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PPGAnt tem sua primeira mestra Kaingang

Mais uma indígena conquistou o título de mestra pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Laísa Arlene Sales Ribeiro é a primeira representante do povo Kaingang a ter defendido a dissertação de Mestrado no Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt/UFPel). A defesa ocorreu em março e teve como tema “Cultura de Resistência entre Memórias e Imaginação a Materialização: meninos/homens Kaingang na contemporaneidade na Terra Indígena Guarita/RS”. A dissertação de Mestrado de Laísa foi a defesa de número 100 do PPGAnt.

O Povo Indígena Kaingang é um dos maiores povos indígenas do Brasil e sua população está distribuída, além do Rio Grande do Sul, nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. A Terra Indígena Guarita, localizada no norte Rio Grande do Sul, é a aldeia de Laísa.

A dissertação traz uma autoetnografia e aborda a relação na infância e vida adulta com a cultura de resistência Kaingang, dando ênfase a rituais que se mantiveram sobrevivendo no grupo. Trata-se da passagem de meninos para homens, aqueles considerados os guerreiros protetores do grupo. De acordo com Laísa, a pesquisa trata de como se formam esses guerreiros e como conseguem se manter fiéis aos costumes estando à mercê da sociedade envolvente – de que forma eles reconhecem parte de uma cultura Kaingang e as relações com o outro de fora.

Segundo a autora, essa relação ocorre de forma pacífica – os jovens conseguem manter práticas rituais, se alimentar da natureza e dar continuidade a práticas com significado e simbologia. “Quando você consegue dar conta de preservar, quer dizer que nossa cultura não se perdeu totalmente. Eles circulam muito, trabalham fora, têm relações e contatos fortes com a sociedade de fora, mas não se perde essa beleza”, avalia.

A indígena diz sentir-se feliz e honrada por ser a primeira Kaingang a conquistar o título na UFPel. “Tem um significado muito forte. Sair da aldeia para estudar é uma decisão política. A comunidade tem muito orgulho da gente. Espero, como profissional, trabalhar com meu povo. Sou grata pela acolhida que encontrei na UFPel e no PPGAnt”, conta.

Indígena também na banca
A ocasião também foi a primeira vez na UFPel que uma doutora indígena participou de banca de defesa de mestrado. A convidada era a professora Eliane Boroponepá Monzilar, do Povo Indígena Umutina. Ela é doutora em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UNB) e atualmente atua na Secretaria de Estado de Educação e Cultura (Seduc/MT), como professora da Escola de Educação Indígena Jula Paré e coordenadora do Programa Mais Educação (desde 2014).