Redes sociais em debate na UFPel
A interação através de sites como Twitter e Facebook foi um dos temas mais recorrentes no debate “As transformações na comunicação”, realizado nesta terça-feira(19), no Campus Porto, dentro do Ciclo de Discussões do XXII CIC e XV ENPOS. Os debatedores do evento foram os professores Raquel da Cunha Recuero (UCPel) e Ricardo Matsumara Araújo (UFPel), ambos com doutorado em suas respectivas áreas: Comunicação e Informação; e Ciência da Computação. Casados, os pesquisadores compartilharam o notebook com o software Prezi, de apresentação em nuvem, para explanações que se complementaram: Raquel traçou um panorama da comunicação através das novas tecnologias, expondo algumas problemáticas, e Ricardo, logo em seguida, divulgou as ferramentas que buscam otimizar essas experiências e solucionar eventuais conflitos.
Raquel explicou os fluxos informativos, decorrentes do aumento da produção de conteúdo baseada no maior acesso às novas tecnologias. Ela relatou como as fotografias se tornaram itens descartáveis na era digital e como a proliferação de blogues obrigou o buscador Google a alterar sua forma de pesquisa. Além disso, comentou dados de suas pesquisas em análises de redes sociais. Segundo ela, as conexões ou laços sociais entre usuários, além de amplificar a audiência dos aplicativos, garantindo a continuidade destes, aumenta as influências das informações circulantes na rede sobre nossas decisões. Um exemplo do poder de influência das redes são os protestos nas ruas ocorridos em junho, que foram definidos através do Facebook e contaram com adesão muito superior do que manifestações com demandas similares, porém convocadas de modo convencional. A docente demonstrou que esses movimentos são mapeáveis, através da apresentação de um gráfico dos níveis de interação verificados no “Ato Pelotas” (atividade local integrada aos protestos em nível nacional), além de uma nuvem de tópicos com os conceitos mais utilizados nas redes, em torno do evento.
A pesquisadora estima que as próximas eleições serão um laboratório para a verificação de como a mídia influencia as decisões dos votantes, já que nos pleitos mais recentes, afirma ter verificado correlações visíveis entre intenções de voto e resultados finais.
Raquel também exemplificou as peculiaridades regionais de comportamento, ao revelar que no Brasil, os telecentros de acesso à internet subsididados pelo governo tiveram baixa procura na época de sucesso do Orkut porque bloqueavam o acesso ao site, levando seu público-alvo (a população de menor renda) a pagar pelo acesso em lan houses de suas comunidades para poder conectar-se à sua rede favorita. A manipulação dos “tópicos-tendência” do Twitter por grupos específicos, como os fãs do grupo Restart, e o cyberbullying foram outros aspectos da fala da professora.
Ricardo, por sua vez, explicou como a comunidade acadêmica está se organizando para estudar os fenômenos que estão surgindo com os novos meios de comunicação, compreendendo e criando mecanismos para viabilizar e expandir essas interações.
O pesquisador relacionou a chamada “computação social” à intersecção entre as ciências computacionais e as ciências sociais, comentando as principais ferramentas de análise que possibilitam visualizar padrões e aplicar métodos qualitativos e quantitativos.
Ele destacou algumas tendências utilitárias das redes, como a função “retuíte” do Twitter e a “compartilhar” (share) do Facebook, que são utilizadas de forma seletiva pelos usuários de acordo com seus interesses. Através de “filtros colaborativos”, a rede gera valor para si mesma. Além disso, a “curadoria” da informação não é mais centralizada, e sim distribuida através dos usuários.
A enciclopédia virtual Wikipédia foi lembrada como exemplo de edição colaborativa, já que o conteúdo pode ser alterado por qualquer usuário, apesar da existência de moderadores.
Ricardo salientou em diversos momentos a possibilidade de a computação social estimular os comportamentos dos usuários para os resultados mais produtivos para a coletividade. Sob essa ótica, um aplicativo de entretenimento como o Farmville (Fazendinha), onde as pessoas utilizam seu tempo atendendo à satisfação pessoal e social, poderia ser modelado de forma que sua utilização atendesse alguma necessidade de outro usuário, informando, por exemplo, a rota mais curta para determinado destino.
(Marcelo Fialho – Jorn. MTB RS 16496)