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MALG recebe a exposição MATOADENTRO

obraO Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo abre, nesta quarta-feira (20), a exposição MATOADENTRO. A mostra conta com obras de artistas/professores do curso de Artes Visuais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em diálogo com a obra do escultor Cláudio Martins Costa (1932-2008). A exposição complementa a mostra “Cláudio Martins Costa: Instantes de permanência”, que também se encontra em cartaz no Museu.

No dia 20, às 18h, será realizada abertura e encontro com os artistas. O período de visitação abre no dia 21 e se estende até 15 de dezembro.

Na exposição MATOADENTRO podem ser apreciadas obras de Angela Pohlmann, Cláudio Martins Costa, Clóvis Martins Costa, Damé, Daniel Acosta, Lizângela Torres e Kelly Wendt. A curadoria é de Clóvis Martins Costa.

obraVeja a apresentação do curador:

“O olhar póstumo para a obra de Cláudio Martins Costa, mais do que render uma espécie de tributo, propõe colocar a sua produção e suas inquietações em diálogo com o trabalho de artistas contemporâneos. Artistas professores do Curso de Artes Visuais da UFPel que o conheceram pessoalmente, foram seus alunos, ou que apenas recentemente fizeram contato com o seu trabalho. Aborda-se aqui, partindo do olhar de Cláudio para a natureza, o universo de seres, forças e mistérios que compõem nossas florestas existenciais.

Portanto, dá-se a ver o caráter aberto de sua poética, um passeio pelo mato onde o escultor/professor/etnógrafo alimentava seu processo de obracriação. Todavia, o diálogo entre as produções aqui expostas atravessa o campo da política, no que toca a relação que estabelecemos com este corpo-lugar além da nossa exaurida noção de humanidade, e com o outro (seja este a floresta, o tamanduá, a concha, a noite ou pedra).

Angela Pohlmann examina a forma das conchas através do desenho de observação. Atenta à simplicidade e à economia de meios, seus desenhos se apresentam desnudos, transparecendo a imagem mental desta estrutura que comporta a espiral do universo e nos reporta ao infinitamente grande contido no elemento mínimo.

Damé, ao elaborar a peça de cerâmica Tamanduá (Série Atropelados em auto-estrada), denuncia de forma direta nossa prepotência com os animais nativos e traça uma conexão bastante direta com a obra escultórica de Cláudio: uma conversa entre modeladores.

Daniel Acosta apresenta a serigrafia As novas cores da paisagem brasyleira, realizada sobre um tecido de origem popular. Substituindo as cores originais da estampa por outras relacionadas à camuflagem, aponta para a iminência de uma certa militarização da subjetividade no contexto atual. Interessante observar que os elementos visuais da imagem de base ligados ao universo kitsch, foram expurgados do campo visual em detrimento de um certo bom gosto. Opera-se aqui, na dimensão estética, uma ética subjacente.

Os percursos cotidianos no tecido urbano são cartografados por Kelly Wendt através de um desenho fluido e atentam para o entrelaçameto de plantas e árvores com as estruturas rígidas do concreto da malha urbana. A linha dura da selva de pedra ganha aqui contornos irregulares que apenas por meio do afeto se desenham e designam formas outras de habitar o mundo.

Composição com o fora, incursões por zonas de indeterminação. A sequencia de fotografias Da série Operação, de Lizângela Torres, foi realizada durante à noite, entre os anos de 2002 e 2004, na chácara do bairro Cascata, em Porto Alegre: local do nascimento de Cláudio Martins Costa (1932-2008). As imagens registram o aparecimento e o desaparecimento de figuras que se misturam no espaço da noite. Vultos que indicam aquilo que é passageiro, transitório, fugidio.

Vale pensar, através dessa poética de vida e morte, assomos e desaparecimentos (epiphasis e aphanisis), no sentido de nossas ações no mundo. Acompanha a sequencia fotográfica o vídeo Operação, do qual participei como autor em conjunto com Lizângela. A ação consiste no escavamento do piso em ruínas da antiga casa da chácara. Movimento de reviragem do tempo no espaço de um escombro ancestral.

Misturado ao vídeo e às fotografias, o desenho de Cláudio, Casa velha da chácara, feito em seu último ano de vida, remete ao local de nascimento do artista. A linha trêmula, mas precisa, indica um mundo visível em via de desaparecimento, uma despedida gráfica daquele espaço onde engendrou sua forma de pensar e se relacionar com as coisas.

Nos diálogos provocados por esta exposição, podemos aferir uma pluralidade de preocupações diante de uma natureza acossada, assaltada de uma maneira tão indefensável, como aponta Ailton Krenak em Ideias para adiar o fim do mundo. Somos convidados pelo líder indígena a manter nossas poéticas sobre a existência em contraponto a um certo protocolo comportamental imposto a humanidade por forças que entendem o espaço natural como recurso natural, ou seja, matéria de consumo.

Na densidade de um emaranhado de cipós, vegetações e trilhas que se bifurcam, uma clareira se apresenta e podemos, como nos convidava o desenhador de graxains, junto aos seus amigos kaingangues, comer milho verde perto do fogo”.

Clóvis Vergara de Almeida Martins Costa
Curador da exposição

Serviço
Exposição “MATOADENTRO”
Local: Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Praça Sete de Julho, 180 – em frente ao Mercado Central)
Abertura e encontro com os artistas: 20 de novembro, às 18h
Período de visitação: de 21 de novembro a 15 de dezembro
Horário de visitação: de terças a domingos, das 10h às 19h30min
Entrada: gratuita
Visitas mediadas podem ser agendadas pelo e-mail secretariamalg@gmail.com ou pelo telefone (53) 3284-4319.