Ciclo de discussões: transformações nas relações de gênero são tema
Dando prosseguimento ao ciclo de discussões da edição 2013 do CIC/ENPOS UFPel, a tarde desta quinta-feira (21) foi oportunidade para que fossem debatidas as transformações ocorridas nas relações de gênero nos últimos anos. Para ilustrar o tema, foram convidadas as professoras Joana Maria Pedro, pró-reitora de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Jurema Brittes, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Igualdade
A discussão começou com a palestra da professora Joana, que abordou alguns fatos atuais e históricos da atuação da mulher em diversos círculos sociais. “Queremos igualdade, mas como estamos nesse caminho?”, questionou. Para exemplificar, a pró-reitora trouxe dados estatísticos que mostram a presença da mulher em diversos campos da sociedade, como o mercado de trabalho, a universidade, a política e os espaços de poder.
Para exemplificar, Joana usou a grande presença feminina nos cursos superiores: 55,8% dos ingressantes e 61,1% dos concluintes são mulheres. No entanto, a sua participação ainda se dá em cursos das áreas humanas, sociais, da educação e da saúde; enquanto isso, os homens dominam as ciências exatas, agrárias, da terra e engenharias. Segundo a professora, essas escolhas se dão também por práticas familiares e culturais, que dirigem as escolhas dos rapazes e moças para cursos que seriam mais voltados para um ou outro sexo.
Por isso, ela diz que muitas pessoas lutam contra as diferenças de gênero, pois não deveriam haver diferenças. “Se alguma mulher estiver concorrendo a algum cargo e vier pedir o voto, dizendo que é melhor que qualquer homem, não acredite”, afirmou a pró-reitora, ao explicar que ela não pode dizer que é melhor apenas por ser mulher.
Trabalho
Logo em seguida, a palavra foi passada para a professora Jurema, que especificou algumas relações no mercado de trabalho. Ela abordou quatro eixos: a feminilização do trabalho, o mercado de trabalho e o gênero, as profissões de prestígio e precariedade e o trabalho doméstico.
Segundo a professora, a partir dos anos 1960 houve a impulsão da presença da mulher em círculos sociais antes completamente dominados pelos homens. Desde então há uma reestruturação ideológica, social e prática. Um exemplo é a predominância feminina em uma profissão de prestígio, como a Medicina: 54% dos profissionais médicos são mulheres.
No entanto, as profissões mais exercidas por mulheres ainda são a de trabalhadora doméstica (17% das mulheres), comerciárias (16,8%) e profissionais de educação básica, saúde e serviço social (16,7%). Uma relação estabelecida por Jurema é justamente que essas profissões repetem as atividades de cuidado que as mulheres sempre exerceram nos seus lares.
Um ponto explorado pela professora da UFSM, que é foco das suas pesquisas, foi o das relações entre as trabalhadoras domésticas e as famílias que as acolhem. São mais de nove milhões delas no Brasil, cada vez em menor número e maior idade. Jurema explicou que um ponto peculiar dessa relação de trabalho é a ambiguidade afetiva ocorrida, quando, mesmo que a trabalhadora deseje seus direitos, muitas vezes não os exige pelo carinho que sente pela família que a emprega.
Para regularizar essa situação, segundo a professora, é necessário uma politização das relações íntimas, não apenas entre empregadores e trabalhadoras domésticas, mas também entre os próprios membros da família, de forma a determinar os papeis e atividades de cada um.