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Presidente da Fapergs ministra aula inaugural da pós-graduação

Aula inaugural marcou o retorno completo da pós-graduação da Universidade Federal de Pelotas às atividades presenciais. A atividade, realizada na última quarta-feira (10), foi ministrada pelo diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Odir Dellagostin, que também ocupa a gestão máxima do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e recentemente foi eleito para a presidência do Conselho de Administração do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Na ocasião, Dellagostin abordou a temática do financiamento da pesquisa no Brasil.

A atividade, promovida pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, foi aberta pela reitora da UFPel, Isabela Andrade. Ela destacou a resiliência do setor de pesquisa, que se manteve em atividade mesmo durante o pior período da pandemia: “Muitas vezes ouvimos que a universidade esteve parada, mas vocês permaneceram ativos durante todo esse período”.

Isabela também expressou a alegria de receber o diretor-presidente da Fapergs para a aula inaugural. “É um prazer e uma honra trazer o Odir, ele que é da nossa casa”, disse, ao lembrar que o palestrante é docente do Centro de Desenvolvimento Tecnológico da UFPel. O pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Flávio Demarco, destacou a atuação do palestrante junto ao órgão gaúcho de fomento, celebrando o fato de que, durante sua gestão, o financiamento da Fapergs dobrou, sendo a fundação uma salvaguarda aos projetos de pesquisa em muitos momentos.

Financiamento da pesquisa no Brasil

Antes de iniciar a tratar do tema, Dellagostin comemorou o fato de estar na UFPel: “Esta é a minha universidade”. Ele rememorou sua formação na instituição, em Medicina Veterinária, e pontuou que é na Universidade pelotense que desenvolve suas atividades de ensino e pesquisa. Ele ainda relatou que está no processo para ser encaminhado a seu terceiro mandato à frente da Fapergs, com desdobramentos que devem ocorrer nas próximas semanas.

Dellagostin iniciou sua fala salientando o grande papel da pós-graduação na produção de pesquisa no Brasil: “Quem faz pesquisa em nosso país são os estudantes de pós-graduação”. Apesar de reforçar a devida importância na orientação dada pelos professores, presidente do Confap distinguiu o papel dos pós-graduandos. “Quem está na bancada são os estudantes”, disse.

Mesmo com a crise do financiamento à pesquisa, os dados apresentados apontam ainda uma trajetória de crescimento na produção científica brasileira. Os números, segundo o palestrante, mostram uma queda na titulação em 2020, mas traduzem apenas uma retenção nas defesas devido à pandemia. “A pós-graduação é resiliente; mesmo com a queda no financiamento, nos reinventamos”, disse. No entanto, a falta de recursos será sentida no futuro, em sua opinião: “Haverá reflexões a médio e longo prazos”.

Mesmo que a política adotada pela Fapergs seja a de financiar a pesquisa e não as bolsas, o diretor-presidente reconhece que são estas quem oportunizam que os pesquisadores se dediquem a seus afazeres: “As bolsas sustentam os estudantes de pós-graduação, que, como já disse, é quem faz pesquisa”. Ele argumenta que tal estratégia se dá pelo fato de o Rio Grande do Sul ser bem atendido pelas agências federais de fomento. Isso se dá por diversos motivos, entre eles, o fato de o estado possuir a maior densidade de programas de pós-graduação no Brasil, além de ter a maior produção científica proporcional à população.

No entanto, Dellagostin reconhece que a queda sucessiva nas bolsas, em especial as de pós-doutorado, tem forçado uma grande evasão de talentos. “A falta de oportunidade para os recém-doutores acaba causando também um grande desestímulo na pós-graduação, com os potenciais ingressantes pensando ‘o que eu vou fazer depois?’”, sublinhou. Também lembrou que há mais de nove anos não há reajuste no valor dos subsídios: “Se comparado ao valor do último aumento, a bolsa deveria de R$ 3,8 mil, para doutorado, e R$ 2,6 mil, no mestrado”.

Encaminhando-se para o final de sua fala, o docente apresentou diversos estudos científicos demonstrando o financiamento em ciência e tecnologia como um investimento, que claramente traz muito resultado: “Tem a maior taxa de retorno nos investimentos públicos”, afirmou ele, ao comparar os índices com repasses a infraestrutura e segurança. Dellagostin disse acreditar que perspectivas futuras para a pesquisa passam pela recuperação no valor das bolsas e em olhar mais voltado a pesquisas que gerem inovação e empreendedorismo.

Diálogo com a comunidade

Após o encerramento da conferência, foi aberto espaço para questionamentos.

Respondendo a uma colocação sobre o fato de encontrar pessoas tituladas fora de suas áreas de formação, o diretor-presidente da Fapergs afirmou que a perda de talentos é uma das consequências mais danosas que o setor de pesquisa está enfrentando no momento. “Não podemos obrigar as pessoas a ficarem em uma situação desvantajosa”, ponderou, ao complementar que tal quadro só será revertido com recursos e investimentos robustos.

Sobre a desvalorização na pós-graduação da área de Humanidades, Dellagostin admitiu que realmente temas como tecnologia e inovação acabam dominando as falas, desandando até mesmo para um inovacionismo, deixando de ser dada a devida atenção aos espaços que discutem a nossa vida em comunidade.

Ao ser interpelado sobre o desânimo dos alunos e dos possíveis ingressantes na pós-graduação, o palestrante lembrou que já houve outras crises no passado, mas que todas elas passam. “Devemos estar preparados para oportunidades”, incentivou. Ele também destacou o papel das lideranças dos projetos, exemplificando que, onde há um bom líder, ainda se vê a pesquisa avançar.

Um questionamento final debateu a possibilidade de uma mudança de tratamento dos bolsistas de pesquisa, de estudantes para trabalhadores. “Sou absolutamente favorável a se trabalhar com uma carreira de pesquisador no Brasil”, declarou o docente, ao lembrar que na Alemanha os pesquisadores ainda ligados à pós-graduação são assalariados, não bolsistas. Apesar disso, ele disse que a caminhada necessária nessa direção só pode ser feita após a retomada dos valores dos subsídios aos pesquisadores.