Um dia para celebrar a leitura
A Semana é para comemorar não somente os Dias da Criança e da Padroeira do Brasil. A data de 12 de outubro é também dedicada ao Dia Nacional da Leitura. O Dia foi instituído pela Lei 11.899/09 com o intuito de incentivar o hábito da leitura principalmente entre crianças e adolescentes.
Segundo dados do IBGE, cerca de 31,3 milhões de brasileiros (24% da população), não têm o hábito ou não gostam de ler. Entretanto, para a professora Eliane Peres, coordenadora do projeto Hisales, projeto de investigação integrado sobre História da Alfabetização, Leitura, Escrita e dos Livros Escolares, embora exista um discurso alarmista de que “brasileiro não lê”, O número de leitores e de produção de livros vem crescendo anos após anos no Brasil.
“Estudos mostram que nossas crianças e jovens gostam sim de ler e leem diferentes gêneros e em diferentes suportes, inclusive virtual. Além disso, o sucesso das muitas sagas literárias no Brasil, que tanto agradam o público infanto-juvenil é um indicador das práticas de leitura literária dos jovens brasileiros, ” afirma a professora.
Ela diz também que este é um fenômeno sociológico a ser observado e compreendido e que é preciso avançar diante dos desafios que ainda se apresentam, tanto no âmbito da alfabetização das crianças quanto às práticas de leitura.
“É necessário compreender de uma vez por todas que é preciso democratizar o acesso ao livro e à leitura como parte de um projeto mais amplo de acesso à cultura, aos bens culturais, à toda população do país”, diz.
O Hisales trabalha com três eixos principais de pesquisa: Estudos Sobre História da Alfabetização, Pesquisas Sobre Práticas Escolares e Não-Escolares de Leitura e Escrita (Práticas De Letramentos) e Livros Escolares Produzidos no Rio Grande Do Sul.
Segundo a coordenadora do projeto “o trabalho tem procurado contribuir de diferentes formas nesse campo da leitura. Primeiro, constituindo-se como um centro de memória da história da alfabetização no Estado. Como as professoras têm inserido as crianças na cultura escrita, tem sido o mote de nosso acervo de cartilhas, de cadernos e de materiais didáticos. Guardamos e pesquisamos isso que para nós é um patrimônio cultural. Um país precisa guardar também a memória de como suas crianças têm, historicamente, aprendido a ler e a escrever. Segundo, desenvolvendo pesquisas em nível de pós-graduação que tomam a leitura literária como objeto de investigação, desde a educação infantil até a Universidade, quando se trata da escola, ou desde a primeira infância até o fim da vida, quando investigamos leitura e escrita na vida cotidiana. Os resultados dessas pesquisas têm ido justamente na direção contrária ao discurso alarmista de que os adolescentes e jovens não leem e não gostam de ler”.
O Hisales mantém também projetos de extensão que trabalham com formação de professores e democratização do acesso ao livro e a leitura, como pro exemplo, o projeto Estação do Livro, que prevê várias ações: disponibilização, no saguão da FaE, de livros literários para os alunos da Universidade e da comunidade em geral, distribuição de livros infantis em escolas de Pelotas, Troca-troca de livros, entre outros.
São ações modestas, diz a professora Eliane, mas que somadas a outras iniciativas tanto públicas, quanto privadas poderão contribuir naquela que é uma tarefa de todos nós: a formação humana.
Em um dia como este, o da leitura, em que muitos devem se perguntar por que ou para que a leitura é importante, a professora, diante de tantas respostas prontas que a sociedade já conhece, acredita que “a leitura literária é importante em nossas vidas porque nos forma gente, nos faz humanos, permite desenvolver aquilo que nos constitui como sujeitos, o imaginário. Permite que lidemos com todas as emoções que experimentamos na vida, as dores, os dissabores, as mágoas, as perdas, as frustrações, as euforias, as conquistas, as alegrias, as pequenas vitórias cotidianas.A leitura literária é fundamentalmente uma experiência estética em que não só o belo e o prazer têm lugar, mas, também, o incômodo e o desconforto, que são fundamentais na construção da nossa subjetividade.”, observa Eliane.
“Entre tantas coisas a serem ditas, quero dizer que a leitura e o ato de ler não salvam o mundo, mas ajudam a construir pessoas mais tolerantes, compreensivas, justas, que se identificam com a dor, com as injustiças, as intolerâncias, os preconceitos”, finaliza.