Descerramento de placa e recital encerram comemorações dos Cem Anos do Conservatório
Solenidade e recital realizados na noite desta terça-feira (18) finalizaram as festividades do Centenário do Conservatório de Música da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Depois de um ano inteiro de eventos, as comemorações chegaram ao fim com o já tradicional concerto dos professores dos cursos de Música da UFPel. O evento lotou o Salão Milton de Lemos do Conservatório. Antes do recital, ocorreu descerramento de placa em homenagem aos Cem Anos da unidade, feito pelo reitor Pedro Hallal e pela prefeita Paula Mascarenhas.
Em sua manifestação, o reitor disse que é uma honra estar no cargo quando o Conservatório completa Cem Anos. Recordou todo o esforço feito para a desinterdição do Salão Milton de Lemos e disse que há projeto para também desinterditar a Escola de Belas Artes. Quanto às negociações com a Prefeitura para a liberação do prédio hoje ocupado pelo Sanep, considerou que há a necessidade de toda a área física ser do Conservatório o mais rápido possível.
A diretora do Centro de Artes, Úrsula Silva, lembrou que o Conservatório faz parte de sua unidade desde 2010, classificando-o como um espaço artístico, cultural e de memória afetiva intensa por parte de toda a comunidade. “Temos a responsabilidade de continuar a história do Conservatório”, frisou. Ela agradeceu a parceria da Biblioteca Pública Pelotense durante o impedimento do Salão Milton de Lemos. Anunciou investimentos para as criações de espaços de documentação e de um miniauditório no Conservatório, visando a ampliação das atividades.
A diretora do Conservatório, Leonora Oxley Rodrigues, recordou as dificuldades enfrentadas em termos de estrutura física, nos últimos cinco anos, e agradeceu os apoios da Assamcon, da Direção do Centro de Artes, dos colegas e da Reitoria para a superação da crise. “Não poderia haver melhor presente de Cem Anos do que comemorar a data em casa”, sublinhou. Ela agradeceu ainda aos doadores das cadeiras já instaladas no Salão e informou sobre a aprovação de projeto, dentro da Lei de Incentivo à Cultura, que dotará o Salão de mais infraestrutura.
“O Conservatório ajudou a formação cultural de Pelotas, tornou a cidade mais encantadora”, afirmou na solenidade o gerente do Sesc no município, Luís Fernando Parada. Para ele, a unidade baliza Pelotas como grande centro cultural do Sul do País.
Já a prefeita Paula afirmou que a data celebra o que a cidade tem de melhor em talentos, cultura e memórias. Quanto à questão do prédio, observou que ele merece ser integralmente do Conservatório, mas completou que se trata de uma questão complexa, em função de receber uma autarquia pública, o Sanep. “Encontraremos um local adequado, vamos chegar lá”, projetou.
Na sequência da solenidade, o recital teve a participação dos professores Carlos Soares, Germano Mayer, João Straub, Jonas Klug, José Homero Pires, Leonora Oxley, Marcelo Borba, Marcelo Cazarré, Raul d’Avila, Thiago Colombo e Werner Ewald. Foram executadas obras autorais e de compositores como Victor de Assis Brasil, Edino Krieger, John Dowland, Astor Piazzola e Alcebíades Lino de Souza, entre outros. O recital contou ainda com a participação da pianista Maria Elizabeth Salles, ex-professora e ex-diretora da Instituição. O evento teve a coordenação da professora Leonora Oxley Rodrigues, diretora do Conservatório.
Uma história rica
O Conservatório foi fundado em 4 de junho de 1918, por Alcides Costa e Francisco Simões, e inaugurado em 18 de setembro do mesmo ano, em uma época em que Pelotas era a segunda mais importante cidade do Estado e já possuía uma sólida tradição cultural, tendo sido no século 19 o maior polo cultural do Rio Grande do Sul, a ponto de ser chamada de a Atenas gaúcha.
Foi criado na esteira do projeto civilizador e progressista republicano cujos ideais visavam uma equiparação cultural do Brasil aos países mais avançados da Europa. Na época de sua fundação, a cidade experimentava um grande surto de desenvolvimento, a última floração do ciclo do charque.
Os antecedentes para sua criação foram o estabelecimento em Porto Alegre do Conservatório do Instituto Livre de Belas Artes, e a chegada em 1916 do pianista Guilherme Fontainha para dirigi-lo. Fontainha era uma personalidade dinâmica e pedagogo, sendo uma das peças-chave para a disseminação no Sul de um modelo educativo musical moderno, baseado na metodologia do Instituto Nacional de Música, do Rio de Janeiro, e tinha contato com figuras importantes do modernismo brasileiro. Ele inspirou a criação de conservatórios em várias cidades do Estado, sendo auxiliado nessa empresa por José Corsi, e foi o mentor também da fundação da instituição pelotense, para a qual indicou Antônio de Sá Pereira como primeiro diretor artístico.
O início de suas atividades se deu com o ensino do piano, violino, canto, teoria e solfejo, sendo a primeira instituição oficial fundada especialmente para o ensino da música na cidade; a segunda entidade no gênero a ser fundada no Rio Grande do Sul, e a quinta no Brasil.
O compromisso do Conservatório de Música com a promoção da cultura e a construção da cidadania permeia suas atividades desde a fundação. Como tomou para si a tarefa de promoção e organização dos concertos que se realizavam na cidade, tanto dos alunos da escola como de artistas convidados, a trajetória do Conservatório de Música é parte indissociável da própria história da música na cidade.
Desde sua criação, o Conservatório de Pelotas foi a única instituição para o ensino musical com atividade ininterrupta na cidade. Seu salão de concertos é um dos mais antigos no Brasil em atividade.
Desde então, o trabalho de diretores, professores, funcionários e comunidade em geral, tem sido no sentido de manter a instituição em pleno funcionamento, prestando serviços e oferecendo música à comunidade.
Ao longo de sua história, foram várias as diretorias que conduziram as atividades desenvolvidas no Conservatório. Dentre elas, o trabalho realizado pelo ex-diretor Milton de Lemos. De 1923 a 1954, o mestre reuniu seus esforços através da Sociedade de Cultura Artística (órgão do qual foi fundador) trazendo a Pelotas artistas consagrados no Brasil e no mundo. Entre os artistas que se apresentaram em concertos organizados pelo Conservatório Bidu Sayão, Conchita Badía, Eudóxia de Barros, Guiomar Novaes, Magda Tagliaferro, Zola Amaro, Claudio Arrau, Wilhelm Backhaus,Arthur Rubinstein, Francisco Mignone, Hans-Joachim Koellreuter, Sebastian Benda, Nathan Schwartzman, Jean Jacques Pagnot, Bagumil Sykora, Gaspar Cassadó, Jacques Thibaud, Nelson Freire, Miguel Proença, Roberto Szidon, Mariana Mihai, Marlos Nobre e Olinda Allessandrini.
A importância do Conservatório de Música de Pelotas foi atestada quando, em 26 de julho de 2004, foi promulgada a Lei nº 12.133, que o declarou integrante do Patrimônio Cultural do Estado do Rio Grande do Sul. O Conservatório foi uma das unidades fundadoras da Universidade Federal de Pelotas, em 1969.