Prematuridade e cesariana atingem níveis epidêmicos no Brasil
Com base em revisão metodológica sobre dados de banco nacional, novas estimativas apontam nascimento prematuro de 11,8% dos bebês brasileiros e ocorrência de 54% de partos cirúrgicos em 2011 no país.
No Brasil, mais de 11% dos bebês nascem prematuros, e 54% dos partos são cesarianas.Os números representam grave potencial de impacto em saúde pública. O nascimento prematuro – anterior a 37 semanas de gestação – é a causa de mais da metade (50%) de todas as mortes infantis no país, além de acarretar consequências tardias à saúde, como déficits de estatura e de na escolaridade na vida adulta. Com a mais alta taxa de cesarianas do mundo – de 54% contra a de 15% recomendada pela Organização Mundial de Saúde para as nações -, aumentam as chances de ocorrência das chamadas “cesáreas eletivas”, caso em que a gestante não chega a entrar em trabalho de parto e se agenda o nascimento do bebê, que nasce prematuramente.
Os dados provêm de estudo do Ministério da Saúde em parceria com a UNICEF Brasil, coordenado pelo Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (RS). Para avaliar a frequência de nascimentos prematuros no Brasil, pesquisadores de doze universidades brasileiras desenvolveram novo método, que aplica à base de dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC) um fator de correção derivado de pesquisas brasileiras de alta precisão.
Abrangendo dados de 2000 a 2011,a análise das informações relativas a mais de35 mil nascimentos no período revela que11,8% das crianças nasceram prematuras em 2011 no Brasil, o que representa acréscimo de 15% sobre a estimativa oficial do SINASC para o mesmo ano. Segundo as estimativas corrigidas, a prevalência de prematuridade no Brasil apresenta discreto aumento ao longo da década (de 11,2% em 2000 para 11,8% em 2011), ao contrário do que seria esperado em um país no qual a maioria dos indicadores de saúde materno-infantil, como níveis de subnutrição materna e cobertura pré-natal, apresentam melhorias significativas no mesmo período.Uma das principais causas evitáveis de prematuridade é o fumo materno durante a gravidez. Estudos nacionais mostram que cerca de 15% das brasileiras são fumantes.
Os estados que apresentam as maiores taxas de frequência de prematuridade sãoDistrito Federal (13,0%), Minas Gerais (12,9%), São Paulo (12,7%), Rio de Janeiro (12,5%) e Rio Grande do Sul (12,5%), justamente alguns dos mais desenvolvidos do ponto de vista socioeconômico no país. As mais baixas frequências foram observadas em Rondônia e Tocantins.
As taxas nacionais de baixo peso ao nascer têm permanecido ao redor de 8% desde 2000, apresentando discreta tendência ascendente, com as maiores prevalências nas regiões Sul e Sudeste, e as menores, nas regiões Norte e Nordeste. As estimativas confirmam o fenômeno já descrito anteriormente por pesquisadores brasileiros como o “paradoxo do baixo peso ao nascer”, em que as regiões mais desenvolvidas do ponto de vista socioeconômico apresentam os índices mais altos.
O levantamento das taxas de cesáreas revela o salto de 38% de todos os partos em 2000 para 54% em 2011. As mais altas taxas são observadas nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, e as mais baixas nas regiões Norte e Nordeste. A Organização Mundial da Saúde recomenda taxas não superiores a 15%, e o excesso de cesarianas aumenta a mortalidade de mães e de crianças.
Diversas análises foram realizadas para investigar se as altas taxas de cesarianas poderiam ser responsáveis pelos elevados níveis de prematuridade e de baixo peso ao nascer. As tendências em partos cesáreos não explicam a variação regional nos indicadores de peso ao nascer e de nascimentos pré-termo, nem tampouco suas tendências ao longo do tempo. Algumas análises mostram associações significativas entre cesáreas e estes desfechos, mas outras sugerem que não existe uma relação de causa e efeito. São necessários estudos mais detalhados para elucidar a questão.