Encontro do grupo Lysis discute “David Hume contra os preconceitos em relação ao tema do suicídio”
O grupo de pesquisa Lysis – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Suicídio e Modos de Vida, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), realiza no dia 16 de outubro, às 17h, mais um encontro aberto ao público. A atividade ocorrerá na sala 101 do prédio do curso de Gestão Ambiental da UFPel, localizado na Rua Almirante Barroso, 1.734 – prédio do antigo DNOS, bairro Centro, em Pelotas/RS, com entrada pela Rua Lobo da Costa.
O tema do encontro será “David Hume contra os preconceitos acerca do suicídio”. O texto em debate é o ensaio “Do Suicídio” (Of Suicide), escrito em 1755 pelo filósofo escocês, mas publicado apenas postumamente em 1777, por ser considerado escandaloso e herético para a época.
No ensaio, Hume enfrenta diretamente os argumentos religiosos e morais contra o suicídio, formulando perguntas ainda hoje provocativas: é realmente uma ofensa contra Deus abreviar a própria vida? Devemos algo à sociedade a ponto de sermos obrigados a viver contra a vontade? Pode a vida perder todo o valor a ponto de o morrer ser mais racional que o viver?
Leitura prévia sugerida: O ensaio “Do Suicídio” está disponível na aba Próximo Encontro, no site do projeto.
Sobre o Lysis
O Lysis é um núcleo de pesquisa criado na UFPel pelo filósofo e professor do curso de Gestão Ambiental, Alexandre H. Reis, voltado ao estudo crítico e interdisciplinar do suicídio, entendido não apenas como um evento individual, mas como um fenômeno complexo, situado nas dobras da filosofia, da história, da cultura, da política, do ambiente, da subjetividade e da existência.
Em vez de tratar o suicídio exclusivamente sob a lógica biomédica — que o reduz à expressão de uma patologia individual —, o Lysis propõe uma abordagem que abrace sua densidade ética, social e ontológica.
O trabalho do Núcleo parte de uma constatação incômoda: vivemos uma era que multiplica discursos sobre saúde mental e bem-estar, ao mesmo tempo em que perpetua modos de vida que geram sofrimento, isolamento e desesperança. O nome Lysis provém do grego e significa “libertação”, “desatamento”. É essa abertura que o grupo busca: romper estruturas conceituais rígidas, expor o que foi silenciado e libertar novas formas de compreender e cuidar do sofrimento humano, ou ainda compreender possíveis racionalidades em escolhas justificadas.
O termo aparece em Platão como o nome do diálogo sobre a philia (amizade), evocando a possibilidade da escuta e da abertura ao outro. Na biologia, “lise” designa a ruptura das células, a quebra de formas estabelecidas que permite acessar seus conteúdos — metáfora da atitude intelectual e ética que orienta o grupo.
Reconhecendo a importância da psiquiatria e da medicina, especialmente na escuta clínica e no cuidado terapêutico, o Lysis compreende, no entanto, que nem todo desejo de morrer é expressão de doença mental. Há sofrimentos que nascem do abandono, da exclusão, da violência estrutural, da miséria, da perda de sentido e da violência histórica e social. Há mortes que se inscrevem como gestos éticos, existenciais e políticos. Pensar essas possibilidades com seriedade, coragem e cuidado é parte do compromisso do grupo.
O Lysis se organiza em três linhas principais:
– Suicídio e Saúde Mental: questiona a hegemonia do discurso psiquiátrico tradicional e propõe uma escuta ampliada do sofrimento, valorizando o diálogo entre saúde, filosofia e ciências sociais.
– Filosofias da Morte e Genealogia do Suicídio: investiga as transformações históricas da morte voluntária em tabu moral e jurídico, buscando compreender o suicídio como experiência existencial situada.
– Suicídio e Meio Ambiente: analisa os vínculos entre degradação ecológica, uso de agrotóxicos, impactos do capitalismo e precarização da saúde mental coletiva — propondo novas formas de habitar o mundo.
O Lysis é, assim, um espaço de pesquisa, escuta e criação, comprometido com uma ética do pensamento e do cuidado. O grupo produz conhecimento que não visa normalizar a vida a qualquer custo, mas escutá-la, compreendê-la e transformá-la quando necessário.
O projeto Lysis é certificado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Espelho do grupo no Diretório de Grupos de Pesquisa.
Mais informações estão disponíveis no site e no perfil do grupo no Instagram (@lysisufpel).
