Encontro de Gestoras da UFPel destaca liderança feminina e trajetórias inspiradoras
O auditório do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) foi palco, no dia 1º de outubro, do Encontro de Gestoras da UFPel, promovido pelo Programa Mulheres Líderes da Pró-Reitoria de Gestão com Pessoas. A atividade reuniu servidoras da instituição em um dia de capacitação e reflexão sobre os desafios e conquistas da liderança feminina no ambiente universitário.
A abertura do evento contou com a presença da pró-reitora de Gestão com Pessoas, Taís Ulrich, que destacou o papel transformador das mulheres na administração pública. “Não vemos essa representatividade feminina em muitas outras universidades. A UFPel é um exemplo inspirador e ver este auditório cheio de mulheres líderes é motivo de muito orgulho. Sabemos que o caminho ainda é longo e que há muitos avanços a conquistar, mas momentos como este mostram que estamos na direção certa”, disse.
A reitora da UFPel, Ursula Rosa da Silva, também participou da abertura do evento e reforçou o compromisso institucional com a equidade de gênero. Ela destacou os esforços que vêm sendo realizados em parceria com outras universidades para melhorar a presença e as condições das mulheres nos espaços acadêmicos. “Queríamos promover este espaço de reflexão porque, muitas vezes, enfrentamos situações que nem percebemos serem questões de gênero. É fundamental fortalecer essa consciência para que possamos identificar e combater formas sutis de inibição das nossas atividades acadêmicas e profissionais”, ressaltou.
Durante o turno da manhã, a coordenadora de Pesquisa da UFPel, Márcia Mesko, abordou os desafios enfrentados por mulheres na ciência e na gestão universitária, ressaltando a importância da representatividade e da construção coletiva de espaços de liderança. “A transformação cultural nas instituições começa com encontros como este. Quando falamos de mulheres na ciência, na gestão, na política, estamos celebrando uma trajetória que começou há muito tempo, por mulheres que abriram caminhos para que hoje pudéssemos estar aqui, ocupando esses espaços”, destacou.
Gerindo a universidade para a cidadania
A tarde foi destinada para ouvir e interagir com a ex-reitora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e primeira mulher a ocupar a principal cadeira da instituição, Wrana Panizzi. A convidada afirmou estar grata ao convite realizado pela UFPel, em especial por poder tratar do tema “Os desafios de mulheres em cargos de gestão”.
Em sua visão, já era tempo de discussões como essas se tornarem comuns, especialmente no Rio Grande do Sul, estado no qual se encontra um conjunto grande de mulheres gestoras à frente de instituições federais de ensino. “Uma qualidade do trabalho das mulheres é desenvolver a consciência de que fazer gestão pública é a ideia do coletivo que elas carregam consigo”, afirma. Assim, prossegue Wrana, se ajuda a reforçar conceitos de cidadania, que se baseiam nessa coletividade.
Em sua fala, a ex-reitora buscou partilhar experiências suas para refletir sobre mulheres em funções de gestão. Ela citou que, em geral, elas carregam características como a firmeza, a coragem e a percepção de seu papel. Por isso, é fundamental que se compreenda o que é a universidade, espaço que é dado a essas administradoras como atribuição e compromisso. Para Wrana, outro ponto a ser considerado é o olhar feminino voltado à coletividade: “Cada uma de nós está no singular e no plural, não apenas em um ou no outro; essa ideia de coletivo é muito nossa”.
Ela destacou que a universidade é um lugar de permanente crise – e que isso não é ruim. “Isso acontece porque nada está em definitivo, tudo deve ser sempre pensado e repensado”, diz. Por isso, segundo a ex-reitora, esta é uma instituição necessária para qualquer país que queira ser grande. “A Universidade é uma instituição nobre, a serviço da humanidade, uma instituição republicana, de res publica, de todos”, define. Para compreender o contexto universitário, Wrana também citou as duas culturas que perpassam as instituições de ensino superior: a cultura das ciências e a cultura das humanidades.
Dessa maneira, é necessário, segundo ela, que a instituição universitária busque combater o machismo em seus espaços, auxiliando na força e na coragem das mulheres em manterem suas posições e proporcionando espaços de legitimação, que atualmente são poucos e frágeis.
A convidada lembrou que o espaço inicial da docência feminina é o da “professorinha”, com seu cuidado materno de crianças. Entretanto, é necessário ver as mulheres ocupando espaços no mercado de trabalho, se for da sua vontade, assim como dos espaços da casa, se assim for da vontade delas também.
Uma necessidade, de acordo com Wrana, é não se render ao narcisismo masculino. Além disso, é preciso superar a ótica de trajetórias de superação: “Viver sob a perspectiva de se superar é viver em constante cobrança”.
