Aberto período de inscrições para quilombolas e indígenas
A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) consolida mais um importante passo rumo à inclusão. Foi publicado o edital que dispõe sobre o processo seletivo específico de candidatos de comunidades quilombolas e indígenas. O período de inscrições está aberto e se estende até o dia 3 de agosto.
Serão ofertadas dez vagas, cinco para quilombolas e cinco para indígenas. Os cursos com vagas disponíveis são Administração, Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Zootecnia – cada qual com uma vaga.
O processo seletivo será composto por uma prova de redação em língua portuguesa e elaboração e defesa de um memorial descritivo, que se constitui de um relato acerca da história de vida do candidato, incluindo elementos como a trajetória escolar, a vivência em comunidade, as expectativas de ingresso na Universidade e a importância dessa formação para a realidade da comunidade quilombola ou indígena. A redação está marcada para o dia 11 de agosto, e a defesa do memorial a partir do dia 12, em cronograma a ser informado.
Dentre os requisitos para inscrição estão uma declaração da respectiva comunidade do candidato, sobre sua condição de pertencimento étnico, assinada por pelo menos três lideranças reconhecidas, além de declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai) ou da Fundação Cultural Palmares.
Na avaliação da chefe do Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (NUAAD) da UFPel, Georgina Lima Nunes, trata-se do resgate de uma dívida da Universidade, que era a única do Rio Grande do Sul que ainda não tinha ações afirmativas até 2012. Apesar disso, com as vagas para quilombolas e indígenas a UFPel passa ser a sétima universidade do país a fazer esse tipo de política.
Segundo ela, o grande mérito é das próprias comunidades que protagonizaram a luta que originou esse acesso. Para dar forma à proposta, consultas e encontros com os grupos foram articulados. Essa ausculta apontou, inclusive, os cursos que seriam preferenciais para atender essas comunidades. “É um ingresso que não é de ‘um indivíduo’, mas do grupo que ele representa”, ressaltou.
Reuniões periódicas estão sendo feitas com os coordenadores dos cursos que receberão este público, de forma a chamar atenção às particularidades da questão. “São outros capitais culturais que vêm agregar à Universidade. Aos professores, cabe o desafio de congregar esse conhecimento e desafiar-se para além do que se sabe, em metodologias, pedagogias e práticas docentes”, disse.
A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Ediane Acunha, comemora a conquista desse desafio em menos de um semestre. A Coordenação de Ações Afirmativas e Políticas Estudantis (CAPE), à qual está vinculada o NUAAD, foi fundada em dezembro de 2014 e já rende frutos dessa magnitude. Segundo ela, as vagas por cotas contemplam pretos, pardos e indígenas, mas esse público frequenta escolas regulares e vive em ambiente que já não é o da aldeia ou do quilombo. “Para a Universidade, é um avanço. Amplia e democratiza o acesso”, afirmou, mencionando que, assim, a instituição de ensino superior deixa de lado a visão corrente de que é um espaço elitizado.
De acordo com a pró-reitora, a intenção não que é que esse público se adapte à Universidade, mas a Universidade a ele. “A ideia não é fazer um nivelamento, mas criar mecanismos para se moldar à cultura dessas pessoas”, ressaltou.
Vivência acadêmica
Receber diferentes culturas e vivências já tem sido recorrente para a UFPel. No entanto, receber indígenas e quilombolas é uma novidade que traz consigo um grande desafio. Para o pró-reitor de Graduação, Álvaro Hypolito, é um início da recuperação de uma dívida histórica com a sociedade. “O desafio, em termos acadêmicos, é encontrar a forma mais adequada de trabalhar com uma cultura que não tem sido incluída”, avaliou.
Coordenadores e professores já vêm participando de ações para contemplar essa nova característica da UFPel. “Esse projeto não é de alguns cursos, mas da Universidade como um todo. Teremos um trabalho de apoio no sentido de fazer com que a experiência seja exitosa”, adiantou.
Para mudar o país
Para o reitor da UFPel, Mauro Del Pino, trata-se de uma grande conquista de comunidades historicamente excluídas da educação superior. Ao mesmo tempo, é um marco também para a UFPel, comprometida cada vez mais com uma educação capaz de compreender os principais problemas brasileiros, entre eles a dificuldade histórica de acesso à universidade. “Enfrentamos esses problemas através do direito universal de todos de forma inclusiva, oportunizando a formação necessária para mudar o país”.
Mais informações sobre o processo seletivo podem ser obtidas neste link.