Forma corporal é tema de tese defendida no PPGE
Nos últimos anos, pesquisas têm mostrado que, juntamente com o aumento dos níveis de obesidade geral em adultos e crianças, comumente medido pelo Índice de Massa Corporal (IMC), há um aumento do excesso de gordura na região abdominal, também conhecida como região central ou forma corporal androide.
O excesso de gordura localizado na região abdominal, geralmente medido através de circunferências, como a circunferência da cintura e do quadril, é mais comum em homens e representa um maior risco para determinados tipos de doenças, como hipertensão arterial e diabetes tipo 2, por exemplo. Já as mulheres costumam ter gordura mais concentrada na região dos quadris e coxas (forma corporal ginecoide), representando menor risco para a saúde.
Uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas em parceria com a Universidade de Cambridge (Inglaterra) avaliou a forma corporal de crianças, indo além das simples medidas de circunferência da cintura e do quadril ou do tradicional IMC. Os autores utilizaram medidas calculadas por um equipamento chamado ‘Three-Dimensional Photonic Scanner’, que capta imagens tridimensionais do corpo e calcula uma série de medidas capazes de detalhar diferentes dimensões da forma corporal dos indivíduos.
O estudo foi conduzido pelo doutorando Leonardo Pozza dos Santos, sob orientação dos professores Aluísio Barros, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, e Ken Ong, da Universidade de Cambridge, como parte de seus estudos no curso de Doutorado do PPGE. A tese elaborada por Pozza chega à sua banca nesta terça-feira (29), às 14h, sob avaliação dos professores Pedro Hallal, Maria Cecília Assunção e Maria Cristina Gonzalez. A defesa ocorre no auditório do prédio B do Centro de Pesquisas em Saúde Dr. Amílcar Gigante, localizado na rua Marechal Deodoro, 1160.
A primeira parte do estudo identificou quatro componentes da forma corporal de 3,4 mil crianças participantes da coorte de nascimentos de 2004. No entanto, os autores verificaram que somente um desses quatro componentes foi captado também por medidas tradicionais, como o IMC e circunferências da cintura e do quadril, e de composição corporal (percentual de massa gorda e massa magra, por exemplo), que são amplamente utilizadas na prática clínica para avaliação da obesidade de indivíduos e populações. Os demais componentes identificados não apresentaram relação nenhuma com essas medidas. Esse resultado é importante, pois indica que a forma tradicional como a obesidade é avaliada pode não estar capturando as diferentes dimensões da forma corporal das crianças. Além disso, o estudo verificou também que mesmo aos seis anos de idade, período anterior às mudanças hormonais ocorridas na adolescência, meninos já apresentam uma forma corporal mais central do que as meninas.
A segunda parte do estudo focou nos determinantes precoces da forma corporal das crianças. Os resultados mostraram que, além do sexo, o que determina uma forma corporal mais centralizada é o crescimento intrauterino inadequado, representado pelo baixo peso ao nascer, bem como o rápido ganho de peso do nascimento aos dois anos de vida. Por outro lado, o tipo de alimentação consumida na infância (avaliada nas idades de um, dois e quatro anos) esteve mais associado a questões socioeconômicas do que a forma corporal propriamente dita.
Esses resultados reforçam a importância de um pré-natal apropriado, de modo que a criança nasça com peso adequado, além de um controle do ganho de peso nos primeiros anos de vida, evitando o acúmulo de tecido adiposo na região central. Ademais, homens precisam estar atentos à concentração de gordura na região do abdômen desde cedo, para evitar possíveis problemas de saúde no futuro. Por fim, é importante que mais pesquisas avaliem esses novos determinantes da forma corporal não captados pelo IMC, no sentido de aprimorar a avaliação nutricional de indivíduos e populações, bem como auxiliar na elaboração de políticas de prevenção e combate à obesidade total e abdominal.
Entendendo o Three-Dimensional Photonic Scanner
O Three-Dimensional Photonic Scanner é um aparelho óptico e computadorizado que gera uma imagem tridimensional do nosso corpo a partir de raios de luz emitidos dentro de uma câmara escura. Com base na imagem tridimensional gerada, o aparelho é capaz de calcular dezenas de medidas antropométricas, como circunferência da cintura, do quadril, comprimento dos membros, entre outras, em um tempo médio de apenas dez segundos. Criado inicialmente para ser utilizado na confecção de roupas, o Three-Dimensional Photonic Scanner tem sido utilizado recentemente no estudo da antropometria e da forma corporal em crianças e adultos. Trata-se de um método não invasivo e que não gera desconforto algum ao usuário.