Transporte e mobilidade: UFPel e Uergs iniciam atividades de novo curso de Engenharia
Formação oferecida em parceria busca contribuir para a democratização do acesso às cidades
A realidade brasileira revela que aproximadamente 87% da população vive em áreas urbanas, o equivalente a 177 milhões de pessoas, conforme a pesquisa censo (2022) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Como consequência, o predomínio da ocupação das cidades, especialmente nas regiões metropolitanas, traz uma série de desafios para viabilizar a vida urbana. O tema tem mobilizado desde 2019 as Universidades Federal de Pelotas (UFPel) e Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), em parceria, para oferta de formação acadêmica compatível com as necessidades do mundo contemporâneo. O resultado do esforço conjunto teve como marco inicial a aula inaugural do novo curso de graduação, Engenharia de Transporte e Mobilidade, na noite de terça-feira (18), em Porto Alegre.
As primeiras reflexões do curso foram proporcionadas pela palestra do arquiteto e urbanista Fernando Lindner, com base em seus 47 anos de experiência profissional: “Os desafios da área de Transporte e Mobilidade na Região Metropolitana do Rio Grande do Sul e no Brasil”. O arquiteto, que teve passagens pela Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) e a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), elogiou a grade curricular da nova formação, da qual considerou se tratar de curso híbrido de Arquitetura e Engenharia: “Fiquei bastante impressionado. Curso extremamente objetivo”, definiu.
A atividade foi organizada na sede da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), auditório Alceu Collares, em Porto Alegre, município onde o curso é ofertado. O evento contou com a participação de ambas as Reitorias e representações do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Prefeitura Municipal de Porto Alegre e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio Grande do Sul (Crea-RS).
Entre os desafios relacionados à crescente urbanização e à complexidade dos sistemas de transporte, o palestrante criticou o modelo de mobilidade baseado no automóvel: adotado pelo Brasil desde a década de 1950, mostra-se impraticável para a conformação atual dos espaços urbanos. “Não há como crescer. A infraestrutura nunca vai conseguir acompanhar a motorização. As soluções existem, o problema é que nós precisamos quebrar uma série de paradigmas”, alertou. Nas regiões metropolitanas do Brasil, pontuou, chega-se a gastar 3h em congestionamento.
Por conta dessas transformações das cidades, segundo o palestrante, a mobilidade passou a ser um tema importante para o poder público, pela necessidade de diagnosticar os problemas e apresentar soluções criativas. Para tanto, surge a importância da formação de profissionais qualificados. “As demandas por deslocamento são cada vez maiores e isso exige soluções”, para que seja possível oportunizar a moradia, o trabalho, o lazer e a circulação nas cidades.
A partir dos anos 2000, Fernando Lindner considera que surgiram novas prioridades para a sociedade brasileira na área de transporte e mobilidade. As mudanças envolvem evitar deslocamento, o aprimoramento da eficiência energética, a mobilidade integrada (combinação de diversos meios de transporte no mesmo trajeto) e a redução dos espaços e da infraestrutura dedicados aos automóveis. “As cidades já começaram a colher seus frutos”, comemorou. Entre as soluções, o arquiteto visualiza, para o contexto das grandes cidades, a criação de órgão gestor e consórcios privados metropolitanos que superem as limitações dos municípios para a oferta de transporte para além de suas áreas de responsabilidade; a integração de redes; a ampliação de corredores exclusivos para o transporte coletivo; e a criação de fundos de mobilidade, com objetivo de tributar o uso do automóvel e diminuir os cursos de transporte.
Concepção de Universidade e Inovação
Em sua exposição durante o evento, a reitora da UFPel, Ursula da Silva, lembrou do esforço das duas Instituições para oferta conjunta do curso, anteriormente à pandemia de Covid-19, período responsável por impactar também a área de transporte e mobilidade urbana. Ela ressaltou também a valorização da formação oferecida, que levará a marca das duas Universidades e que servirá como primeira experiência do trabalho conjunto entre as instituições de ensino para atender às demandas da sociedade. “O curso está deslocando o modo como a gente vai formar pessoas. A nossa concepção de universidade, cada vez mais inclusiva e cidadã, pressupõe que a gente tenha essa leitura não apenas o que a Universidade precisa, mas o que a sociedade precisa”, justificou.
O reitor da Uergs, Leonardo Beroldt, definiu o curso de Engenharia de Transporte e Mobilidade como “verdadeiramente inovador”. Segundo informou, a formação a Engenharia da UFPel e da Uergs, sem similar na Região Sul do Brasil, objetiva o atendimento às necessidades das pessoas, especialmente das populações dos grandes centros urbanos. O curso busca contribuir, assim, com a superação de diversos desafios, como a transição energética, a redução da emissão de carbono e a democratização do acesso às cidades. “Temos o compromisso social de oferecer o melhor que temos para a sociedade”, disse, ao elogiar as parcerias institucionais.
O curso de Engenharia de Transporte e Mobilidade, por ser ofertado pelas duas Instituições, conta com duas coordenações de curso. O coordenador pela UFPel, Fábio Rocha, classificou a iniciativa como “projeto visionário”, em razão do esforço das Universidades em formar profissionais com comprometimento com a sustentabilidade e a inovação na área de transporte e mobilidade. Na mesma linha, o coordenador pela Uergs, Alexandre Derivi, considerou que a graduação é uma “resposta direta aos desafios crescentes”, diante da crescente urbanização. “É sobre repensar as nossas cidades, tornando mais acessíveis, seguras e sustentáveis”, explicou.
Primeira Turma
UFPel e Uergs ofertaram conjuntamente, para o primeiro ingresso no curso, 40 vagas, via Processo Seletivo Especial. O critério de seleção baseou-se na nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2024 ou de uma das edições a partir de 2020. As aulas do curso são ministradas à noite, com atividades eventuais à tarde e aos sábados pela manhã.
Fotos: Kátia Dias