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Doutorando defende tese sobre fatores que influenciam a gordura abdominal

Defesa de tese do PPG em Epidemiologia

Título: Gordura abdominal subcutânea e visceral aos 30 anos: caracterização determinantes:  Coorte de Nascimentos de 1982, Pelotas, Brasil

Apresentador: Giovanny Araújo França

Orientador: Cesar Victora

Banca: John Yudkin (Univ. Londres), Sandra Fuchs (UFRGS) e Denise Gigante (UFPel).

Data: 06/08/2014

Hora: 14h

Local: Auditório Kurt Kloetzel

Ancestralidade, nível socioeconômico e crescimento nos primeiros anos de vida influenciam a gordura abdominal na idade adulta

Você já deve ter ouvido falar que estar acima do peso faz mal à saúde. São consideradas obesas as pessoas que têm um excesso de gordura no corpo, tradicionalmente classificada a partir do índice de massa corporal. Estudos recentes mostram que não só a obesidade prejudica a saúde. Pessoas com uma cintura aumentada (mais 80 cm para as mulheres e mais de 94 cm para os homens) também apresentam maior risco de ter doenças do coração e diabetes. A cintura aumentada é devida basicamente ao acumulo de gordura. Esta gordura acumulada pode ser dividida em duas partes: a gordura subcutânea é aquela que se localiza logo abaixo da pele, enquanto a gordura visceral encontra‐se dentro do abdômen. Para medir essa gordura visceral são necessários métodos modernos, como o ultrassom, que permitem visualizar o interior do abdômen.

Uma pesquisa realizada pelo Programa de Pós‐Graduação em Epidemiologia da UFPel avaliou a gordura abdominal utilizando o ultrassom em 3.493 participantes da coorte de nascimentos de Pelotas de 1982, um estudo que acompanha pessoas nascidas em Pelotas e que completaram 30 anos em 2012. O estudo foi realizado pelo doutorando em Epidemiologia, Giovanny França, sob orientação do Dr. Cesar Victora. A pesquisa contou, ainda, com a participação de professores de duas instituições inglesas: a Universidade de Cambridge e a University College London.

O estudo mostrou que homens tinham maior quantidade de gordura visceral (aquela ao redor dos órgãos) e que as mulheres tinham mais gordura subcutânea (que fica logo abaixo da pele). Observou‐se que alguns participantes apresentavam uma espessura bastante aumentada de gordura visceral, chegando a 16 cm entre os homens.

O estudo avaliou a relação entre a gordura abdominal e duas características: a ancestralidade e o nível socioeconômico. O Brasil tem uma população bastante misturada e a cor da pele, na maioria das vezes, não é suficiente para dizer sobre a ancestralidade dos indivíduos. Por isso, a pesquisa se valeu de outro recurso: a genética. Os genes contêm a informação hereditária (que passa dos pais para os filhos) de cada indivíduo, que está codificada em seu DNA. A partir da coleta de sangue, foi possível estimar a origem de cada indivíduo, identificando a proporção de genes que eram característicos de três populações específicas: africana, europeia e americanos nativos (índios). A pesquisa mostrou que aqueles participantes com ancestralidade predominantemente africana tiveram menor quantidade de gordura visceral e subcutânea, particularmente entre os homens. Além disso, aqueles com nível de escolaridade mais elevado tinham menos gordura visceral em ambos os sexos.

Outro foco do trabalho foi a relação entre a gordura abdominal na idade adulta e o crescimento dentro do útero e nos primeiros anos de vida. O estudo mostrou que crianças que não cresceram adequadamente durante a gravidez, e também aquelas que ganharam muito peso após a idade de dois anos de vida tinham mais gordura abdominal na idade adulta. Esses resultados reforçam a importância de nascer com peso adequado e os malefícios de ganhar muito peso nos primeiros anos de vida.

De modo geral, o estudo mostrou a ancestralidade e a escolaridade estão relacionadas com o acúmulo de gordura abdominal. Além disso, o crescimento durante a gravidez e nos primeiros anos de vida parece ter influência em longo prazo, influenciando a distribuição de gordura na idade adulta. Assim, é importante que esses fatores, precoces e contemporâneos, sejam considerados na elaboração de políticas de saúde pública, de modo a prevenir a obesidade visceral e, assim, reduzir riscos à saúde.

 

Publicado em 25/07/2014, na categoria Notícias.