Espaço de Arte Popular: Encontro de Saberes é inaugurado na UFPel
A comunidade ganha mais espaço dentro da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) com a inauguração do Espaço de Arte Popular: Encontro de Saberes. Ao adentrar o local, que fica ao lado da Livraria da UFPel, na rua Benjamin Constant, 1.071, os saberes populares se tornam ainda mais evidentes e valorizados, ocupando lugar na academia. A abertura oficial ocorreu nesta segunda-feira (04), com presença de autoridades universitárias e mestres da cultura popular, palestra e apresentações artísticas.
O Espaço de Arte Popular: Encontro de Saberes é um lugar de aprendizado e criatividade, dedicado à celebração da riqueza da cultura popular. Um local onde as tradições se encontram e se renovam e onde a universidade e a comunidade se entrelaçam.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Eraldo Pinheiro, destacou, na solenidade, que a inauguração é um sonho realizado. “Sempre pensamos em um espaço que oportunizasse às pessoas entrar na Universidade ou voltar a ela. Esse espaço tem esse papel”, disse. Ao agradecer o empenho das equipes das Pró-Reitorias de Extensão e Cultura (Prec) e Planejamento e Desenvolvimento (Proplan), da Superintendência de Infraestrutura (Suinfra) e parcerias externas que tornaram o local possível, o gestor salientou a importância de a UFPel conhecer as pessoas. “Não estamos em um mundo à parte. Queremos estar junto e que as pessoas tragam suas vivências. Que seja um espaço de luz, de aproximação, e que assim os muros da Universidade fiquem menores”, conclamou.
A vice-reitora Ursula Silva também celebrou o entrosamento entre Universidade e comunidade que se fortalece. “É um espaço de conquista, em sintonia total com a comunidade”, sublinhou. Segundo ela, a Universidade deve lutar pelas causas decoloniais e trazer autores e autoras negras e indígenas para dentro dos currículos, uma demanda que exige envolvimento de todas as pessoas em busca da representatividade. Para a gestora, escolas e comunidades são exemplos de instâncias que podem se fazer presentes no local, como troca e construção de conhecimento e reconhecimento de saberes populares. “Estamos trazendo novos saberes para a Universidade e isso não é pouca coisa. É simbólico. Significa que a Universidade está cada vez mais envolvida com a contemplação da diversidade, da multiculturalidade e dos vários olhares sobre o mundo”, disse. Segundo ela, com essa ação reflete a concretização, a cada dia, daquilo que se pensa que é melhor para a sociedade. “A gente precisa de outros olhares e de novas sensibilidades para salvar nosso planeta e isso passa por todas as culturas, respeito pelo outro, a dignidade de todas as existências, a valorização de todas as vidas e de todas as culturas”, pontuou.
A troca de culturas, saberes e conhecimentos também foi destacada pela reitora, Isabela Andrade, que fez questão de fazer sua acolhida salientando que o espaço recém-inaugurado pertence a todas as pessoas. O esforço das equipes da Prec, Proplan e Suinfra, em um momento ainda de bastante dificuldade orçamentária também foi destacado pela dirigente, que observou que, apesar das fragilidades, a UFPel tem conseguido avançar. “Na nossa comunidade há práticas importantes e fundamentais na formação de estudantes. Esse é um local de expectativas e concretizações. Que ele seja usufruído pela comunidade para que a gente aprenda, viva e faça uma Universidade cada vez mais diversa”, comemorou.
Palestra e apresentações artísticas marcam o uso do espaço
A primeira das atividades realizadas no novo ambiente foi a palestra “A Urgência por Corporeidades Girantes”, trazida pela professora Katya Souza Gualter, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A convidada compartilhou os modos de ação de encontro de saberes que lidera, com êxito, na UFRJ e fora dela. Saudando o público, Katya destacou, de início, que o saber precisa ter sabor de afeto. Avançando no tema, a docente mencionou que as leis precisam de ação, exercício e prática para se colocarem como agentes transformadores de vidas. Para isso, assegurou, a educação para mostrar que a diversidade é uma riqueza da humanidade é fundamental.
A convidada abordou também o trabalho do Grupo de Pesquisa Ancestralidades em Rede e enfatizou: “O Brasil é um país racista. A mobilização antirracista não vem para desdizer os valores da branquitude, mas para afirmar os da negritude”. A professora também adotou o termo “contracolonialismo” – frente aos usuais “decolonialismo” e “descolonialismo”. “Tentaram, mas não fomos colonizados e não queremos isso. Falar em ‘contracolonialismo’ é ir na contramão”, disse, pontuando ainda a urgência por movimentos de aglutinação. “Dentro das universidades públicas, é preciso união e criação uma política de acolhimento e assimilação desses mestres enquanto produtores de conhecimentos acadêmicos”, salientou.
Na sequência, o espaço recebeu participações artísticas do projeto estratégico Núcleo de Teatro da UFPel e do Odara – Centro de Ação Social, Cultural e Educacional, que tem o objetivo de ressignificar e valorizar a cultura negra no município a partir do ativismo com arte, cultura, educação e ação social permeada pela potência do tambor de Sopapo.
Estiveram presentes nas apresentações o mestre griô Dilermando Martins Freitas – um dos fundadores e coordenadores do Odara – Centro de Ação, Social, Cultural e Educacional, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/UFPel) e integrante da Ação Griô Nacional – e Cid Branco, ator desde 1979, tendo percorrido o Brasil fazendo teatro, hoje estudante de Licenciatura em Teatro na UFPel.