Ciclo de atividades de educação antirracista inicia com palestra
A Universidade Federal de Pelotas abriu, no final da tarde da última segunda-feira (23), seu Ciclo de Atividades de Educação Antirracista. Para abrir essa série de debates, ocorreu, no auditório do Centro de Artes, a palestra “O papel da universidade na construção de uma sociedade antirracista”.
A atividade desta segunda foi ministrada por Graziela Oliveira, professora da rede básica de educação de Esteio (RS), assessora parlamentar e militante do movimento negro; Graziela também é doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Na opinião da palestrante, incluir a temática antirracista na educação superior faz com que esse debate chegue, posteriormente, nos espaços nos quais os profissionais formados terão sua inserção: “Temos que ter esse desejo de mudar a realidade na ponta”. Segundo Graziela, é necessário que seja ocupado o maior número de espaços possíveis para falar com as pessoas sobre o racismo. “Falar da educação antirracista é falar das relações étnico-raciais”, pontuou a palestrante.
De acordo com Graziela, o racismo estruturaria o país até hoje em situações como o fato de o acesso a direitos como saneamento básico, creches para filhos de mulheres trabalhadoras e demais equipamentos públicos ser mais difícil para a população negra, aprofundando as desigualdades. “A desigualdade social no Brasil está diretamente ligada à desigualdade racial”, disse. Por isso, Graziela definiu o racismo no país como cotidiano, estrutural e institucionalizado.
Durante sua fala, a militante lembrou que as esferas de poder brasileira teriam se utilizado da legislação para impedir o acesso do povo preto a seus direitos, tal como o impedimento ao voto para pessoas analfabetas, das quais a grande proporção era de negros.
Apesar de reconhecer os avanços já encontrados, como a inclusão da história afrobrasileira e indígena nos currículos escolares, o aumento na popularidade de pensadores e intelectuais pretos, a mudança na representatividade negra na mídia e, principalmente, a lei de cotas, Graziela ainda vê como grandes os desafios a serem enfrentados. Um deles é fazer com que a sociedade se perceba racista, o que é diferente de dizer que ela reconheça que o racismo existe.
Para Graziela, a universidade é fundamental para que esse ciclo seja rompido. É na instituição universitária que as novas gerações de profissionais, especialmente aqueles da educação, podem ser formados para lidar com a questão: “A gente precisa da educação básica e universitária disposta a ensinar sobre esse assunto”.
Educação antirracista
O Ciclo de Atividades de Educação Antirracista é uma iniciativa promovida pela Administração Central da Universidade Federal de Pelotas, envolvendo diversos setores da instituição na realização de ações voltadas para o tema. “O ciclo emerge da compreensão de que toda a Universidade deve estar envolvida na pauta antirracista”, afirma o pró-reitor de Extensão e Cultura, Eraldo Pinheiro.
A ideia é que as discussões sobre o racismo ocorram não apenas nas proximidades do Dia da Consciência Negra, que ocorre em 20 de novembro, mas durante todo o ano. Segundo Pinheiro, apesar de ser um tema emergente em sua importância, a educação antirracista ainda esbarra em setores que buscam impedir sua implementação.
As atividades desse primeiro ciclo se estendem até o dia 30 de novembro. Incluem palestras, debates, sessões de cinema, além de uma roda de samba. A programação completa pode ser vista neste link.