Mesa-redonda discute papéis da mulher
As celebrações e as lutas encampadas pelo Dia Internacional da Mulher, estabelecido como o dia 8 de março, tiveram espaço para exposição e debate na última quinta-feira (9) durante a realização da mesa-redonda “Mulheres em Pauta”, evento promovido pelo Núcleo de Gênero e Diversidade da Universidade Federal de Pelotas. Entre as debatedoras, esteve a deputada estadual Manuela D’Ávila, que, junto à chefe do Núcleo, Eliane Pardo, e a representante do Grupo Auto-Organizado de Mulheres da UFPel Rejane Jardim, trouxeram diversos dados e vivências sobre tal luta.
Apesar de ter aberto protocolarmente a sessão, o reitor Pedro Curi Hallal fez questão de repassar a presidência dos trabalhos à professora Fabiane Tejada, concorrente à última consulta à comunidade para a escolha de reitoria. Antes de realizar tal ato, porém, Hallal definiu o debate como um momento marcante e histórico: “Dar a devida institucionalização às pautas de gênero é um passo para recuperarmos esse passivo histórico”.
Assumindo a condução da sessão, Fabiane destacou a importância em se marcar a importância desse período. “Dia da Mulher é dia de luta e reivindicação, não de festas e homenagens”, afirmou. A presidente da mesa personificou a necessidade dessa luta na professora Cláudia Hartleben, uma vítima próxima à comunidade da UFPel: “Ela foi como tantas outras mulheres, que morrem, desaparecem e não têm justiça”.
Ela ainda frisou que um debate sobre o papel da mulher é fundamental dentro da universidade, ambiente que, segundo ela, ainda é muito machista: Fabiane exemplificou com o fato de que as mulheres são constantemente desafiadas quando ocupam cargos. “Temos que estar em todos os espaços marcando nossa presença”, finalizou.
A universidade como espaço para discutir as relações
Abrindo as falas da manhã, a deputada Manuela D’Ávila expressou sua alegria em vir novamente a Pelotas, lugar, que segundo ela, pelo qual nutre muitas lembranças boas.
A parlamentar iniciou destacando a necessidade de se fazer política nos símbolos, tais como jovens ocupando cargos de destaque, como a reitoria, em uma menção a Curi Hallal, ou a própria Assembleia Legislativa ou o Congresso Nacional. “Temos capacidade de tomar decisões e estar a frente das organizações”, disse. Outro símbolo seria a composição da mesa-redonda, formada somente por mulheres. “Temos que enfrentar essa cultura simbólica”, afirmou, ao citar que se lembra de muitos eventos como esse onde a composição da mesa era apenas masculina.
Logo a seguir, Manuela realizou um questionamento para guiar o restante de sua fala. “O que é ser mulher nos espaços de poder?”, indagou. Ela definiu tais locais como opressivos à presença da mulher, o que culmina com a ausência feminina no momento das grandes decisões. Para a deputada,atitudes como a da UFPel, em promover debates desse tipo, são muito importantes, pois despertam a sociedade para a mudança: “A universidade é um espaço mágico, pois é o lugar onde se faz o conhecimento. Se esse ambiente não entende a realidade da mulher, perde um pouco da sua capacidade transformadora”.
Prosseguindo, ela destacou a questão da violência contra a mulher, especialmente a doméstica, a qual ela considera sórdida, pelo agravante de que ela é praticada por quem a mulher coloca o seu afeto e confiança. “A universidade tem que ser um espaço para provocar essa mudança”, relacionou. No entanto, até chegar à violência física, há diversas camadas de violência simbólica, ela explicou.
Para tanto, Manuela realizou diversas provocações sobre o papel da universidade e a forma com a qual as mulheres são tratadas em seu ambiente. Entre as inquietações levantadas por ela, estão a necessidade em se contar mais a história de mulheres na ciência e o fato de que elas são a grande mão de obra dos laboratórios, mas que as láureas são recebidas pelos homens que os coordenam. Outra temática é o machismo perpetuado em sala de aula: “Temos que enxergar que há assédio nesse ambiente”.
Próxima a tomar a palavra, a representante do Grupo Auto-Organizado de Mulheres da UFPel, Rejane Jardim, realizou sua fala a partir da questão das problemáticas geradas ao entorno da escadaria do Campus das Ciências Sociais, onde estão localizados o Instituto de Ciências Humanas, o Instituto de Filosofia, Sociologia e Política e a Faculdade de Educação. O local foi alvo de diversos protestos, devido a denúncias de assédio, até a sua reinauguração, quando os vãos que permitiam a visualização das mulheres que a subiam foram fechados.
“A universidade é uma organização que herda a mentalidade do sujeito masculino como centro”, disse. Segundo Rejane, se esses conceitos não forem mexidos, não será possível desconstruir esse machismo.
A docente se disse surpreendida pela grande quantidade de grupos organizados de mulheres em Pelotas, que abrigou um dos primeiros Conselhos Municipais da Mulher do país e uma das primeiras delegacias da mulher.
Já a chefe do Núcleo de Gênero e Diversidade, Eliane Pardo, realizou uma breve explicação do trabalho do recém-criado núcleo. Segundo a docente da ESEF, essa é a primeira iniciativa desse tipo junto às universidades federais que esteja ligada diretamente à reitoria.
Ela enumerou algumas bandeiras que serão levantadas pelo trabalho do núcleo, tais como o diagnóstico das relações dentro da Universidade, a comunicação e ações curriculares. “Queremos uma universidade mais generosa”, pontuou.
Logo após a fala das mulheres da mesa, foi aberta a discussão. Foram levantadas pautas como a inclusão das terceirizadas que trabalham na UFPel dentro dos debates de gênero e também sugerida a reserva de 50% dos cargos de chefia para mulheres.