Dia do Bioma Pampa: preservar o Pontal da Barra é salvar uma de suas joias
O aniversário do ambientalista gaúcho José Lutzemberger foi a data escolhida para celebrar a existência e a luta pela preservação do mais recente bioma brasileiro reconhecido legalmente, o Bioma Pampa. Desde então, uma das grandes pautas levantadas nos dias 17 de dezembro se refere às políticas de patrimonialização do conjunto: os demais biomas nacionais – Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal – já estão protegidos constitucionalmente, diferente do que ocorre com o nosso, que ainda espera o trâmite de uma proposta de emenda (PEC) desde 2009.
Essa é uma das razões, inclusive, pelas quais o bioma ainda mantém poucas unidades de conservação em sua área geográfica: ele cobre 63% do território do estado do Rio Grande do Sul, pelos critérios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas também possui grande extensão na Argentina, no Paraguai e no Uruguai, país no qual ocupa praticamente toda a área.
A Universidade Federal de Pelotas, desde 2018, luta pela criação de um espaço do tipo na região do Pontal da Barra, localizada em Pelotas (RS), no encontro do Canal São Gonçalo com a Lagoa dos Patos. Além da clara riqueza natural encontrada no local, também são argumentos para a preservação a existência de vestígios arqueológicos de culturas pregressas, de comunidades tradicionais e os serviços ambientais realizados pelo ecossistema, como o equilíbrio hidrológico da região.
De acordo com o professor do curso de Gestão Ambiental, Giovanni Maurício, o Pontal é um ponto de transição entre o Pampa e a Mata Atlântica, pois, mesmo que geograficamente esteja na área do primeiro, há um registro considerável da segunda na encosta da Serra do Sudeste, entre Pelotas e Guaíba.
“É um encontro entre dois biomas”, explica Maurício. O docente pondera que, se se quiser classificar em caixinhas, é possível encontrar os dois, mas a ocorrência é sobreposta. “No Rio Grande do Sul é assim”, afirma. Ele explica que, em áreas abertas do Pontal, a predominância é de espécies do Pampa, ao passo que nas áreas de vegetação mais fechada aparecem espécies mais identificadas com a Mata Atlântica.
Por essa característica de abrigar esses dois biomas, bastam visitas ao Pontal da Barra para visualizar a riqueza natural encontrada no lugar. Devido ao esforço para a conservação do espaço, conforme conta Maurício, foi publicado, em 2019, um livro nos quais constam 42 espécies ameaçadas de extinção; em visitas subsequentes, já foram encontradas outras 7.
Ele explica que a sua atuação no Pontal em conjunto com outros colegas já vem de longa data, e que, ao estar com olhares atentos, é possível encontrar coisas novas. “A cada nova saída de campo, o olhar fica mais aguçado e aumenta-se a chance de achar algo diferente”, reflete o docente. A curiosidade também está aliada a uma rede de contatos e de pesquisa, que permite a identificação de espécies por registros fotográficos ou a coleta de algum pequeno galho ou folha, por exemplo. Maurício destaca uma visita realizada na última semana, no dia 10 de dezembro, na qual foi identificada uma espécie que é endêmica do Rio Grande do Sul, mais precisamente no litoral norte, mas que ainda não havia sido registrada na região de Pelotas.
Há também, de acordo com o pesquisador, uma contribuição do Pontal em espécies que se restringem àquele espaço e suas adjacências. “Se perdêssemos o Pontal, o Bioma Pampa perderia essas espécies”, pontua. A esses seres a ciência os chama de microendêmicos, que existem em todos os biomas. “Essas são as maiores joias de um bioma”, explica.
E joias como essa podem acabar se perdendo se não houver um esforço de preservação, segundo podera Giovanni Maurício. É, por isso, que deve haver um especial interesse na conservação de espaços que contenham essa diversidade.