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Entrevista: Odir Dellagostin fala sobre sua eleição para a TWAS

Odir Dellagostin é eleito para a TWASO professor e pesquisador da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Odir Dellagostin, foi um dos 74 novos membros eleitos para fazerem parte da Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (TWAS, em inglês),  a partir de janeiro de 2025. 

Reconhecido por suas pesquisas na área da biologia molecular, especialmente no desenvolvimento de vacinas recombinantes, Dellagostin é médico veterinário formado pela UFPel e docente da Instituição, desde 1997; é pós-doutor em Biologia pela University of Surrey da Inglaterra e pesquisador nível 1A do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Também é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (CONFAP) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT), do Conselho Deliberativo do CNPq e presidente do Conselho de Administração do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

Em entrevista à Coordenadoria de Comunicação Social (CCS) da UFPel, Dellagostin falou sobre o significado da sua eleição, destacando a importância do trabalho coletivo de colegas, alunos e instituições a que esteve ligado na sua trajetória. Revelou, também, como a eleição para a TWAS pode alavancar os projetos em que está envolvido e a importância para a UFPel. Leia abaixo a íntegra da entrevista.

 

CCS: O que representa, para você enquanto pesquisador, essa eleição?

Dellagostin: Ser eleito para a Academia Mundial de Ciências (TWAS) é um grande reconhecimento do trabalho científico que desenvolvi ao longo da minha carreira. Representa não apenas uma validação pessoal, mas também uma oportunidade de contribuir em um nível global com a ciência e a inovação, especialmente em áreas relacionadas ao desenvolvimento sustentável e à superação de desafios nos países em desenvolvimento. Esse reconhecimento reforça o compromisso de continuar atuando para promover avanços científicos que tenham impacto direto na sociedade.

 

CCS: Como avalia a importância da sua eleição em termos institucionais para a UFPel?

Dellagostin: Essa eleição destaca o papel da UFPel como uma instituição de excelência em pesquisa, especialmente pelo fato de estar numa região fora dos grandes centros tradicionais de ciência no Brasil. É uma demonstração de que o trabalho desenvolvido aqui tem relevância e visibilidade internacional. Não sou o primeiro pesquisador da UFPel a integrar a TWAS. O professor Cesar Gomes Victora, renomado por suas contribuições na área da saúde pública, foi eleito membro da academia em 2018. É uma honra compartilhar esse espaço com um colega de tanto destaque, e acredito que isso reforça ainda mais a relevância da UFPel no cenário científico internacional.

 

CCS: Quais os marcos importantes da sua trajetória profissional e acadêmica, até o reconhecimento dessa eleição?

Dellagostin: Minha trajetória profissional e acadêmica é marcada por desafios e conquistas que moldaram minha atuação científica e de gestão. Durante minha graduação em Medicina Veterinária na UFPel, tive a felicidade de contar com professores que me inspiraram e incentivaram na busca pelo conhecimento. A oportunidade de realizar meu doutorado na Universidade de Surrey, na Inglaterra, foi um marco decisivo na minha formação.

Ao retornar ao Brasil, há 30 anos, iniciei minha carreira como pesquisador na área de engenharia genética, dedicando-me ao desenvolvimento de novos produtos e processos biotecnológicos, o que resultou em publicações e patentes de reconhecimento internacional. Há 18 anos, sou bolsista de produtividade em pesquisa nível 1A do CNPq, o que representa o mais alto reconhecimento à dedicação e aos resultados obtidos na ciência.

Um dos aspectos mais gratificantes dessa trajetória é ver que muitos dos meus orientados de doutorado se tornaram pesquisadores renomados. Isso reforça que minha contribuição não se limitou apenas às pesquisas, mas também à formação de talentos que continuam a impulsionar a ciência no Brasil e no mundo.

Na gestão científica, assumi papéis de liderança ainda muito jovem. Em 2003, fui convidado pela então reitora da UFPel, Inguelore Scheunemann de Souza, para assumir a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, um desafio que me proporcionou um aprendizado valioso e marcou o início da minha trajetória em gestão acadêmica.

Atualmente, como presidente da FAPERGS e do CONFAP, dedico-me ao fortalecimento do sistema de ciência, tecnologia e inovação no Brasil, buscando ampliar sua inserção no cenário global. Esses esforços têm sido fundamentais para criar novas oportunidades de financiamento, fomentar colaborações internacionais e valorizar a pesquisa nacional. Minha eleição para a TWAS é um reconhecimento desse compromisso e reflete a relevância das minhas contribuições para a ciência e para a sociedade.

 

CCS: Quais são os principais projetos em que atua, como eles impactam nossa sociedade?

Dellagostin: Atualmente, estou envolvido em projetos voltados para a biotecnologia aplicada à saúde animal e humana. Minhas pesquisas têm como objetivo desenvolver vacinas mais acessíveis e eficazes, contribuindo para a prevenção de doenças infecciosas que afetam especialmente regiões em desenvolvimento. Chegamos a um estágio em que é fundamental estabelecer parcerias com empresas produtoras de vacinas veterinárias para levar ao mercado os protótipos desenvolvidos em nosso laboratório. Essas parcerias já estão em andamento.

Paralelamente, na minha atuação como presidente da FAPERGS e do CONFAP, lidero iniciativas estratégicas para o fortalecimento da infraestrutura de pesquisa no Brasil, a promoção de colaborações internacionais e o incentivo à ciência como um motor de desenvolvimento econômico e social. Esses esforços têm um impacto direto na sociedade, ao gerar conhecimento, estimular a inovação e criar oportunidades de transformação em áreas fundamentais para o bem-estar humano.

 

CCS: Quanto a esses projetos que desenvolve atualmente, há alguma relação com a eleição, no sentido de ampliá-los, evoluí-los ou algo nessa linha?

Dellagostin: Sim, a eleição para a TWAS abre novas possibilidades de parcerias internacionais e de colaboração com outros membros da academia, que são líderes em suas áreas. Isso pode impulsionar os projetos que já desenvolvo, especialmente no campo das vacinas e biotecnologia, permitindo maior acesso a redes globais de pesquisa, financiamento e infraestrutura. Além disso, acredito que essa posição pode ajudar a atrair jovens talentos para nossas equipes e promover a ciência brasileira no cenário internacional.

 

CCS: Qual a importância da TWAS para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil, especialmente fora dos grandes centros, como é nosso caso na UFPel?

Dellagostin: A TWAS desempenha um papel fundamental na promoção da ciência nos países em desenvolvimento, incluindo o Brasil. Para instituições fora dos grandes centros, como a UFPel, a TWAS representa uma oportunidade única de integrar redes internacionais, atrair colaborações e fortalecer a pesquisa em áreas estratégicas. Além disso, a academia contribui diretamente para a formação de novos cientistas, o que é essencial para descentralizar a produção científica e promover um desenvolvimento mais equilibrado no Brasil.

 

CCS: Gostaria de finalizar destacando alguma outra informação?

Dellagostin: Gostaria de destacar que essa eleição não é apenas uma conquista pessoal, mas o resultado do trabalho coletivo de estudantes, colegas e instituições que me apoiaram ao longo da minha trajetória. Além disso, vejo essa oportunidade como um compromisso de retribuir à comunidade científica e à sociedade, promovendo iniciativas que ampliem o impacto da ciência no Brasil e no mundo, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade. Essa conquista reflete a força da ciência brasileira e seu potencial transformador.

 


Reportagem por Gabriela Silva – Jornalista/CCS
Foto arquivo pessoal do entrevistado