Representatividade negra cresce na UFPel
Somos cada vez mais pretos e pardos. Nos últimos quatro anos, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) passou de 248 para 1.928 estudantes que ingressaram na instituição por meio das cotas raciais. Os cotistas eram apenas 1,6% do total de alunos da Instituição e, atualmente, somam 12,3%.
Desde o início da implementação da política de cotas, em 2012, a Universidade vem tendo uma representatividade crescente da etnia. Ao final de 2013, apenas três acadêmicos ingressaram na UFPel pelas cotas raciais. Ao mesmo tempo, o número de estudantes da UFPel que se autodeclara como preto ou pardo tem tido um crescimento nos últimos anos. Hoje, são 2.894 alunos matriculados que se descrevem dessa forma – o que representa 18,43% dos estudantes. Em 2014, esse grupo era de 6,61%.
O próprio volume de pessoas que preferiam não declarar etnia diminuiu progressivamente. De 33,56% em 2014, apenas 9,34% do total de alunos atuais da UFPel não fez declaração.
De acordo com a pró-reitora de Ensino, Maria de Fátima Cóssio, é possível perceber diferenças em relação ao conjunto de alunos que acessa a Universidade desde que a política de reserva de cotas foi adotada. E quanto a isso, a pró-reitora afirma que a UFPel tem promovido, junto às coordenações de cursos e com os professores (tanto os ingressantes, quanto os mais experientes) a sensibilização para lidar com as diferenças, sejam elas culturais, de origem, étnico-raciais ou causadas por deficiências. “São desafios inusitados e muito recentes no cenário acadêmico. Um lado muito positivo é que a Universidade, que é pública, se abriu para o público e se tornou plural. Ainda bem que essas pessoas estão tendo acesso ao Ensino Superior. A UFPel tem buscado se modificar, sair do seu lugar de conforto, entender toda a diversidade e compreender outras formas de percepção do mundo”, completa.
Dentro das vagas ofertadas pela UFPel pelo Processo de Avaliação da Vida Escolar (PAVE) para ingresso em 2019, 820 são destinadas às reservas de cotas. Já pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU) 2019/1, a previsão é de que 2.974 vagas sejam oferecidas para cotistas.
Inicialmente a reserva para indígenas e quilombolas continha dez vagas – para 2019 serão 21. E já estão abertos os editais do processo seletivo especial para esses candidatos. Além disso, o novo Edital de Reopção, Reingresso, Transferência Voluntária e Portador de Diploma de Curso Superior, instituiu reserva de vagas por todas as cotas nos cursos para ingresso no primeiro semestre de 2019, o que não havia no edital anterior lançado neste semestre.
A estudante Marcela Lima, do curso de Jornalismo, ingressou na UFPel por meio da reserva de vagas. “As cotas são um reparo histórico. Não tiramos o lugar de ninguém e ainda temos a possibilidade de nos inserirmos dentro da Universidade, sendo que em algumas famílias nós somos os primeiros a ter acesso ao âmbito universitário”, conta. Ela diz que é inquestionável que o sistema ainda precisa melhorar e que a permanência das pessoas que utilizam as cotas, tanto raciais quanto econômicas, precisa ser discutida, já que, de acordo com Marcela, essas pessoas geralmente não têm o privilégio de não precisar trabalhar, então conseguem seguir o curso, mas com alguma dificuldade. “Nunca podemos esquecer que, por mais que a gente esteja em lugares iguais, nossos pontos de partida são totalmente diferentes”, conclui a estudante.
A UFPel dispõe da Coordenação de Inclusão e Diversidade (CID). A CID está divida em três núcleos que visam suprir as necessidades e incluir na comunidade acadêmica grupos vítimas de exclusão: Núcleo de Gênero e Diversidade (NUGEN), Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) e o Núcleo de Ações Afirmativas e Diversidade (NUAAD).
O NUAAD, localizado na Rua Almirante Barroso, 1.734, desenvolve atividades relacionadas ao gerenciamento das vagas ocupadas por cotistas ou direcionadas a eles. Em ação conjunta ao CID, o Núcleo estabelece um diálogo com as Unidades Acadêmicas, informando-as sobre a promoção de políticas afirmativas na Universidade e de que forma é desenvolvida a fiscalização da implementação dessas políticas no acesso. O NUAAD propõe diversos eventos com o objetivo de promover a representatividade dentro do meio acadêmico, como é o caso do Seminário da Consciência Negra em Pelotas (SECONEP) e da Foto Coletiva dos Negros e Negras da UFPel.
Para a pró-reitora, a democratização do acesso só beneficia a Universidade e faz com que ela passe a ser mais oxigenada e plural. “Estamos no caminho para continuar ampliando essas políticas”, destaca.