Apoios garantem Epicovid-19BR
A FAPESP e o Todos pela Saúde, iniciativa do Itaú Unibanco para enfrentar a covid-19 no Brasil, vão apoiar as três últimas fases da pesquisa EPICOVID-19 BR, o mais amplo estudo sobre a prevalência de infecção da COVID-19 realizado no país. A quarta fase, realizada de 27 a 30 de agosto, é financiada pela iniciativa Todos pela Saúde (Itaú-Unibanco) e a quinta e sexta fases, em setembro e outubro, contarão com recursos da FAPESP. As três primeiras fases da pesquisa, realizadas a cada 15 dias entre maio e junho, foram coordenadas pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, com recursos do Ministério da Saúde.
Projetado em seis etapas, o EPICOVID-19 BR tem como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e letalidade, além de oferecer subsídio para políticas públicas e medidas de isolamento social. Nas três fases iniciais foram testadas mais de 89 mil pessoas em 133 municípios do território nacional.
“O EPICOVID-19 é o mais abrangente estudo epidemiológico sendo feito no Brasil com relação à presente epidemia de coronavírus. Seus resultados terão impacto no entendimento da imunidade coletiva, da taxa de contágio e, por conseguinte no retorno das atividades”, diz Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.
O apoio da FAPESP às duas últimas fases pesquisa se fará no âmbito do Projeto Temático EPICOVID-19-BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência, coordenado por Marcelo Burattini, da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que integrou a equipe de coordenação das etapas iniciais do estudo.
“A continuação do EPICOVID19, agora com novos financiadores, é essencial para a compreensão da evolução do coronavírus no Brasil. O estudo já mostrou que as crianças têm o mesmo risco de infecção que os adultos, que a maioria dos infectados apresenta sintomas e que os mais pobres possuem mais risco de infecção do que os mais ricos. As novas fases permitirão que o estudo siga produzindo conhecimento para o enfrentamento do coronavírus no Brasil e no mundo”, diz Pedro Hallal, reitor da UFPel e coordenador-geral da EPICOVID-19 BR. As três últimas etapas da pesquisa seguirão a mesma metodologia dos inquéritos anteriores. “O desenho básico do inquérito será mantido para permitir agregar informações aos inquéritos anteriores”, explica Burattini.
Serão avaliados os níveis de infecção nos mesmos 133 municípios das fases anteriores. Cada município será dividido em 25 setores censitários, nos quais serão selecionados aleatoriamente 10 domicílios. Em cada um dos domicílios, um morador, escolhido por sorteio, responde a um questionário com 15 questões sobre escolaridade, cor da pele, atividade econômica e condições de saúde, e outro morador é testado para a identificação de anticorpos contra o SARS-CoV-2.
O inquérito utilizará testes rápidos dos anticorpos SARS-CoV-2 IgG/IgM, com sensibilidade de 86,4% e especificidade de 99,6%. Na quinta e sexta etapa, a equipe de entrevistadores, que será treinada também para a execução dos exames, será contratada por meio de licitação. Um país, várias epidemias Os três primeiros inquéritos identificaram uma prevalência média de contágio de 3,8% no conjunto da população da amostra. Na calha do Amazonas, no entanto, a média foi de 20%. Na cidade de Breves, no Pará, por exemplo, 24,8% das pessoas testadas apresentaram anticorpos contra o SARS-CoV-2.
Entre o primeiro e o último levantamento, a prevalência da infecção dobrou na população como um todo: os percentuais passaram de 1,9% (1,7- 2,1%, pela margem de erro), na primeira etapa, para 3,1% (2,8 – 4,4%), na segunda, e alcançaram 3,8% (3,5 – 4,2%), na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social (percentual de pessoas que ficam sempre em casa) caiu de 23,1% para 18,9%.
Os resultados também demonstraram que, no período coberto pelo inquérito, “várias epidemias” estavam em curso no país. Enquanto no Norte 10% da população, em média, tinha ou já havia contraído o coronavírus, no Sul esse percentual ficava em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. No caso dos indígenas, o risco de contrair a doença mostrou-se cinco vezes maior do que os brancos.
A pesquisa também estimou que crianças e adultos têm a mesma chance de contrair o vírus e que aproximadamente 90% dos casos apresentam sintomas. Metade dos entrevistados com anticorpos para a COVID-19 declarou ter dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%). De cada cem infectados, um foi a óbito. “Esta parceria entre o Todos pela Saúde e a FAPESP é mais uma ação de sucesso, aprovada em tempo recorde e em um projeto de relevância nacional.”, diz Burattini.