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Estudo da UFPel investiga associação entre tempo de tela na infância e neurodesenvolvimento infantil

Um estudo realizado na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) traz informações relevantes para o atual debate em torno do tempo que crianças passam em frente às telas e seu desenvolvimento neurológico. A pesquisa aponta que o tempo gasto no uso de dispositivos eletrônicos por crianças menores de cinco anos pode não estar associado ao neurodesenvolvimento infantil.

“Recomendações de saúde pública sugerem que crianças com menos de cinco anos devem ter o tempo de tela limitado a menos de uma hora por dia. No entanto, o impacto total do tempo de tela sobre o neurodesenvolvimento na primeira infância ainda não estava claro”, diz Otávio Leão, autor da pesquisa desenvolvida em trabalho de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, sob orientação da docente do programa, Andréa Dâmaso.

O estudo acompanhou dois grupos de crianças nascidas em 2004 e 2015 na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e investigou o tempo que passaram em frente à televisão aos dois e aos quatro anos de idade, assim como o uso de outros dispositivos eletrônicos aos quatro anos. O neurodesenvolvimento infantil foi avaliado aos quatro anos de idade usando o Inventário de Desenvolvimento Battelle. Os pesquisadores analisaram a associação entre: (i) tempo gasto assistindo televisão aos dois e quatro anos; (ii) tempo gasto em outros dispositivos de tela aos quatro anos; e (iii) tempo total de tela aos quatro anos (televisão + outros dispositivos) com o neurodesenvolvimento infantil aos quatro anos.

Os resultados mostraram que o tempo total de tela aos quatro anos aumentou de 3,4 horas entre as crianças de 2004 para 4,4 horas, entre as de 2015. No entanto, o estudo não identificou associações entre o tempo gasto em dispositivos e o desenvolvimento neurológico das crianças.

Segundo o autor, os achados do estudo sugerem que as associações entre o tempo gasto em telas e o desenvolvimento neurológico infantil podem não ser causais. Em outras palavras, apesar de terem sido encontradas algumas associações estatisticamente relevantes, elas foram de magnitude muito pequenas e em direções opostas, de forma que a pesquisa não identificou impactos clinicamente significativos.

As descobertas sugerem que a quantidade de tempo gasto em dispositivos de tela pode não estar associada ao neurodesenvolvimento de crianças com menos de cinco anos de idade.

“É importante considerar outros aspectos relacionados ao uso de telas, além da quantidade de tempo em si, ao estabelecer diretrizes para a população pediátrica”, afirma Leão. O autor acrescenta que os resultados se relacionam especificamente ao desenvolvimento neurológico, sem levar em consideração outros domínios que podem ser influenciados pelo uso de tela em crianças, como por exemplo a visão, a sociabilidade e comportamentos sedentários.

Diante desses achados, os especialistas sugerem que recomendações sobre o tempo de tela para crianças deveriam focar em outros aspectos além do simples tempo de exposição, levando em consideração o conteúdo e a interatividade das mídias, por exemplo.

A pesquisa sobre o tema está em constante evolução, e mais estudos são necessários para fornecer uma visão abrangente sobre a uso de telas e neurodesenvolvimento infantil. Os resultados deste estudo são um passo importante nessa direção e podem ajudar pais, cuidadores e profissionais de saúde a tomar decisões informadas sobre o tempo de uso de telas entre crianças menores de cinco anos.

 

Foto: Daniela Xu/Epidemiologia UFPel