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Cidade e Campo em análise no Ciclo de Palestras

DSC00966Cidades dominadas pelos carros. Vidas no campo transformadas pelas políticas públicas. O terceiro dia de palestras do Ciclo realizado dentro do CIC (Congresso de Iniciação Científica), do Enpos (Encontro de Pós-Graduação) e que serve de formação para a Constituinte Universitária foi marcado pela análise das transformações, históricas e atuais, ocorridas nos meios urbano e rural. Os professores Cristóvão Duarte, da UFRJ, e Ivaldo Gehlen, da UFRGS, falaram sobre as mudanças na cidade e no campo, respectivamente.

DSC00975O pesquisador carioca fez sua análise sobre o Devir Urbano a partir da obra do filósofo e sociólogo francês Henri Lefebvre e seu método regressivo/progressivo. Apresentou as três fases da história urbana segundo Lefebvre, a agrária, a industrial e urbana propriamente dita.

Sobre a primeira etapa, disse que neste período começa a transformação da paisagem natural em arquitetônica, que surge um prenúncio da civilização urbana e referiu-se à sociedade romana, ao feudalismo e às cidades medievais e comerciais, que marcaram o fim da fase agrária.

A aceleração das forças produtivas, a hierarquização e homogeneização dos espaços são características das cidades da fase industrial, cujo modelo de vida foi retratado no filme “Tempos Modernos”, como lembrou Duarte. “É este período que marca a chegada do carro ao cenário urbano, o que exige toda uma transformação deste meio. Com o tempo, este veículo acaba por se tornar um vetor de uma lógica extremamente violenta”, afirmou o professor da UFRJ.

A terceira e última etapa, a urbana, segundo Lefebvre, frisou Duarte, é a fase do espaço diferencial , onde é dado o direito à diferença e o que permite o encontro com o outro. O professor mostrou imagens de cidades do mundo atual e as analisou, dedicando uma atenção especial às favelas do Rio de Janeiro, campo de seus estudos. “Podemos dizer que as favelas são as Cidades dos Homens e o asfalto é a Cidade das Máquinas”, observou, construindo uma figura de linguagem que se justifica, na visão do pesquisador, pelo fato de nos morros haver uma maior convivência social e que nos bairros mais ricos e no centro da cidade o que domina é a frieza e violência do trânsito e a impessoalidade.

Campo
DSC01015Gehlen classificou as transformações no meio rural em mudanças de paradigmas, da leitura da realidade e dos atores sociais e de sua mobilidade social. Como exemplo de mudança de paradigma, fez menção à ruptura do dualismo entre agricultura familiar e capitalismo, levando em conta a fatia ocupada hoje pelo segmento familiar na produção primária nacional.

A leitura da realidade no meio rural também se transforma, fazendo migrar a relevância dos dados a serem levantados. Assim, hoje o que importa, conforme o pesquisador da UFRGS, é a ocupação, e não a residência, a profissão, e não o nome, e a relativização social, ambiental e cultural, e não mais o fator econômico como determinante. “Tudo isso para, a partir destas informações, construir as políticas públicas”, ressaltou.

Os atores sociais, disse Gehlen, sofrem uma profunda transformação já há décadas. Enquanto há grupos que perdem prestígio, outros crescem e têm afirmação e terceiros estão estabilizados.

Indígenas, quilombolas, ribeirinhos, populações de rua e coletadores, pela ação das políticas públicas especiais, ganham afirmação e sobem na escala da mobilidade social. Outros grupos rurais bastante significativos, como os jovens, as mulheres e os idosos do campo, ainda aguardam por políticas específicas e por isso, de acordo com o professor da UFGRS, perdem espaços.

Gehlen mostrou imagens, mapas e gráficos sobre as migrações dentro do país e estudos demográficos de gênero no Rio Grande do Sul, que revelaram uma masculinização do meio rural gaúcho. As mulheres, ainda jovens, têm deixado o campo e assim surge um desequilíbrio de gênero neste meio.

SOBRE OS PALESTRANTES

Cristóvão Duarte
Professor adjunto do Departamento de Urbanismo e Meio Ambiente e do Programa de Pós-Graduação em Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Doutor em Planejamento Urbano e Regional e mestre em Urbanismo pela UFRJ. Foi técnico e Superintendente Regional do IPHAN para os estados do Pará e Amapá. Autor dos livros Forma e Movimento e Favela&Cidade. Mantém blog com textos e vídeos sobre a cidade contemporânea: http://cristovao1.wordpress.com/.

Ivaldo Gehlen
Professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutor em Sociologia pela Universidade de Paris e mestre em Sociologia pela UFRGS. Estudos com ênfase em sociologia rural, sobretudo agricultura familiar, atores sociais e formas sociais de uso da terra, desigualdades e diferenciação sociais. Atuação e assessoria em movimentos sociais, reforma agrária, assentamentos rurais, desigualdade e formação social do meio rural.

Publicado em 21/11/2013, na categoria Notícias.
Marcado com as tags CIC 2013, ENPOS 2013, Palestra, Urbanismo.