Criadas vagas para quilombolas e indígenas
Uma resolução aprovada por maioria absoluta pelo Conselho Coordenador do Ensino, da Pesquisa e da Extensão da UFPel na manhã desta quinta-feira (7) firma um novo passo da Universidade em direção a uma democratização cada vez maior do acesso às suas cadeiras. O órgão colegiado aprovou a criação de dez vagas especiais, voltadas para estudantes provenientes de comunidades indígenas e quilombolas, repetindo um movimento já realizado por outras instituições federais de ensino superior do Rio Grande do Sul.
A proposta, apresentada pela Coordenação de Ações Afirmativas e Políticas Estudantis da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (CAPE/PRAE), representa, segundo o coordenador, professor Rogério Rosa, uma consolidação do processo iniciado pela política de cotas sociais. “Este é um passo a mais nesse movimento que a Universidade já vem tendo nos últimos anos”, diz Rosa.
A criação de vagas específicas para quilombolas e indígenas é apoiada na legislação brasileira, por meio da lei 12.711 e pelo decreto 7824, ambos de 2012, que permite e incentiva os novos espaços de acesso para grupos cuja possibilidade de ingresso na universidade é dificultada por diversas condições sociais e culturais. A possibilidade desse ingresso também foi alvo de resolução do Conselho Universitário, do mesmo ano da promulgação dessa legislação.
Após uma série de contatos realizados por entidades governamentais e movimentos sociais, a Pró-Reitoria elaborou o projeto, que cria vagas específicas para os habitantes de tais comunidades em cursos cujas áreas são consideradas críticas pelas comunidades, no que toca à dependência dos grupos a profissionais que venham de fora desses locais, especialmente na área da saúde e das ciências da terra, conforme explica o coordenador da CAPE. Foram, portanto, solicitadas ao Cocepe uma vaga em cada um dos seguintes cursos: Administração, Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Zootecnia. Cinco dessas vagas são voltadas para comunidades quilombolas e as outras cinco para as indígenas.
A partir da aprovação dessas vagas, a Administração Central da UFPel ainda deverá elaborar uma metodologia de seleção para o ingresso desses estudantes. Além disso, a PRAE já se prepara para os novos desafios e demandas que receberá com a acolhida desses estudantes: “Vamos pegar estudantes com muitas diferenças culturais, religiosas, da própria visão do modo de vida coletivo”, explica Rosa. Dessa forma, programas e ações estão sendo pensadas para garantir a permanência e o auxílio a esse grupo. Uma das ideias é a escolha de alunos e professores parceiros, que serão espécies de tutores para estes ingressantes e o acompanharão durante as atividades acadêmicas.
Outro ponto levantado, dessa vez pela vice-reitora da UFPel e presidente do Cocepe, professora Denise Gigante, é a possibilidade de que as vivências e modo de vida desses novos estudantes sejam fonte para o desenvolvimento de novos projetos e programas de pesquisa e extensão: “Podemos aproveitar a presença deles para a que as unidades possam pensar novos trabalhos”.
Compromisso com a diversidade
Rogério Rosa lembra que a ação é uma possibilidade em colaborar na diminuição da desigualdade de oportunidades que os dois grupos sofrem: “Sem o ingresso por vagas específicas, nós dificilmente teríamos estudantes vindos dessas comunidades”. O coordenador ainda afirma que se a universidade não adotar formas especiais de acesso desses grupos, vai manter sempre uma porta fechada para a formação humana e profissional desse grupo.
Para o reitor da UFPel, professor Mauro Del Pino, esse é mais uma ação que traduz o grande compromisso que a gestão tem com a democratização do acesso à instituição e com a inclusão social dessas comunidades com as quais a sociedade mantém uma dívida histórica. “A Universidade está se preparando para que esses estudantes encontrem na UFPel as condições adequadas para desenvolver aqui seus estudos e contribuir profissionalmente para uma sociedade brasileira onde todos e todas possam se sentir verdadeiramente cidadãos”, afirma o reitor. Essa visão é reiterada pela vice-reitora, que lembra a representatividade populacional dentro dos bancos universitários, díspar em relação à sociedade da região e do próprio país.