SIIEPE: Café Pedagógico debate a inclusão na UFPel
Estimulados por relatos de vivências cotidianas de estudantes com deficiência, professores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) debateram, nesta quarta-feira (22) práticas de inclusão que possam melhor acolher a comunidade acadêmica. A conversa ocorreu durante o painel “Café Pedagógico”, durante a 11ª Semana Integrada de Inovação, Ensino, Pesquisa e Extensão (SIIEPE).
Reunidos em torno de grandes mesas cobertas de papel pardo – onde posteriormente registraram suas impressões -, os docentes puderam compartilhar experiências, ideias, inquietações e expectativas em relação ao tema.
A intenção do encontro, conforme o chefe do Núcleo de Formação de Professores da Pró-Reitoria de Ensino (Nufor/PRE), Alessandro Cury, foi abrir espaço de fala sobre como a inclusão é tratada em sala de aula. O momento também tinha a proposta de acolher os professores, sanar dúvidas, oportunizar interlocução entre pares e fortalecer o trabalho coletivo para buscar superar dificuldades com vistas à construção de uma Universidade mais cidadã e mais próxima de seu público.
Motivando a troca de ideias, sobre as mesas e nas paredes estavam depoimentos de 22 estudantes com deficiência dados ao Grupo de Interlocução Pedagógica (GIP/UFPel), que promovia o evento. “São relatos marcantes, alguns positivos, outros negativos, para que a gente possa fazer uma discussão e as pessoas expressarem a sua percepção acerca disso”, salienta Cury.
Segundo ele, a inclusão que se quer extrapola a chegada do estudante com deficiência no ensino superior, mas engloba a possibilidade de que essas pessoas sejam partícipes. “Que sejam atuantes e se sintam acolhidas, como é costume e hábito entre os nossos estudantes”, afirma.
Atualmente, a UFPel possui 387 alunos e alunas com necessidades específicas identificados pela Coordenação de Acessibilidade da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Coace/Proafe). São 178 pessoas com Transtorno do Espectro Autista, 70 com deficiência física, 56 visual, 47 auditiva, 19 intelectual, 11 com deficiência múltipla e seis com altas habilidades/superdotação.
Na ocasião, servidoras da Coace apresentaram o trabalho desenvolvido no órgão e trouxeram informações sobre inclusão. Atendendo a estudantes e servidores, a Coace presta serviços como acompanhamento com psicopedagogas, atendimento com Tradutores e Intérpretes de Libras, acompanhamento com estagiários de Terapia Ocupacional e outros membros da equipe, tutores, grupos de apoio e encaminhamento de benefícios de assistência social.
O Café Pedagógico contou ainda com a exposição de nove trabalhos da Mostra de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) sobre Diversidade, uma iniciativa do projeto “Diversidade nas Organizações”, do Centro de Ciências Sócio-Organizacionais da UFPel.
Consolidação do debate
As discussões darão origem a um documento, contendo as principais percepções do grupo, que será encaminhado à reitoria da UFPel e deverá ser um guia para contribuir no planejamento de ações futuras.
Os professores mencionaram aspectos como desistência do curso, riscos relacionados à saúde mental dos estudantes, docentes não acolhedores, falta de material adaptado, suporte dos próprios alunos na condução do fazer pedagógico e estudantes com deficiências não aparentes que preferem não falar a respeito ou não apresentar laudo – para evitar situações constrangedoras ou perseguições, o que reflete na falta de conhecimento da situação por parte do professor.
Dentro dos pontos levantados como sugestões, estão formação continuada para professores, melhoria de condições de acessibilidade na estrutura institucional, professores mentores e a valorização docente – incluindo questões de acessibilidade no Relatório Anual de Atividades Docentes (RAAD).
As principais observações foram relacionadas à necessidade de acolhimento aos estudantes com deficiências e a prática da empatia, oportunizando que essas pessoas se sintam pertencentes ao espaço da Universidade – ação que precisa ser coletiva.
Construção conjunta
O pró-reitor de Ensino, Antônio Maurício Alves, avalia que a UFPel tem conseguido avançar na temática da inclusão mesmo que em ritmo inferior ao que se quer e precisa. Exemplos concretos dessa melhoria, aponta, são a criação da Proafe e a discussão sobre o assunto que vem sendo feita pelo GIP.
Ao reconhecer a situação, o gestor pontuou o déficit financeiro e o acúmulo de funções docentes como agravantes do cenário. No entanto, salienta que, mesmo frente a esse panorama, a UFPel é uma das instituições de ensino superior em melhores condições em inclusão no país. “Estamos bem no cenário nacional, mas aquém do que se quer. Pode não ser tudo ‘flores’, mas também não é tudo ‘pedra’”, considera.
Segundo ele, um dos grandes desafios é a formação, especialmente que atinja pessoas que ainda não estejam sensibilizadas para esse debate. O pró-reitor mencionou também a Política para Coordenações de Cursos de Graduação, instrumento para valorização das lideranças, elo fundamental no processo de inclusão. Em breve o documento será disponibilizado à discussão.
Segundo o gestor, o papel do GIP é fundamental na interlocução junto às unidades, como é o caso do painel realizado durante a SIIEPE. “Que isso não fique entre essas quatro paredes, mas que pensemos como mobilizar colegas para ‘comprar’ esse debate junto com a gente. A PRE é parceira para o que estiver ao alcance, e o que não estiver vamos buscar. É de fato uma ‘briga’ de todos nós”, destaca.
Envolvimento
Todas as unidades acadêmicas e pró-reitorias possuem um representante no GIP. Por isso, professores, técnico-administrativos e estudantes podem se aproximar dessas figuras para apresentar demandas. Os membros do GIP estão listados aqui, com seus respectivos contatos.
