arte de 80 lugares, salas de exposição e cafeteria. A área acadêmica também será contemplada, com salas de aula, laboratórios e demais áreas didáticas, a serem ocupadas pelos cursos de Museologia, Conservação e Restauro e pelo Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural.
Mas o destino da edificação não seria completo se não fossem os museus, que inclusive batizam o local. No projeto, constam áreas voltadas para exposições como a Biblioteca Retrospectiva, o Museu da UFPel e o Museu Carlos Ritter, entre outros. A ideia é preparar as mostras da mesma forma que o Memorial do Anglo: completamente acessíveis, com guia em áudio, legendas em Braille e mobiliário que permite a aproximação e circulação de cadeirantes.
Entretanto, há o propósito de que o espaço seja um ambiente aberto à comunidade. Segundo Celina, todos os espaços estão voltados para uma grande rua interna, um espaço semipúblico de onde são acessados todos os outros, onde estarão espaços de jardinagem, paisagismo e instalações artísticas.
Extensão por excelência, preservação por ideal
O projeto “Laneira – A Casa dos Museus” é inédito dentro da universidade por diversos motivos. Segundo a coordenadora do Núcleo de Patrimônio Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, professora Francisca Michelon, este é o primeiro plano de reciclagem de um edifício dentro da gestão que leva em seu cerne a preservação máxima do espaço original, apesar da nova destinação: “O novo uso da Laneira deixará que o antigo uso da fábrica seja visível”. Por isso, o projeto foi sujeitado ao prédio original. Por isso, serão algumas máquinas e a fachada será preservada completamente.
Francisca explica que a recuperação da Laneira será uma reciclagem. Nessa modalidade, a edificação passa a ter uma nova utilização, apesar de manter diversos de seus elementos originais. Esse tipo de intervenção é diferente da reforma, como a acontecida com o Anglo e a Cotada, onde a originalidade foi alterada para os novos fins, ou da restauração, que deve manter com exatidão o espaço.
O ideal preservacionista faz parte da essência da nova Laneira. Além de todo o esforço para a manutenção da memória do espaço, as futuras instalações serão também um espaço para que a memória e o patrimônio sejam pensados, estudados e planejados. Isso tudo pois ali estarão localizados os cursos da Universidade Federal de Pelotas que tem por missão a preservação da cultura, seja ela de maneira concreta e edificada ou imaterial.
Outro ineditismo do projeto, o principal, segundo a professora Francisca, se encontra no fato de que foi pensado, desde o início, por uma equipe de dentro da UFPel. Em um verdadeiro trabalho de extensão, uma equipe de professores e estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo, liderada pela professora Celina, também chefe da Seção de Patrimônio Cultural Edificado da PREC, concebeu a proposta e elaborou todo o projeto da Laneira. “Os alunos e professores estabeleceram o que sonhamos de maneira muito forte”, afirma o reitor Mauro Del Pino.
A chefe da Seção de Museus, Acervos e Patrimônio Imaterial da universidade, professora Nóris Leal, também destaca que os museus da Laneira também serão um referencial, pois trazem um conceito diferenciado de museologia. Aliada a uma nova visão da guarda de acervo, estarão dando suporte à área dois cursos superiores. “Isso nos coloca em um novo patamar da museologia”, afirma Nóris.
Em busca da concretização de uma utopia
A cerimônia de entrega do projeto ao reitor da UFPel pela equipe projetante, ligada à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, foi marcada pela emoção de uma equipe comprometida em levar adiante o sonho de tirar o projeto do papel. Em cada uma das falas, as autoridades presentes reafirmaram a magnitude do projeto e as características que o fazem diferente dos demais.
“O que mais nos motivou nesse trabalho foi fazê-lo”, disse Francisca. Em seu discurso, ela afirmou que o que se está propondo é a expressão do que a universidade pode fazer: além da formação de cidadãos, é estar de portas abertas para a sociedade. “Afinal não há museus sem braços abertos”, pontuou. A coordenadora do Núcleo de Patrimônio Cultural da UFPel também desafiou as lideranças presentes a tirarem a proposta do papel: “O que entregamos para vocês hoje é uma utopia. Por favor, façam-na real”.
O pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento, Luiz Osório dos Santos, disse estar emocionado com o fato de poder visualizar o contraste entre as imagens do projeto e a forma como o prédio se encontra atualmente. “É um choque! Nenhum de nós pode ficar indiferente a isso”. Segundo ele, a nova Laneira tem a missão de recolocar esse patrimônio na história de forma encantadora, pela carga de humanidade presente no que se pretende: além desse grande centro cultural, um grande espaço do edifício já está sendo preparado para ser o Centro Regional de Cuidados Paliativos.
“Esse projeto não é um fato comum, em nenhuma universidade”, colocou Osório, ao lembrar o fato de que foram professores e alunos os responsáveis por fazer um planejamento dessa grandiosidade.
Para o reitor Mauro Del Pino, a Casa dos Museus é um exemplo concreto de como se colocar o conhecimento em função da transformação da sociedade. Em especial ele destacou a transformação do patrimônio cultural, uma especificidade da UFPel e da cidade de Pelotas. “Isso é algo que a cidade reclama para si e que para nós é campo de trabalho”, disse. Abre-se agora, segundo Del Pino, um grande desafio, que é o de concretizar o que está pensado. A próxima etapa, dessa forma, é a captação de recursos.