UFPel realiza Seminário Internacional sobre Maus-Tratos Emocionais
Quando uma mulher escuta uma frase desabonadora sobre seu trabalho ou aparência, ou quando uma criança deixa de receber carinho e atenção, se materializa uma crueldade ainda tida como invisível. Os maus-tratos emocionais – em seus aspectos sociais, jurídicos e educativos – são o tema principal do 1º Seminário Internacional sobre o assunto, promovido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O encontro iniciou na manhã desta sexta-feira (10) e prosseguiu durante a tarde, na Bibliotheca Pública Pelotense.
O evento buscava a discussão da problemática no contexto hispano-brasileiro. A intenção era promover o debate sobre as diversas formas de violência, em especial maus-tratos emocionais contra mulheres e crianças.
A realização do Seminário é um dos compromissos da pesquisa Violências de Gênero, Amor Romântico e Famílias: entre idealizações e invisibilidades, os maus-tratos emocionais e a morte, que está sendo realizada entre universidades do Rio Grande do Sul – entre elas a UFPel – e a Universidade de Extremadura, na Espanha.
Os pesquisadores Carmen Galet e Francisco Javier Duran, que já possuem alguns dados do contexto hispânico, apresentaram as informações aos presentes.
A conferência de abertura teve a participação da diretora presidente do Núcleo de Atenção à Criança e ao Adolescente (NACA), Gisele Scobernatti, do juiz do Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Pelotas, Christian Karam da Conceição, e da titular da Delegacia da Mulher, delegada Lisiane Mattarredona. “É uma das formas de violência mais difíceis de identificar. Há uma carência de estudos e pesquisas na área. Falta a construção de ferramentas para o enfrentamento. O momento parece ser de um grande avanço para tirar o tema da clandestinidade”, afirmou Gisele.
A pesquisa
Atualmente, pesquisadores da Faculdade de Educação envolvidos no estudo estão trabalhando na finalização do questionário que será aplicado a estudantes do último semestre dos cursos de Pedagogia e Psicologia, geralmente em sua maioria compostos por mulheres. A intenção é que os dados estejam compilados até o fim do ano. A pesquisa em Pelotas será coordenada pela UFPel e pelo Campus Pelotas – Visconde da Graça do Instituto Federal Sul-Rio-Grandense (IF-Sul).
De acordo com a professora Cristina Rosa, integrante do grupo de pesquisa e uma das organizadoras do Seminário, os resultados da pesquisa deverão alertar a sociedade sobre a problemática e originar um protocolo para que as delegacias tenham um instrumento que ajude na identificação dos casos. “Queremos mostrar que este fenômeno existe e pode ser evidenciado. A pessoa não fica com marcas físicas, mas um comentário que desabone a pessoa como sujeito fica calando fundo nela”, pontuou.
Conforme a professora, a luz jogada sobre o tema permitirá que ele seja entendido, conceituado e combatido. “No futuro, maus-tratos emocionais poderão ser denunciados. Estamos fazendo uma prévia do futuro”, projetou.
Formas de maus-tratos emocionais
Os maus-tratos emocionais podem ocorrer por ação ou omissão. No caso das crianças, por exemplo, ausência de atenção, carinho e proteção configuram omissão. Depreciações, xingamentos, humilhações e ameaças são maus-tratos ativos. Ações e omissões recorrentes vão refletir na construção da identidade e acompanhar a pessoa pelo resto da vida.
No caso das mulheres, por exemplo, comentários depreciativos, que desabonam sua profissão, sua aparência, competência ou escolhas – inclusive com uma mensagem pretensamente positiva, mas cujo tom de voz revela o contrário – caracterizam o problema.