UFPel inaugura Hub para desenvolvimento de tecnologias em alimentos alternativos e biotecnologia
Biomassa, biotecnologia e bioprodutos são os vértices de trabalho do Hub Innovat B3, inaugurado no dia 07 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Uma cerimônia marcou a abertura de dois laboratórios-contêineres, localizados no Campus Anglo, que serão dedicados ao desenvolvimento de tecnologias em alimentos alternativos e biotecnologia.
Com o envolvimento de um amplo e diversificado grupo de pesquisadores e estudantes, o espaço busca ser um polo de inovação tecnológica e sustentabilidade, em resposta às mudanças climáticas globais. A iniciativa faz parte do projeto financiado através do edital Inova Clusters Tecnológicos, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). O aporte é de R$ 2,6 milhões.
O projeto nasceu de uma parceria entre UFPel e Universidade Federal do Rio Grande (Furg), envolvendo oito programas de pós-graduação de excelência das duas instituições e duas startups. O espaço inaugurado irá integrar equipes de cientistas em um ambiente colaborativo voltado especialmente para o desenvolvimento de biomassas alternativas oriundas de algas e insetos, e as tecnologias e produtos delas provenientes.
O coordenador do projeto, professor Cláudio Pereira, explica que a proposta é qualificar a biomassa quimicamente – analisando aspectos inerentes a ela -, avaliar biologicamente seus compostos – como anti-inflamatórios e antioxidantes – e realizar uma triagem e desenvolvimento de suplementos na área farmacêutica.
A ideia é trabalhar com suplementação animal – especialmente frango de corte -, já que atualmente o produtor gasta muitos recursos em antibióticos e vacinas e há interesse na busca pelo bem-estar animal, que tem a alimentação adequada como um de seus pilares. Os produtos derivados das algas seriam nutritivos e poderiam prevenir doenças nas aves, diminuindo o uso de antibióticos – que acabam sendo passados aos humanos pelo consumo da carne. Estudos apontam que esse uso contínuo pode resultar em bactérias multirresistentes, em decorrência de muito antibiótico presente nos alimentos. Testes em campo também estão previstos para avaliar o impacto dos micronutrientes no desenvolvimento das aves e se está ocorrendo a proteção imunológica esperada.
A mesma lógica se dá no desenvolvimento de biomassa proveniente de insetos, liderada pela Nuinset, startup ligada à Conectar – Incubadora de Base Tecnológica da UFPel. A empresa trabalha com o desenvolvimento de farinhas integrais de dois tipos de mosca, que podem ser usadas na alimentação animal. De acordo com os sócios fundadores, Rafael Gonçalves e Sandro Nörnberg, estudos indicam que as farinhas são ricas principalmente em proteína, o que, além de atender à exigência nutricional animal fortalece o sistema imunológico, o que pode permitir a redução do uso de antibióticos em animais de produção. De acordo com Gonçalves, o óleo extraído da mosca-soldado tem em sua composição ácido láurico, que é um composto com ação antimicrobiana – que pode vir a ser um substituto do antibiótico. No caso da mosca doméstica, ação antioxidante. “Podemos imaginar que no futuro, aplicando essa farinha ou óleo, por exemplo, na alimentação de frangos de postura, a carga de antioxidante presente nessa farinha pode vir a ser transferida para os ovos, e esses ovos terem um tempo de prateleira maior e também beneficiem o consumidor com um teor maior de antioxidantes”, explica. A produção também é baseada na economia circular, aproveitando subprodutos agrícolas da região, como arroz, soja e trigo, por exemplo, para alimentação dos insetos; e o processo não gera resíduos – ao final, há a geração de um biofertilizante que pode ser utilizado na agricultura.
Segundo o professor Pereira, além de dar origem a esses produtos, o trabalho do cluster deverá impactar na formação de recursos humanos, estudantes de mestrado e doutorado especialistas em inovação tecnológica, e dar apoio a outras startups que atuem com o desenvolvimento de bioprodutos.
Cerimônia exalta a inovação
Na ocasião do lançamento, o coordenador de Pesquisa da UFPel, Marcos Britto Corrêa, destacou a competência do grupo de pesquisadores, que, aproximando a Universidade do setor produtivo, promove o desenvolvimento social e econômico da região.
O superintendente de Inovação e Desenvolvimento Interinstitucional da Universidade, Vinícius Campos, destacou que a inovação é um tema muito valioso para a UFPel. Segundo ele, muitas vezes o assunto é um paradoxo nas universidades públicas que, embora estando na fronteira do conhecimento, muitas vezes são entidades resistentes a mudanças. Para o gestor, o projeto mostra que a UFPel serve à sociedade de fato, além de formar pessoas. “Transformar o conhecimento produzido aqui em riqueza é talvez o nosso maior legado”, disse, agradecendo ao Governo do Estado por colocar a inovação no centro da estratégia. Campos ressaltou que a UFPel é a universidade que mais cria patentes no Rio Grande do Sul, o que contribuiu para que, por dois anos, o estado fosse apontado como o mais inovador.
Os agradecimentos também partiram do coordenador do projeto, professor Cláudio Pereira, que ressaltou, além da inovação, empregos gerados através das startups e possibilidades para os jovens ingressarem no mercado. “Pelotas não pode ser só lembrada como produtora de commodities. Tem muita coisa boa na nossa Universidade para ‘compartir’”, pontuou, mencionando a sustentabilidade do projeto tão necessária em tempos de pós-pandemia.
O diretor-presidente da Fapergs, Odir Dellagostin, se disse feliz em perceber que os investimentos feitos pelo órgão dão resultados e fazem a diferença, contribuindo no desenvolvimento econômico, social e ambiental, na construção de uma sociedade melhor. Ao falar sobre projetos e investimentos da Fapergs, Dellagostin destacou que nos dois últimos anos a entidade bateu seus recordes em termos de valores investidos e anunciou mais R$ 38 milhões em ciência e tecnologia, adiantando que, nas próximas semanas, mais R$ 35 milhões serão anunciados com destino à inovação.
Uma aposta no que talvez haja de mais rico no estado, a excelência acadêmica, foi a observação da secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stülp. “O projeto é relevante e trata de temas atuais e necessários para o avanço da nossa sociedade, conectando diversas entidades. Esse é um dia muito simbólico para a ciência, a tecnologia e a inovação do nosso estado”, afirmou.
A prefeita Paula Mascarenhas disse estar feliz por ser testemunha da história da inovação no município, que, segundo ela, tem dado passos largos nas duas últimas décadas na capacidade de unir forças entre poder público, academia e iniciativa privada. “É mais uma página que a UFPel realiza e agradeço o que ela tem representado no Parque Tecnológico. Quando a energia certa se reúne, muita coisa começa a surgir e isso se deve a vocês que dedicam seus talentos a essa causa. Olho com otimismo e convicção de que trilhamos o caminho certo para o futuro que queremos construir”, disse.
O trabalho focado no tripé “ensino, pesquisa e extensão”, associado à inovação e internacionalização, são aspectos importantes para vislumbrar a Universidade do futuro, destacou a reitora Isabela Andrade. Segundo ela, os recursos que chegam são imprescindíveis para o desenvolvimento de uma série de ações pertinentes, em um momento ainda de escassez. A gestora mencionou ainda que todo o trabalho realizado na Universidade é feito olhando para os alunos e alunas. “Vocês [estudantes] são o futuro desse país e é por vocês que a gente está aqui desenvolvendo e buscando recursos para que possamos cada vez mais fazer avançar a nossa cidade, a nossa Universidade e a nossa sociedade”, disse.
Presente na cerimônia, o governador do estado, Eduardo Leite, ressaltou que o papel do gestor público é garantir condições para que o estado possa prover nas mais diversas frentes, em uma série de ações para que possa haver prosperidade na sociedade. “Equilíbrio fiscal assegura capacidade de colocar recursos de forma planejada naquilo que apostamos que vai fazer a diferença em um futuro melhor para nós”, disse, salientando a valorização do capital humano. “Nunca tive dúvida de apostar na economia do conhecimento e investimento mais robusto em inovação, vetor de desenvolvimento essencial para que a gente possa se destacar no país e dar um futuro melhor aos gaúchos”, pontuou. O governador observou ainda a existência de um ecossistema que possibilita trazer o conhecimento produzido nas instituições de ensino para melhorar a vida das pessoas. “A gente dá os instrumentos, mas são vocês que fazem acontecer”, afirmou.