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Alunos do curso de Teatro apresentam Experimento Zaúm

Cartaz Zaúm - C“Experimento Zaúm” é o título do espetáculo resultante das disciplinas Montagem Teatral I e II do curso de teatro de 2014. É também um experimento poético, pois foi construído a partir da interação de formas de atuação, técnicas composicionais, vídeo-arte, além de elementos diversos elementos visuais. A idéia do experimento poético é justamente a ação de indivíduos localizados em um tempo/espaço – no caso os estudantes do curso de teatro da UFPel e outros artistas envolvidos – sobre formas selecionadas arbitrariamente de poéticas do passado. Experimentar poeticamente significa atuar tecnicamente sobre determinada forma.

A estreia desta nova obra ocorre no próximo sábado (25), às 20h30min, no Laboratório de Experimentos Poéticos – Sala Carmen Biasoli, localizado na rua Almirante Tamandaré, 301. Também haverá apresentações nos dias 26, 28 e 29 de outubro e 1º, 2 e 5 de novembro. A entrada é sempre gratuita.

O experimento teve três etapas bastante distintas: uma dedicada a estudos e debates para eleição de uma temática que interessasse a todos os participantes; outra dedicada a construção de uma dramaturgia e; a última dedicada a organização das criações artísticas para ser apresentada a espectadores.

A primeira fase resultou na escolha do tema desenraizamento humano. Esse tema foi escolhido por conta de um contexto vivido pelo grupo no início do ano de 2014: a interdição do espaço de criação por falta de infraestrutura. Ao estudar mais profundamente esse sentimento desconfortável, acabou-se por concluir que o desenraizamento humano é parte natural da condição humana e é justamente o desenraizamento, isto é, a consciência de não pertencimento a alguma situação que pode promover rupturas em um modo de perceber a vida. Evidentemente há diversos modos de se sentir desenraizado: há o desenraizamento social, o desenraizamento patológio, o simbólico, o econômico. De modo generalizado, sentir-se desenraizado é ter a sensação de não pertencimento a uma situação.

Foi a partir desses estudos que toda a dramaturgia foi construída. A estrutura geral do experimento busca desenraizar o espectador dos modos mais consolidados de perceber o teatro. Todas as ações do experimento buscam revelar algum tipo de desenraizamento e para tanto foi utilizada as seis estruturas da teatralidade: a sedução, a cerimônia, o rito, o contra-rito, o teatro e a festa. Em cada uma dessas estruturas foi acoplado certo tipo de desenraizamento. Desse modo, a estrutura geral da dramaturgia busca tirar do espectador a idéia de teatro arraigada na nossa cultura e apresenta possibilidades contemporâneas da cena teatral, mais especificamente de estudos do pós-dramático.

Ao propor formas dramatúrgicas que pudessem criar sensações de desenraizamento também no espectador, o grupo chegou na última parte do processo com o modo mesmo da linguagem utilizado na obra: a linguagem zaúm, muito utilizada pelos formalistas russos. O zaúm promove justamente o desenraizamento cerebral. O “entendo” tem se trocado pelo o “sinto”. O lance do experimento é o mesmo do “lance” do poema: arquiteta-se a palavra de tal modo que ela vira imagem, isto é, desenraiza-se da sua estrutura de signo arbitrário e cerebral deixando-se transcender para um sentido imediato e não literal, mas metafórico.

Para que se entenda melhor o Zaúm ou linguagem do zaúm, uma citação:

“Etimologicamente, o que está za (além de) um (inteligência, intelecto). Coisa excessivamente intricada, complexa, linguagem transracional. Como categoria da experimentação poética, foi introduzida a partir de 1910 pelos poetas cubofuturistas e futuristas russos D. Burliuk, V. Khliébnikov, V. Kamienski, A. Krutchônnikh e outros, para representar imitação de sons, ritmos, etc., abstraídos dos sentidos habituais do léxico. Para os futuristas era uma língua artificial, constituída de combinações arbitrárias de sons sem conteúdo lógico mas capazes de transmitir sensações individuais graças ao colorido emocional que cada poeta pudesse dar às suas combinações de sons.” (n.t. IN: VIGOSTSKI, 2001, p.70)

 

Informações técnicas:

Elenco: Fernanda Heck, Francine Furtado, Gabrielle Winck, Hirina Renner, Joanderson Floriano, Lucas Galho, Monique Carvalho, Paula Brandão, Viv Famil.

Direção e Dramaturgia: Adriano Moraes

Figurinos: Larissa Martins

Cenários: Marcelo Silva

Iluminação: Ederson Pestana

Trilha musical: Eugênio Bassi

Interferência visual: Juliano Bg

Operação de luz: Rodolfo Furtado

Publicado em 21/10/2014, nas categorias Agenda, Eventos Culturais, Notícias.