Faculdade de Medicina completa 60 anos
A Faculdade de Medicina (Famed) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), conhecida como Leiga, completou 60 anos de fundação no dia 3 de abril. Para marcar a data, a direção da Unidade, com apoio de egressos, está promovendo uma série de atividades. A Famed formou mais de 6 mil médicos e, atualmente, conta também com os cursos de Psicologia e Terapia Ocupacional.
Em junho de 2022 foi realizado um encontro com o propósito de unir forças para a realização de ações em prol da Famed. Entre as atividades propostas, já foram realizadas confraternizações, uma semana acadêmica com o tema dos 60 anos e o ato institucional de celebração do aniversário que ocorreu no dia 3 de abril.
De acordo com a diretora da Unidade, Julieta Fripp, uma das sugestões do grupo, foi a revitalização do prédio histórico localizado da Avenida Duque de Caxias, construído entre 1908 e 1913. “O prédio traz um contexto afetivo para a comunidade da Famed. A comunidade tem feito doações para a revitalização do prédio, já conseguimos realizar a pintura da fachada e a revitalização das janelas”, disse.
No último sábado (22), foi realizado um encontro da comunidade no prédio revitalizado e um baile festivo em comemoração aos 60 anos da Famed, no Clube Caixeral.
De acordo com Julieta, as atividades buscam fortalecer a imagem da Famed como um espaço de formação baseado em pesquisa, ensino e extensão. “Temos no plano diretor da Unidade, o fortalecimento da interdisciplinaridade envolvendo os três cursos, com a criação de um mestrado. Além disso, priorizamos o acolhimento da nossa comunidade, são cerca de mil estudantes de diversas regiões do país, sendo que 50% são cotistas. Temos responsabilidade de cuidar desses estudantes”, finalizou.
Livro
Um livro sobre os 60 anos da Leiga está sendo produzido pelo Núcleo de Documentação Histórica Beatriz Loner (NDH) do Instituto de Ciências Humanas da UFPel, com a coordenação da professora Lorena Almeida Gill. A proposta foi apresentada pela professora no encontro realizado no prédio da Famed, no último sábado (22) e deve ser publicada ainda em 2023.
De acordo com Lorena, durante a pandemia, o NDH foi chamado à Famed para verificar a situação de alguns documentos que existiam desde a fundação. “Os documentos encontrados, desde os últimos anos da década de 1950, foram recolhidos, higienizados e digitalizados. Hoje estão disponíveis no site do NDH para que todas as pessoas interessadas possam acessá-los”, disse. O material pode ser encontrado no link: https://wp.ufpel.edu.br/acervosdocumentaisndh/faculdade-de-medicina/)
Foi a partir desse contato que surgiu o convite para a feitura do livro dos 60 anos. A obra, que está sendo escrita por Lorena, será composta por seis capítulos: os primórdios de debates sobre a fundação até a federalização, no ano de 1978; os chamados primeiros tempos, que envolvem uma discussão sobre a turma de 1963, as dificuldades, a trajetória das primeiras quatro médicas formadas, a luta por melhores condições infraestruturais, os ambulatórios e departamentos pioneiros; um terceiro capítulo sobre uma Medicina mais inclusiva em que se debaterá cotas e a trajetória do primeiro indígena e quilombola formados; um capítulo sobre a Medicina de hoje, apontando o reconhecimento nacional e internacional obtido a partir do trabalho dos que iniciaram. Será dado enfoque à epidemiologia, à cuidativa e aos novos cursos que se juntaram à Famed, Psicologia e Terapia Ocupacional; o quinto capítulo é intitulado cartas à Leiga, que foi um convite feito àqueles egressos e egressas que têm interesse de contar suas trajetórias na Famed e, em último capítulo, será publicado um texto escrito pelo fundador, Dr. Naum Keiserman.
Para Lorena, não é um livro fácil de ser escrito por vários motivos. “É um material comemorativo e eu sou uma professora de História, então como nem tudo serão flores, pois na história da humanidade há embates, que fazem com que a situação se altere, isso precisa ser contado. Além disso, há um volume documental excepcional e, com o pouco tempo de escrita, não conseguirei abarcar tudo que temos, como as atas do Consun, atas do Cocepe, notícias de jornais da época, além de todas as narrativas construídas”, explicou.
Ao todo, foram entrevistadas 48 pessoas, em 63 encontros diferentes. “Com certeza teríamos mais pessoas que poderiam e deveriam ser entrevistadas, mas não havia mais tempo. Tenho a convicção, no entanto, que será um livro muito bonito, que procurará contar um pouco do que viveram nesta casa”, finalizou.
História
No dia 3 de abril de 1963 foi assinado o Decreto de autorização de funcionamento da Faculdade de Medicina pelo Ministério da Educação e Cultura que foi publicado no Diário Oficial.
Apesar da data ser utilizada como a data de criação da Leiga, a história da Faculdade de Medicina remonta ao ano de 1953, quando Franklin Olivé Leite sugeriu a sua criação durante uma reunião da Sociedade de Medicina de Pelotas. No ano seguinte, foi fundada a Instituição Pró-Ensino Superior no Sul do Estado (IPESSE) com o objetivo de instalar uma Faculdade de Medicina. Em 1955, o IPESSE ganhou sede própria com a doação do prédio do Instituto de Higiene Borges de Medeiros por parte do prefeito Mario David Meneguetti.
Contudo, o movimento de criação perde sua força e o tema volta à tona somente depois da sinalização da vontade do bispo Dom Antônio Zattera de criar uma Faculdade Católica de Medicina. Segundo aquele que é considerado o fundador, que defendia a criação de uma faculdade Leiga e não católica, Naum Keisermann, em artigo de 1992, a criação de uma faculdade laica possibilitaria a sua posterior federalização, o que aconteceu formalmente em 1978.
Em novembro de 1959, na Biblioteca Pública de Pelotas, foi declarada a fundação da Faculdade de Medicina de Pelotas, com a presença do governador Leonel Brizola, do reitor da UFRGS, Eliseu Paglioli, e do secretário da Educação, Mariano Beck. Em 15 de abril de 1962 uma portaria do presidente do IPESSE nomeou Naum Keiserman o primeiro diretor da Leiga, já que seu empenho e dedicação durante uma década foram fundamentais para a criação da Faculdade.
Após toda a luta e trabalho da Sociedade de Medicina, no dia 3 de abril de 1963, o presidente João Goulart assinou o decreto de autorização de funcionamento e, no dia 11 de maio, o professor Clóvis Salgado proferiu a aula inaugural do curso. Em anos anteriores, quando foi Ministro da Educação, Clóvis trabalhou para que a leiga se construísse.
Desde então, a Leiga está inserida nas comunidades local e regional prestando serviços de forma ininterrupta e gratuita. Na sede da Faculdade, situada no bairro Fragata, funcionam os setores administrativos e pedagógicos e as atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência. No mesmo local funciona o Ambulatório Central que atende várias especialidades. A Faculdade dispõe ainda de cinco unidades básicas de saúde (UBS), quatro delas são da UFPel, Vila Municipal, Areal Leste, Centro Social e Urbano e Capão do Leão e uma delas trata-se de um convênio UFPel-Secretaria Municipal de Saúde, para o funcionamento da UBS Obelisco. Nestes locais, os alunos desenvolvem atividades práticas, privilegiando as necessidades da população.
O Hospital-Escola (HE) da UFPel desempenha um papel fundamental para a aquisição dos conhecimentos práticos e atende 22 municípios da região. A unidade, que atende exclusivamente pelo SUS, dispõe de tecnologias modernas para diagnóstico e tratamento, dando ênfase ao atendimento humanizado do paciente e contando com uma força de trabalho multiprofissional. O HE foi pioneiro na UTI Pediátrica e Neonatal e, atualmente, conta com uma linha de cuidado à saúde materno-infantil, incluindo obstetrícia de alto risco, UTI neonatal tipo II, unidade semi-intensiva convencional e atenção ambulatorial aos neonatos egressos do hospital. Possui serviços de referência com destaque para a alta complexidade em oncologia (UNACON) e um Centro de Referência para pacientes com HIV. Além disso, o HE UFPel é um dos pioneiros em atenção domiciliar, com o Programa de Internação Domiciliar Interdisciplinar (PIDI), que trata exclusivamente de pacientes com câncer e o Programa Melhor em Casa que trata de pacientes com outras doenças, ambos modelos para todo o Brasil. A atenção domiciliar é política estratégica para o município, altamente impactante em indicadores como desospitalização e humanização, atendendo cerca de 150 pacientes ao mês
No campo da pós-graduação, a Faculdade conta com residências médicas em várias especialidades. O programa de pós-graduação em Epidemiologia que possui o Centro de Pesquisas Epidemiológicas (CPE), com seus cursos de mestrado e doutorado, é considerado referência nacional e internacional nos estudos em saúde do ciclo da vida. O CPE é formado por um grupo de excelência em pesquisa que se dedica principalmente à investigação da influência dos fatores inerentes ao período do nascimento e dos primeiros anos de vida sobre a saúde do indivíduo durante toda a sua existência. Entre as pesquisas desenvolvidas no Centro, está o Estudo das Curvas de Crescimento da Organização Mundial, um instrumento internacional de referência do crescimento de crianças com até cinco anos de idade, adotado hoje em mais de 140 países.