Universidades devem ser escolas de liberdade, citou Nóvoa
O ex-reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, proferiu a conferência de abertura conjunta do Ciclo de Eventos Formativos da Constituinte e do XXII CIC e do XV Enpos, no fim da tarde da segunda-feira (18), no Campus Porto da UFPel. Ele abordou o tema As transformações da Universidade, Riscos e Oportunidades e fez sua apresentação sob três aspectos, Pedagogia, Ciência e Univercidade, com “C” mesmo, fazendo uma ligação da Instituição com a sociedade.
“As Universidades já não são apenas universidades. Não são só mais escolas, são centros de pesquisa e onde se formam empresas”, disse. Abordando sob o prisma do primeiro aspecto, o pedagógico, Nóvoa afirmou que o crescimento astronômico do número de estudantes de ensino superior no mundo traz riscos como a massificação, a desvalorização dos diplomas e a desqualificação da pedagogia. Dos 60 milhões de acadêmicos existentes em 1990 e dos 170 milhões de 2010, estima-se que este universo chegue a 400 milhões em todo o planeta, em 2030.
Mas ao mesmo tempo existem as oportunidades, que, conforme o professor português, são para a democratização do ensino, para uma maior participação cultural e para a realização de uma necessária revolução pedagógica. Esta revolução, diz Nóvoa, deve ser da aprendizagem, do modo de ensinar, com colaboração e cooperação, e do estar atento às culturas das profissões, tanto na graduação quanto na pós e na formação continuada. “Mas tudo isto não deve resultar no estreitamento dos estudos universitários e na profissionalização especializada precoce”, alertou.
Ainda dentro do aspecto pedagógico, Nóvoa observou que nos últimos anos os professores perderam grande parte de sua autonomia. “A autoridade nas Universidades passou dos acadêmicos para os gestores. É preciso reconquistar a centralidade da profissão acadêmica”, defendeu.
Ciência
O fato de grande parte das universidades ter tomado um perfil de “research universities”, ou modelo de Harvard, preocupa Nóvoa. Esta síndrome, como ele qualifica, pode levar aos riscos de centralidade da pesquisa, da valorização da pós-graduação e internacionalização demasiadas. Como resultados não desejados chegariam o produtivismo, com intensificação do trabalho acadêmico, e a mercantilização das universidades. “Precisamos de uma ciência mais lenta, que nos permita pensar, que nos dê mais tempo para ler e até para falhar”, ponderou o português.
Entretanto, este novo contexto traz como oportunidades uma maior ligação entre a pesquisa e a pós-graduação, que é uma espécie de “primado da criação”. “A Ciência tem que trabalhar em áreas de fronteira das disciplinas, é a revolução da convergência”, sublinhou o ex-reitor.
Além dos muros
O professor português defende a existência de uma Universidade que governe “dentro pensando fora, vendo o que a sociedade necessita, com os olhos postos no país, para além da Universidade”.
Nóvoa encerrou sua palestra lançando a ideia que a função das Universidades é transformar o passado em futuro e citou um autor seu conterrâneo, Bernardino Machado, que disse: “uma Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade”.
Abertura
Durante o ato de abertura dos eventos, o reitor Mauro Del Pino disse que aquele era um importante momento de reflexão sobre a pesquisa e a pós-graduação na Universidade e mais importância ganhava já que estava articulado com o começo da Constituinte Universitária.
O reitor fez referência aos debates temáticos que se desenvolverão durante toda a semana e à importância da definição de uma metodologia para a Constituinte que permita a participação de todos, para que assim uma nova universidade possa ser construída na UFPel.
Manifestaram-se na solenidade ainda o vice-reitor, Carlos Mauch, a pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Denise Gigante, e os coordenadores de áreas da Pró-Reitoria, Lorena Gill, de Pós-Graduação, Luciano Agostini, de Pesquisa e Iniciação Científica, e Mário Canever, de Inovação Tecnológica.
Sobre Nóvoa
Recentemente concluiu seu segundo mandato como Reitor da Universidade de Lisboa. Doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e em História pela Universidade Sorbonne, em Paris. Com experiência internacional e conhecimento histórico defende que, para fazer um bom trabalho, a escola deve decidir o que é essencial ensinar aos alunos. Também foi professor de importantes universidades estrangeiras, como Genebra, Paris V, Wisconsin, Oxford e Columbia. Autor de centenas de publicações, divulgadas em 12 países.