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Dia das Mulheres: live discute samba, existência e os papeis femininos

Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres, a Universidade Federal de Pelotas realizou uma transmissão ao vivo especial no dia 8 de março. Trazendo como convidada a cantora vencedora do Grammy Anaadi, a live foi pautada por temas como a existência e os papeis femininos, permeados pelo samba, gênero musical trabalhado pela artista.

Abriram a atividade a reitora da UFPel, Isabela Andrade, e a vice-reitora, Ursula Silva. Isabela saudou a todas as mulheres em seu dia, desejando cada vez mais força para fazer a diferença, mesmo com todas as adversidades: “Que possamos cada vez mais superar mais barreiras e ocupar mais espaços”.

Já Ursula disse que a noite foi preparada como um encontro para grandes reflexões. “Marcar essa data é necessário, mais do que uma comemoração, para celebrar as lutas e as conquistas”, disse, ao complementar que essa pauta ainda é precisa, pois ainda são necessárias muitas conquistas e, talvez, reconquistas. A vice-reitora lembrou, nesse momento, duas mulheres pertencentes à comunidade da UFPel, desaparecidas em suspeitas de violência de gênero: a professora Cláudia Hartleben e a estudante Mirella Gomes.

A condução dos trabalhos foi passada à coordenadora de Diversidade e Inclusão, Airi Sacco. Colega de Anaadi durante a formação de ambas em Psicologia, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destacou que, além de cantora e compositora, a convidada também é pesquisadora, na área de Memória do Samba, no programa de pós-graduação em Memória Social e Bens Culturais da Universidade La Salle, onde cursa mestrado. Segundo a coordenadora, o convite à Anaadi veio para fugir das discussões de cunho mais acadêmico, trazendo outros pontos de vista: “Ela é uma mulher que caminha por tantos lugares e fala sobre tantas coisas”, pontuou.

Anaadi iniciou sua fala explicando que havia pedido à Airi a mudança do tema da live de “Mulheres, Samba e Resistência” para “Mulheres, Samba e Existência”, pois vem brigando com a palavra ‘resistência’: “Sempre me traz uma ideia de que vivemos respondendo a ataques externos”, afirmou.

A vencedora do Grammy destacou que a arte é sempre subversiva, por mostrar aquilo que muitas pessoas não querem ver, trazendo pontos de vista alternativos aos do sistema e à memória oficial proposta pelos grupos dominantes. No entanto, ela mesma critica a falta de criatividade: “Tanto na arte quanto na academia, a gente tende a reproduzir que já foi feito, a gente esquece que precisa criar e romper com o que está posto”. Nesse ponto, ela destaca ainda mais o papel feminino, pois considera que as mulheres nunca são incentivadas a dizerem suas próprias verdades e criarem a partir de si próprias.

Nesse ponto, ela considera que sua pesquisa da memória dos povos subterrâneos encontra-se com o samba, pois a cultura popular é um grande espaço de transmissão de memórias por meios informais. “Considero os mestres do samba como mestres da filosofia”, disse. No entanto, mesmo assim, o papel das mulheres na música é diferente; ela lembra que o termo ‘música’ vem das musas, deusas que encantavam as demais divindades com suas criações artísticas. Dessa forma, espera-se da mulher cantora, tal como das demais artistas, que estejam sempre agradando à sociedade e ao patriarcado.

Para Anaadi, é nos espaços acadêmicos que ela consegue mais se manifestar e ser ouvida. “Meu mestrado está servido para repensar minha vivência e papel como cantora”, refletiu. E aproximar as duas esferas, a artística e a acadêmica, é fundamental para pensar novas formas de existência.

Ao se aproximar do final da transmissão, Anaadi fez uma breve apresentação musical. Agradecendo ao convite, ela destacou a UFPel como uma instituição magnífica, que tanto fez durante a pandemia. E convidou a todas as mulheres que busquem o seu próprio cuidado: “Todas nós somos patrimônio da humanidade”.

 

Publicado em 16/03/2022, na categoria Notícias.