Dia do Livro Infantil: grupo da UFPel apresenta dicas para cativar novos leitores
“Prova esse”, diz a professora Cristina Maria Rosa ao sugerir uma nova obra para a pequena Estefani Lameirão, 9 anos. “Provar. Porque leitura é gosto”, explica a docente. Líder do Grupo de Estudos em Leitura Literária da Universidade Federal de Pelotas (GELL/UFPel), Cristina costuma virar bruxa para trazer encantamento às histórias que conta para as crianças. É uma das maneiras de conquistar os pequenos para o mundo das letras e das grandes narrativas. Nesse dia 18 de abril, em que se comemora o Dia Nacional do Livro Infantil, o Grupo reuniu orientações para estimular a leitura e dicas de livros infantis para pais, familiares e professores conduzirem as crianças por esse universo.
A experiência da leitura, conforme explica a professora Cristina, por essência é ampliadora de todas as possibilidades que as crianças já têm de nomear e significar o mundo. De acordo com ela, o livro é primordial. “A literatura é o mais importante conhecimento que circula na escola, porque é ponte para outras formas de conhecimento, de ler e de escrever”, pontua a docente. A opção pela literatura oferece o contato com o diferente e o múltiplo, oportunizando aos pequenos aceitar o diverso e a pluralidade. “A convicção ética de diferença entre as pessoas passa por dentro da literatura, com personagens que são diversos, mas verdadeiros”, observa.
Para Cristina, não se deve furtar oferecer à criança histórias com temas dramáticos, “escondendo” as mazelas da vida. Basta que eles sejam narrados de forma adequada ao público infantil. “Os contos clássicos são grandes dramas humanos. A partir deles as crianças entram em contato com a forma com que as pessoas narram a vida, conforme sua capacidade de compreensão”.
Para que a experiência da leitura seja prazerosa, é preciso oferecer à criança bons livros – como clássicos, criados por autores de referência e que apresentem temas significativos.
Para introduzir a leitura para bebês e cativar desde cedo os futuros leitores, o mais importante, explica a professora, é a interação do adulto leitor com o bebê. O adulto deve apresentar livros com muita imagem e pouco texto, poucas páginas e fácil manuseio. Para ler, o adulto deve posicionar o bebê no colo, colocando-o de frente para as grandes imagens e acompanhando o movimento do virar a página. Ao narrar, o adulto deve investir em sons e interpretações que tornem a experiência divertida. Veja aqui dicas para ensinar a gostar de ler.
Depois de mais velha, a criança já pode começar a escolher suas leituras, mas sempre orientada e conduzida pelos familiares ou professores. A classificação por faixa etária vai depender do repertório da criança. “A variedade de gêneros é fundamental”, opina a professora (veja, abaixo, uma seleção de livros indicados pela docente).
Na escola
O Grupo de Estudos em Leitura Literária, da Faculdade de Educação da UFPel, tem um trabalho forte na formação dos pedagogos e na atuação junto a educandários do município. Um dos exemplos é a biblioteca da Escola Estadual Fernando Treptow, no bairro Fragata. Com um acervo de cerca de 4 mil títulos, o espaço, inaugurado no final de 2016, recebe ações promovidas pelos professores da Escola e pelo GELL. Os estudantes da UFPel vestem-se como personagens para conquistar ainda mais a atenção da turma. “Nosso público tem pouco acesso à leitura. Aqui fornecemos esse material rico que é uma oportunidade para conhecerem autores e conteúdos bons para a formação do gosto leitor, com o apoio da professora Cristina”, opina a vice-diretora Roberta Bohns.
Para gostar de ler
Fãs de livros como Diário de Um Banana, Turma da Mônica Jovem, histórias de terror, de príncipes, princesas e magia, as crianças da Escola Fernando Treptow estão fisgadas pela leitura. “Com a leitura, aprendemos muitas coisas”, conta Miguel Souza, 12 anos.
“Adorei. As meninas podem fazer tudo o que quiserem. Podem fazer esportes, ser donas de empresa…”. Foi a avaliação de Estefani Lameirão, 9 anos, após ler o livro “Coisas de Meninas”.
A mãe de Estefani, a diarista Maria Tatiane da Rosa, 36 anos, conta que a família incentiva a leitura, em especial frente à influência muitas vezes negativa exercida pela televisão e pela Internet. “Escolhemos os livros para ela e assim temos mais controle do conteúdo adequado, ficamos tranquilos. A criança continua sendo criança”, conta. Para a mãe, o acesso à literatura além de tudo é educativo. “Hoje em dia, do jeito que o mundo está, nada melhor do que a leitura”, avalia.
Para ter na estante
A professora Cristina Rosa reuniu um grupo de livros que são boas opções para familiares e educadores oferecerem às crianças.
Clássicos
Imprescindíveis em qualquer acervo.
– Contos de Fadas de Perrault, Grimm, Andersen e outros
– As Aventuras de Pinóquio (Carlo Collodi)
– Os Três Porquinhos Pobres (Erico Verissimo)
Antologias
Reuniões de contos, poemas e canções. O investimento é baixo – uma obra contém centenas de textos. É preciso observar que o organizador da obra seja uma pessoa de referência.
– Poemas que Escolhi para as Crianças (Ruth Rocha)
– Canções, Parlendas, Quadrinhas, para Crianças Novinhas (Ruth Rocha)
Livros para Aprender a Pensar
Com expoentes especialmente nas décadas de 80 e 90, os livros infantis dessa categoria caracterizam-se por parecerem histórias simples, mas que se complexificam e oportunizam refletir sobre variados assuntos. São metáforas para ensinar crianças a pensar.
– Gato que Pulava em Sapato (Fernanda Lopes de Almeida)
– Maria vai com as Outras (Sylvia Orthof)
– A Zeropeia (Herbert de Souza – Betinho)
– Nós (Eva Furnari)
Versões de clássicos
Livros que se utilizam das histórias clássicas para contar outras, com diferentes enfoques.
– O Lobo Não Morde (Emily Gravett)
– Chapeuzinho Vermelho (Rosinha)
– De Fora da Arca (Ana Maria Machado)
Livros sobre Questões Afro
Obras literárias e afirmativas que destacam a cultura, os temas e as cores da cultura negra.
– Abecedário Afro de Poesia (Silvio Costa)
– A Menina Transparente (Elisa Lucinda)
– O Cabelo de Lelê (Valéria Belém)
– Como as Histórias se Espalharam pelo Mundo (Rogério Andrade Barbosa)
Livros do Século 21
Criados por autores contemporâneos, valorizam não apenas a narrativa escrita, mas o projeto gráfico e ilustrações – que também contam a história.
– Lulu (Fabrício Carpinejar)
– Cultura (Arnaldo Antunes)
– A Raiva (Blandina Franco e José Carlos Lollo)
Para Bebês
Opções que destacam a imagem para atrair a atenção dos bebês. Devem ser lidos pelo adulto, com o bebê no colo, para que ele comece a se familiarizar com a utilização do livro como artefato cultural. Não se engane: livros de plástico ou pano apenas para serem deixados como brinquedo não farão com que o bebê se acostume ao livro, a menos que o adulto mostre como ele funciona.
– Adivinhe se Puder (Eva Furnari)
– Assim Assado (Eva Furnari)
– Gato que Pulava em Sapato (Fernanda Lopes de Almeida)